É inegável que a ciência fez uma
grande evolução nos últimos anos. Todavia, também é inegável que apesar do
cientificismo e do ateísmo (por consequência ou por ignorância?), o homem não
encontra a felicidade em si mesmo. Por mais que se transforme o mundo
deixando-o Deus, este mundo permanece vazio de sentido. O conhecimento
científico não tem trazido a felicidade ao homem.
Por
outro lado, o avanço científico tem seu lado positivo. Avanços daqui e dali, e
sempre há o questionamento sobre a existência ou não de Deus. Questionamentos
estes que obtém a resposta: Deus está vivo! Pelo próprio conhecimento
científico o homem é capaz de chegar ao conhecimento da existência de Deus. As
cinco vias de Santo Tomás de Aquino para se chegar ao conhecimento da
existência de Deus são irrefutáveis. Resumidamente, segundo o Doutor Angélico,
podemos provar a existência de Deus pelas vias:
a)
Do
movimento: o movimento existe e é uma evidência para nossos
sentidos. Tudo aquilo que se move é movido por outro motor; e esse motor, por
sua vez, é movido, vai necessitar de um motor que o mova, e assim por diante de
forma infinita, o que é impossível, se não houver um primeiro motor imóvel, que
move sem ser movido, que é Deus.
b)
Da
Concatenação das Causas: tudo está sujeito à lei de causa e efeito.
Existe uma série de causas e efeitos ao mesmo tempo. Portanto, no início, tem
que ter tido uma causa primeira, não causada, que é Deus.
c)
Da
Contingência: todos os seres conhecidos são finitos, pois não
possuem em si próprios a razão de sua existência. São e deixam de ser. Se são
todos mortais, em um prazo de tempo deixariam de ser e nada mais existiria, o
que é absurdo. Portanto, os seres contingentes implicam o ser necessário, ou
seja, Deus.
d)
Dos Graus
de Perfeição: todas as perfeições possuem graus, que se
aproximam mais ou menos da perfeição absoluta. Deve, pois, haver um ser supremo
perfeito, que é Deus.
e)
A da
Ordem Universal: todos os seres tendem para uma ordem, não de forma
aleatória, mas por uma inteligência que os guia. Isso significa que há um ser
inteligente que ordena a natureza e a impulsiona para seu fim. Esse ente é
Deus.
Se
tivermos o mínimo de honestidade intelectual e comprometimento para uma real
reflexão, investigação, poderemos constatar que S. Tomás está certo. Deus é
invisível, porém, deixou seus rastros, ou seja, sinais na própria natureza que
faz com que o ser humano, pelo uso da razão, possa encontra-lo. Pela corrupção,
pelo pecado, ou até mesmo pela má vontade, muitos não acham ou não querem
admitir, mas a razão – até mesmo com o reforço da iluminação divina – nos faz
conhecer a Deus, nosso criador.
Embora as cinco vias seja um assunto
interessante para abordarmos, citei-a a título de conhecimento caso algum
leitor a desconhecesse. O problema que quero abordar é o seguinte: o sujeito,
conhecendo as vias de S. Tomás ou não, admite em certo grau a existência de
Deus, porém, logo revoga esta admissão ao questionar: nós viemos de Deus, mas
de onde veio Deus? Ou mesmo: o que Deus fazia antes de criar o mundo? O
problema, portanto, não está em o homem ser capaz ou não de conhecer a Deus,
mas sim em admitir esta verdade. Manifesta-se verdadeira, portanto, a afirmação
de Pio XII:
A
inteligência humana, na aquisição destas verdades, encontra dificuldades tanto
por parte dos sentidos e da imaginação como por parte das más inclinações,
provenientes do pecado original. Donde vemos que os homens, em tais questões, facilmente procuram persuadir-se de que
seja falso ou ao menos duvidoso aquilo que não desejam que seja verdadeiro.
(Pio XII Encíclica Humani generis: DS
3878)
Negar a existência de Deus,
somente porque não se pode dizer do que Deus fazia ou deixava de fazer antes da
criação, é, no mínimo, orgulho. Os ateus acreditam que nós, o planeta Terra, o
universo, veio do nada; porém, vimos que podemos ver os sinais de Deus na
própria criação, deixando claro que esta não pode existir sem sua causa inicial
que é Deus. Mas este mesmo ateu, não aceita a existência de Deus porque este não
pode vim do nada. Aliás, é verdade, Ele não veio de lugar algum, pois Ele é por
Ele mesmo; Deus é Criador, não criatura.
