Nunca mais reclame quando seus filhos pequenos te acordarem pela manhã!
Você tem um ou mais filhos
pequenos que invadem seu quarto e te acorda? Seus pequeninos adoram escalar a
cama do casal para acordar papai e mamãe? Você se irrita com isso? Bom, talvez
você tenha trabalhado tanto no dia anterior, dormido tarde, e logo no dia que
tirou para “descontar” o sono perdido... Vem pelo menos uma criaturinha te
acordar, dando beijos, abrindo teu olho, etc. Você fica exausto, dá bronca, mas
por vezes se derrete ante o encanto da criança, certo?
Mas muitos pais se irritam com
as crianças e suplicam para que elas parem de lhes acordar cedo. Bom, eu
sugeriria que nem se irritassem nem mesmo brigassem com os pequenos por fazer
isso, afinal, segundo a Drª Maria Montessori, importantíssima educadora do
século XX, quando as crianças acordam os pais de manhã cedo, na verdade não é a
criança em si, mas é o próprio Deus amando os pais através do amor da criança.
Por isso posto abaixo um
belíssimo texto escrito por Maria Montessori, extraído do livro A Criança. Espero que a leitura deste
texto possa te fazer enxergar a preciosidade do amor infantil, e pare de
desperdiçar este amor que te ama todas as manhãs.
***
Um terrível capricho da
criança consiste em ir acordar os pais de manhã — e a nurse tem por
dever evitar de todas as formas tal delito, como se fosse o anjo da guarda do
sono matutino dos pais.
Mas o que, senão o amor,
impele a criança que mal se levantou da cama a ir procurar os pais?
Quando ela salta da cama, bem
cedinho, ao nascer do sol, como devem fazer as criaturas puras, vai procurar os
pais ainda adormecidos como se lhes quisesse dizer: “Aprendam a viver santamente, já amanheceu, é dia!” Não pretende fazer
o papel de pedagogo; está apenas correndo para rever os entes que ama.
O quarto provavelmente ainda
está escuro, bem fechado, para que a claridade do dia não incomode. A criança
avança, vacilando, com o coração oprimido pelo medo do escuro, mas supera todos
os temores e vai tocar carinhosamente nos pais. O pai e a mãe resmungam: “Já
não lhe dissemos tantas vezes que não venha nos acordar de manhã cedo?...” E a
criança replica: “Não vim acordar vocês, vim beijá-los”.
Como se dissesse: “Não queria
despertá-los materialmente; desejava acordar-lhes o espírito”.
Sim, o amor da criança tem
imensa importância para nós. O pai e a mãe dormem a vida inteira, tendem a
adormecer sobre todas as coisas, e precisam de um novo ser que os desperte e os
reanime com a energia fresca e viva que já não existe neles — um ser que se
comporte diversamente deles e lhes diga todas as manhãs: “Levantem-se para uma vida nova, aprendam a viver melhor”.
Sim, viver melhor: sentir o
sopro do amor.
Sem a criança, que o ajuda a
renovar-se, o homem degeneraria. Se o
adulto não procura renovar-se, forma-se paulatinamente em torno de seu espírito
uma couraça que acaba por torná-lo insensível — e, desse modo insensato, seu
coração se perderá! Isto nos traz à mente as palavras do Juízo Final,
quando Cristo, dirigindo-se aos condenados, aos que nunca utilizaram os meios
de renascimento encontrados durante a vida, os amaldiçoa:
— Ide, malditos, porque me
encontrastes enfermo e não me curastes!
E eles respondem:
— Mas quando, Senhor, nós vos
encontramos enfermo?
— Todas as vezes que
encontrastes um pobre, um enfermo, era eu. Ide, malditos, porque eu estava
encarcerado e não me visitastes.
— Oh, Senhor, quando
estivestes num cárcere?
— Cada encarcerado era eu.
A dramática passagem do
Evangelho significa que o adulto deve consolar o Cristo oculto em cada pobre,
em cada condenado, em cada sofredor. Mas se a maravilhosa cena evangélica se
aplicasse ao caso da criança, constataríamos que Cristo ajuda todos os homens
sob a forma da criança.
— Eu vos amei, fui acordar-vos
todas as manhãs e me repelistes.
— Mas quando, Senhor, viestes
à minha casa pela manhã para me acordardes e eu vos repeli?
— O filho de vossas vísceras
que vinha despertar-vos era eu. Aquele que vos implorava que não o
abandonásseis, era eu!
Insensatos! Era o Messias que vinha
despertar-nos e ensinar-nos o amor! E nós pensávamos que se tratasse
de um capricho infantil — e, por isso, perdemos nosso coração!
(Maria
Montessori. A Criança. Grifo meu)
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