Qual a diferença entre a tentação, infestação e a possessão demoníaca?
É comum a gente encontrar pessoas com a dúvida do que é possessão e infestação. Muitos querem saber qual é a diferença. Bom, por isso estou postando logo abaixo uma parte do livro "ANJOS E DEMÔNIOS A LUTA CONTRA O PODER DAS TREVAS" dos escritores Gustavo Antônio Solímeo e Luiz Sérgio Solímeo. É um livro muito bom. Indico a leitura.
No mais, já antecipo que os remédios para se lutar contra o mal é estar na vida da graça. Ou seja, confissão frequente (como é sempre dito: no exorcismo se expulsa o demônio; na confissão, além disse, se perdoa os pecados); comunhão frequente; rezar o Rosário. Se você estiver em algum lugar, um momento de oração, enfim, e uma pessoa "manifestar" ou mesmo estiver alguém possesso, lembre-se que você não pode fazer um exorcismo usando o ritual. Porém, você pode e deve rezar o Rosário. O Papa Adriano VI dizia que o Rosário é o flagelo dos demônios. Portanto, reze o Rosário pela pessoa e faça uso dos sacramentais: água benta (ou exorcizada) sal exorcizado, medalhas bentas (especialmente a medalha milagrosa de Nossa Senhora das Graças), o próprio Rosário, enfim, sempre ajuda na luta contra o inferno.
Segue a parte III do livro citado acima:
***
III - AÇÃO ORDINÁRIA
E EXTRAORDINÁRIA DO DEMÔNIO
DEUS GOVERNA O MUNDO,
respeitando sua ordem e suas leis; isto é, a normalidade, a
simplicidade, o usual das coisas; tudo aquilo que sai desta linha e
que parece maravilhoso, prodigioso, milagroso é excepcional, muito
raro. Deus nos criou livres e espera de nós um livre consentimento à
fé, sem que nisto sejamos influenciados por uma manifestação
habitual do preternatural e do sobrenatural. Entretanto, para
provar-nos, para que mereçamos a bem-aventurança eterna, como
também, muitas vezes, para castigo nosso, permite Deus que o demônio
nos atormente. A inclinação para o mal nos provém de três causas:
de nossa natureza, ferida pelo pecado original; do mundo e do
demônio. Entretanto Satanás desperta em nós, continuamente, a
tríplice concupiscência com insistentes tentações de soberba e
orgulho, de luxúria, de avidez em todos os níveis. Essa é a ação
ordinária, comum, corrente do demônio — ou seja, a tentação.
Além dela, pode o Maligno exercer uma ação extraordinária. A ação
ou atividade demoníaca extraordinária pode ser assim qualificada
por duas razões: em primeiro lugar, pelo seu caráter surpreendente,
sensacional, espetacular; em segundo, pela sua relativa raridade (se
comparada com a ação ordinária). Estamos nos referindo à
infestação e à possessão diabólica. Trataremos em primeiro lugar
da tentação; a seguir, das duas formas de infestação - a local e
a pessoal; no capítulo seguinte, da possessão.
A
tentação
“Bem-aventurado o
homem que sofre (com paciência) a tentação. Porque depois que
tiver sido provado, receberá a coroa da vida, que Deus promete aos
que o amam”. (Tiag 1,12)
A AÇÃO MAIS COMUM e
constante do demônio, em relação ao homem, é a tentação. Por
esse seu aspecto comum e também por ser a mais freqüente, pode-se
chamá-la de ação ordinária do demônio.
Natureza da tentação
Em seu sentido
etimológico, tentar alguém significa pô-lo à prova para que se
conheçam suas disposições ou qualidades.
Tentação
probatória e tentação enganadora ou sedutora
Santo Agostinho
estabeleceu uma distinção, que se tomou clássica, entre a tentação
probatória (tentatio pro- bationis) e a tentação enganadora ou
sedutora (tentatio decepcionis vel seducionis).
A tentação probatória
não visa levar ao pecado, e sim tornar patente a virtude de alguém
ou fortalecê-la por meio da provação. Nesse sentido é que se
pode falar de tentação de Deus, como, por exemplo, as provações
que o Criador, servindo-se do demônio, enviou a Jó para provar sua
fidelidade (cf. Jó 14, 1 ss).
Pode-se falar também
de tentar a Deus quando se pretende pôr Deus à prova, exigindo dele
um milagre ou uma ação extraordinária, com o fim de satisfazer
nossa curiosidade, nossos caprichos, ou livrar-nos das conseqüências
de nossas irreflexões ou imprudências. “Tentar a Deus — escreve
D. Duarte Leopoldo e Silva - é expor- se ao perigo, a grandes
tentações, sem necessidade, e depois pedir um milagre para não
sucumbir. Deus protege no perigo, mas nem por isso devemos expor-nos
temerariamente, porque, diz o Espírito Santo, quem ama o perigo nele
perecerá” . (Con. Duarte LEOPOLDO E SILVA, Concordancia dos
Sanctos Evangelhos, Escola Typographica Salesiana, São Paulo, I
edição, 1903.)