Quando
nós afirmamos a existência de Deus e apresentamos as cinco vias, ou outras
provas da existência de Deus (por exemplo: fenômenos que a ciência não consegue
explicar, como o milagre de Lanciano, corpos incorruptos, e a mística de S.
Padre Pio examinado por diversos médicos.), nós estamos apenas mostrando que há
um Deus, uma inteligência suprema que criou todas as coisas; nós não estamos
dizendo, todavia, o que é Deus. Investigue com sinceridade as cinco vias,
encontre a Deus; encontrando-o, vá você mesmo descobrir o que é Deus. Trocando
por miúdos: após raciocinar e admitir a existência de Deus, você tem que sair
do campo cientificismo e passar para a teologia. Caso contrário, você passará a
vida toda enxugando gelo: a ciência aponta para uma causa primeira, mas como
você quer provar a causa primeira pela ciência, nega que exista uma causa...
Poderá, desgraçadamente, terminar enlouquecendo, como muitos teóricos ateus que
são endeusados no mundo acadêmico, caso não rebaixe o orgulho e passe a estudar
quem é Deus em sua devida área de estudo.
Lembro-me
do Dr Enéas Carneiro, homem sábio, que dedicou boa parte da vida ao estudo. Era
médico, físico, matemático, e foi um profundo conhecedor das áreas de humanas.
Em um programa de televisão foi questionado se era ateu. Sua resposta foi
fantástica. Ele afirmou que em seus estudos, vendo a complexidade de que todas
as coisas são feitas, é IMPOSSÍVEL que não existe uma inteligência superior que
tenha feito tudo. Por fim, ele diz que admite que Deus existe, mas que não o
perguntassem “o que era Deus”, porque ele não era teólogo. Não êxito em afirmar
que Enéas Carneiro estudou mais do que a maioria dos professores universitários
brasileiros de hoje. No entanto, todo seu conhecimento científico, não o fez
negar a existência de Deus, mas pelo contrário, fez o conhecer a existência de
um ser que pensou todas as coisas para que estas tornassem-se reais. Já alguns
adolescentes, ainda no ensino médio ou fundamental, ainda bebendo leite com toddy
e comendo biscoito recheado enquanto assistem sessão da tarde, refutam categoricamente a existência de Deus,
embasando-se num filme passado na própria sessão
da tarde, confirmado depois num livrinho mequetrefe de um autor neoateu ou
em um blog de ateus. Quem estuda seriamente chega ao conhecimento de Deus. Mas,
quando se fica neste estudo “médio”, ralo, sem aprofundamento em busca da
verdade, nunca se chegará a uma refutação de fato. No fim a ciência – o ateu
admitindo ou não – grita por Deus; e o máximo que o estudante ralo pode refutar
é: nada a ver isso aí que tu falou. Vai
estudar.
Uma
vez que sabemos que Deus existe, devemos trata-lo como uma realidade da qual
sem ela nada mais seria real. Se toda causa tem um efeito, se existo, é porque
alguém existiu antes de mim, e este alguém é Deus. E quem é Deus? Deus é o Amor
universal. Deus é a bondade suprema, a inteligência maior. Deus é toda força
existente da qual força alguma existiria se não viesse dele como causa
primeira. Deus é o Criador de todas as coisas que existem, visíveis e
invisíveis, conhecidas e desconhecidas. É a fonte de toda vida. Ao contrário do
que os ateus acreditam, o mundo não veio do nada, veio de Deus; e Deus, sim,
fez o mundo “do nada”, ou seja, sem o auxílio de criatura ou matéria existente,
pois nada havia além dEle.