A tentação enganadora
ou sedutora visa levar o homem à ruína espiritual; ela propõe-lhe
um mal sob a aparência de um bem, procurando arrastá-lo ao desejo
desse mal, isto é, ao pecado. Pode, então, ser definida como uma
incitação ao pecado. Consiste em um estímulo, uma solicitação da
vontade para o mal.
Quando procede de nós
mesmos (tentação interna), pode ser indicada mais bem como
inclinação, arrebata- mento, estímulo; se provém de outros
inclusive do demônio podemos referir-nos a ela como convite,
solicitação, incitação.
Causas naturais da
tentação: o mundo e a carne
Nem todas as tentações
que o homem padece provém do demônio; também o mundo e a carne têm
nelas uma grande parte: “Nem todos os pecados são cometidos por
instigação do demônio, mas alguns são cometidos pela livre
vontade e corrupção da carne” - ensina São Tomás. (Suma
Teológica, 1,q.114,a.3.)
A raiz mesma da
tentação está na própria natureza humana, livre porém demasiado
frágil, sobretudo depois que decaiu de sua integridade, em
conseqüência do pecado original. “Cada um é tentado pela sua
própria concupiscência, que o atrai e o alicia” - escreve o
Apóstolo São Tiago (Tiago 1, 14), que repete a mesma idéia pouco à
frente: “De onde vêm as guerras e as contendas entre vós? Não
vêm elas das vossas concupiscências que combatem em vossos
membros?” (Tiago 4, 1).
São Paulo descreve em
termos dramáticos essa terrível realidade: “Sinto imperar em mim
unia lei: querendo fazer o bem, eis que o mal se apresenta a mim.
Segundo o homem interior, acho satisfação na lei de Deus; mas em
meus membros experimento outra lei que se opõe à lei do meu
espírito e me encadeia à lei do pecado que reina em meus membros”
(Rom 7, 21-24)*
*“São Paulo descreve
a luta que se trava no interior do homem entre a carne e o e
espírito. O homem reconhece a justiça e a bondade da lei, mas a
concupiscência excita-o fortemente a desobedecer-lhe” (Pe. MA- TOS
SOARES). A carne, aqui, significa a natureza humana decaída em
consequência do pecado original, que a tornou desregrada. De si, a
carne ou seja, a natureza humana é boa, pois criada por Deus.
Essa a lei da carne
Também o mundo procura
arrastar-nos ao pecado, pois “está sob o jugo do maligno” (1 Jo
5, 19), e “a amizade deste mundo é inimiga de Deus” (Tiago 4,
4). Se rompermos com o mundo ele nos perseguirá, adverte o Salvador,
pois não somos do mundo ( Jo 15, 19). Por isso, Jesus disse
expressamente que não rezava pelo mundo (Jo 17, 9).
Um homem pode ser
tentador de outro homem, segundo o espírito do mundo. Foi o que fez
São Pedro, procurando desviar o Senhor do caminho da Cruz: “A
partir daquele momento, começou Jesus a revelar a seus discípulos
que era necessário que fosse a Jerusalém, padecesse muito da parte
dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos escribas, e fosse condenado
à morte, e ao terceiro dia ressuscitasse. Pedro, tomando-o à parte,
começou a admoestá-lo, dizendo: ´Deus te livre, Senhor! Isto não
te pode acontecer!´Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro:
‘Retira-te de mim, Satanás! Pois és para mim obstáculo (isto é,
tentação); os teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!’
“ (Mt 16, 21-23).
Somos, pois, tentados
pela nossa própria fragilidade, pelo nosso temperamento, nossa
índole, formação, ambiente, familiares, amigos, situações e
ocasiões; em uma palavra: pela carne e pelo mundo.
A tentação
demoníaca
Porém, conforme ensina
o Apóstolo, “não temos que lutar somente contra a carne e o
sangue, mas sim contra os principados e as potestades, contra os
domina- dores deste mundo de trevas, contra os espíritos malignos
espalhados pelos ares... “(Ef 6, 10-11).
É fora de dúvida que
muitíssimas tentações são obra direta do demônio, cujo oficio
próprio — diz São Tomás — é tentar. ( Suma Teológica, 1,q.
114,a .2. )
A maior parte da
atividade demoníaca se concretiza na tentação. Por isso o demônio,
no Evangelho, é chamado tentador (cf. Mt 4, 3).