A
Sabedoria humana deveria se dar por satisfeita em Deus ser bom o suficiente de
se deixar encontrar, de se fazer conhecer, a tal ponto de até um ateu pelo seu
estudo poder encontra-lo. Toda busca de conhecimento de Deus, além da união com
Ele mediante a oração e a Eucaristia (mas isso é um assunto para as práticas de
vida cristã), não passa de vão orgulho, uma vez que é IMPOSSÍVEL o homem
conhecer a totalidade de Deus. O homem só pode conhecer a Deus na medida em que
este se revela ao homem. O homem pode pela ciência, pelo seu esforço, pela
sabedoria humana, ter o conhecimento de toda a criação, mas não do Criador. O
homem é capaz de conhecer as verdades contidas em outros planetas, porque são
criaturas, mas não pode conhecer a plenitude da essência do que é Deus, porque
este é Criador. Se a sua busca for por saber da existência de Deus, saiba, Ele
existe; agora se a sua busca for para saber o que é Deus, como se Deus tivesse
que mostrar uma self dEle antes de criar o mundo - no estilo facebookiano: Antes de criar o mundo x depois de criar o mundo – você está
perdendo seu tempo. Primeiro porque Deus não é obrigado; segundo porque o homem
pode produzir um profundo conhecimento acerca da matéria, porém, Deus não é
matéria, mas sim ESPÍRITO. Deus é infinito em si mesmo. Por isso, nós que
cremos em Jesus, professamos a verdade que nos traz a Sagrada Escritura: “No
princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele
estava no princípio junto de Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi
feito. Nele havia vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas
trevas, e as trevas não a compreenderam. [...] O Verbo era a verdadeira luz
que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. Estava no mundo e o mundo foi feito
por ele, e o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o
receberam. [...] E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua
glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de
verdade” (João 1,1-5;9-11;14). Deus era invisível, ou seja, inacessível
ao homem; porém, Jesus Cristo é o Verbo, é Deus de Deus, Luz da Luz, Deus
verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado; consubstancial ao Pai. Se
você quer, portanto, um conhecimento de Deus enquanto matéria, deve estudar a
pessoa de Cristo, uma vez que Jesus é a encarnação do próprio Deus, que é Uno e
Trino. Nós cremos que toda a revelação de Deus se dá na pessoa de Jesus, que é
Deus. É claro que Deus continua se manifestando à humanidade, uma vez que o
próprio Jesus disse que os que cressem nEle fariam milagres maiores. Mas o que
quero dizer aqui é: Deus é ESPÍRITO. Sendo assim, todo meu conhecimento de
Deus, por uma questão natural, está limitado. Até o conhecimento de Cristo,
enquanto encarnação, só se deu porque Ele mesmo quis se encarnar para redimir a
humanidade. Portanto, não é nem uma questão de ignorância, mas sim uma questão
de IMPOSSIBILIDADE de eu, mera e pobre criatura, conhecer a plenitude de Deus,
que é puro espírito.
O que
Deus quis revelar-se, revelou-o na pessoa de Cristo. Jesus, por sua vez, deu à
Igreja, Seu Corpo Místico, as chaves do Reino do Céu na pessoa de Pedro. S.
Paulo afirma que a Igreja é coluna e sustentáculo da verdade (cf. 1Tim 3,15).
Sendo assim, Deus manifestou-se em Jesus Cristo, que é Deus encarnado, e, pela
fé da Igreja, que fala em nome de Jesus, manifesta os atributos de Deus. Nisso
cremos que Deus é uno e trino. Vários estudiosos contribuíram para tais
declarações da Igreja. Citei-a apenas para afirmar o seguinte: Deus era livre
em si mesmo quando nos criou, e é livre em si mesmo para revelar-se a si mesmo
na proporção que bem quiser. Após saber da existência de Deus, pela razão, concebemos
o que é Deus, pela fé; pois, por maiores que sejam os nossos esforços, nunca
conheceremos a plenitude do que é Deus, se Ele não se revelar. Com a Igreja afirmo:
Cremos firmemente e afirmamos simplesmente
que há um só verdadeiro Deus eterno, imenso e imutável, incompreensível,
todo-poderoso e inefável, Pai, Filho e Espírito Santo: Três Pessoas, mas uma
Essência, uma Substância ou Natureza absolutamente simples. (Conc. Lateranense
IV: DS)
Como a Igreja chegou a declarar isto em matéria de
fé? Bom, esta frase está contida no Catecismo da Igreja Católica; você já se
deu ao trabalho de o ler, pelo menos, para conhecer o que ensina a Igreja
Católica? Por não lerem o Catecismo, os católicos perdem a fé, e os não
católicos não a encontram. Voltemos, porém, ao tema deste post.
Há
ainda uma razão para Deus não querer se manifestar em plenitude para nós. Sendo
Deus espírito, e não matéria, infinito, como poderia nós suportarmos a
manifestação plena, sendo que somos matéria e finitos (enquanto matéria
orgânica. Cremos, porém, na ressurreição da carne, mas até lá, sabemos que o
corpo se decompõe)? Jesus é Deus, porém, Sua morte na Cruz foi para salvar o
gênero humano do pecado e abrir as portas do Céu. Quando volta para o Pai é que
recebe em plenitude Sua glória. A Sagrada Escritura ao narrar a transfiguração,
mostra que Pedro, Tiago e João ficaram assombrados ao contemplar a glória de
Jesus. Ora, isso era apenas uma demonstração do poder de Deus. Desde o antigo
testamento até a manifestação de Deus na pessoa de Jesus, quando Deus parte
para o extraordinário, causa certo espanto no homem, uma vez que este não pode
suportar a plenitude da glória de Deus.
Há
um trecho da oração de Salomão que cabe muito bem aqui. Salomão está pedindo
sabedoria para Deus, e já próximo do fim da oração, ele diz à Deus: “Mal
podemos compreender o que está sobre a terra, dificilmente encontramos o que
temos ao alcance da mão. Quem, portanto, pode descobrir o que se passa no céu?
E quem conhece vossas intenções, se vós não lhe dais a sabedoria, e se do mais
alto dos céus vós não lhe enviais vosso Espírito Santo?” (Sabedoria 9,16-17). Como
dizia, Deus, nosso Criador, é ESPÍRITO; o universo, criatura, MATÉRIA. Se o
homem, por mais que tenha se esforçado, não conhece a verdade plena da matéria,
como pode, porém, querer conhecer a verdade plena de Deus além do revelado? A
ciência afirma: o universo continua em expansão após o big bang – teoria, aliás, proposta por um sacerdote da Igreja
Católica, Georges-Henri Édouard Lemaître -, confirmando a via do movimento: se
está em expansão, é preciso que tenha havido uma força que colocou em
movimento. Se um corpo em repouso tende a permanecer em repouso, o universo se
expandindo, portanto, tem que ter tido, necessariamente, uma força anterior que
o colocou em movimento. Existem várias outras galáxias, planetas, etc., e o
homem mal chegou a lua, portanto, não exploramos o mundo extraterrestre. Talvez
você diga que eu esteja apelando. Fiquemos no Planeta Terra então: não sei se
você sabe, mas apenas 1% do oceano foi explorado. Não se sabe o que existe na
profundidade dos mares. Por mais que avance a tecnologia, o homem não conseguiu
chegar ao conhecimento da plenitude das profundezas dos mares, ficando em
míseros 1%. Por mergulho – você é louco! – é impossível, pois morreria por
causa da pressão. O mergulho mais profundo registrado até hoje, foi de 318,25
mt, com cilindros de respiração; 209,6 mt, sem cilindros. Portanto, não
conhecemos a grande maioria das espécies existentes no oceano; não conseguimos
se quer mergulhar até o fundo do mar, pois morreríamos por causa da pressão.
Embora se tenha chegado a alguns milhares de metros com equipamentos, mas a
exploração em si, míseros 1%.
Como
poderíamos chegar ao conhecimento total de Deus, sem nos desfazermos?
Explico-me: se é impossível ao homem chegar ao fundo do oceano, criatura, sem
que morra, como querer a plenitude do conhecimento de Deus sem, todavia, nos
desfazermos? O homem não suporta o fundo do oceano, como não suportaria a
plenitude de Deus.
Portanto,
indo para o campo da fé, saberemos que no Céu, glorificados, poderemos sim
contemplar a glória de Deus, face a face, em sua plenitude, sem nos
desfazermos. Porém, nesta realidade terrena, por enquanto, não podemos conhecer
a plenitude de Deus. Os próprios santos da Igreja Católica que tiveram experiências
místicas e viram a glória do Céu, afirmam que se não fosse Deus os sustentando,
teriam morrido; e que embora Deus tenha os feito experimentar o antegozo do
Céu, era ainda uma visão pálida da beatífica visão de Deus na eternidade. Era
apenas uma graça que Deus concedia, manifestando algo misticamente aos Seus, na
medida em que queria, da forma que queria, e do tanto que queria; para servir
de testemunho a outros.
Por
isso, encerro dizendo que enquanto estivermos neste mundo, Deus sempre se
manifestará a nós fazendo-nos conhecer a Ele; porém, estes questionamentos de
quem é Deus, de onde veio, o que fazia, não passam de pífios questionamentos
que obscura a verdade, uma vez que reduzem o Criador à status de criatura,
Aquele que é à pé de igualdade conosco que nada somos sem Ele. Ou seja, não se
pode querer colocar tempo em Deus, que é atemporal. Não se pode colocar em Deus
características de criatura, sendo Ele Criador. Tais questionamentos, portanto,
são em si frescuras de quem sabe que Deus existe, porém, não quer aceitar. Esses
questionamentos serão respondidos após nossa morte, onde em outro estado
suportaremos a verdade e Deus se manifestará. Guarde sua pergunta para Deus no
dia do juízo. Se bem que, sinceramente, quando estivermos diante da visão
beatífica de Deus, a plenitude do gozo eterno será tanta que não iremos
perguntar nada, uma vez que a visão de Deus é a resposta de todas as coisas.
Afinal, Deus é o fim do homem.
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