As demais causas da
tentação — o mundo e a carne — podem atuar dependentemente umas
das outras; entretanto, é comum que, nas tentações, a atração do
mundo se una à revolta da sensualidade, e a ambas se some a ação
aliciante do demônio.
De tal modo que, embora
os teólogos aceitem no plano teórico a possibilidade de a tentação
poder ter uma causa apenas natural o mundo ou a carne sem entrar
necessariamente a ação do demônio, no plano prático, em geral,
admitem que o Maligno, sempre à espreita, se aproveita de todas as
circunstâncias para cavalgar a tentação e aumentar a sua
intensidade ou malícia.
De onde a advertência
de São Paulo: “Se sentirdes raiva, seja sem pecar: não se ponha o
sol sobre vossa ira, para não dardes oportunidade ao demônio” (Ef
4, 26-27).
O homem diante da
tentação
A tentação não é
pecado
A tentação, de si
mesma, obviamente não é pecado. Pois o próprio salvador permitiu
ser tentado pelo demônio (Mt 4, 1-11; Mc 1, 12-13; Lc 4, 1-13).
Como dissemos, o
demônio não pode agir diretamente sobre a inteligência ou a
vontade humanas e por isso procura influenciá-las por meios
indiretos, em seu escopo de fazer-nos pecar. Mesmo podendo resistir
ao tentador, o homem freqüentemente se deixa seduzir.
Para nos tentar, o
demônio pode excitar a imaginação de modo a formar nela imagens e
representações lúbricas ou perturbadoras; interferir em movimentos
corporais que favoreçam os maus atos ou maus pensamentos,
intensificar as paixões, procurar enredar-nos em sofismas, em erros,
etc.
Entretanto, o homem não
é culpado das tentações que sofre, a não ser quando elas são
conseqüência de imprudências, permitidas ou procuradas
voluntariamente, por exemplo, com olhares indevidos, frequência a
lugares perigosos, más companhias, etc. Do contrário, ele só será
culpado nos casos em que der um consentimento pleno e deliberado ás
solicitações das tentações.*
*“Três coisas
devemos distinguir na tentação: a sugestão, a deleitação e o
consentimento. A sugestão não é um pecado, porque não depende da
nossa vontade, A simples deleitação, quando involuntária, também
não é pecado. Só o consentimento é sempre criminoso, porque
depende exclusivamente de nós o aceitar ou não a su- gestão do
pecado” (Con. Duarte LEOPOLDO E SILVA, op. cit., p. 34, n. 5).
Por mais intensa que
seja uma tentação, se o homem lutou contra ela o tempo todo, não
cometeu a menor falta; pelo contrário adquiriu méritos para sua
santificação, segundo escreve São Tiago Apóstolo: “Bem-aventurado
o homem que sofre (com paciência) a tentação, porque, depois que
tiver sido provado, receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos
que o amam” (Tiag 1, 12).
Necessidade da
vigilância e da oração
Devemos estar sempre
alertas para enfrentar as provocações, como nos recomendou Nosso
Senhor na hora de sua Paixão: “Vigiai e orai, para que não
entreis em tentação; o espírito na verdade está pronto, mas a
carne é fraca” (Mt 26, 41). O mesmo aconselha São Pedro: “Sede
sóbrios e vigiai, porque o demônio, vosso adversário, anda ao
redor como um leão que ruge, buscando a quem devorar” (1 Pedro
5,8).
Vigiar, porém, não
basta. É preciso resistir ao demônio: “Resisti ao demônio, e ele
fugirá de vós” (Tiago 4, 7) — nos assegura São Tiago.
“Resisti-lhe [ao demônio] fortes na fé” — manda São Pedro (1
Pedro 5,9).
E São Paulo exorta:
“Revesti-vos da armadura de Deus para que possais resistir às
ciladas do demônio. ... tomai a armadura de Deus, para que possais
resistir no dia mau, e ficar de pé depois de ter vencido tudo.
Estai, pois, firmes tendo cingido os vossos rins com a verdade, e
vestindo a couraça da justiça ... tomai o escudo da fé com que
possais apagar todos os dardos inflamados do maligno, tomai também o
elmo da salvação e a espada do espírito ( que é a palavra de
Deus)” (Ef 6, 11-17).
Deus não permite
que sejamos tentados além de nossas forças
Devemos, entretanto,
ter sempre presente esta consoladora verdade: é certo que Deus não
permite sejamos tentados além de nossas forças. Este é o
ensinamento de São Paulo: “Nenhuma tentação vos sobreveio que
superasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que
sejais tentados acima das vossas forças: mas, com a tentação, vos
dará também o meio de sair dela e a força para que suportá-la”
(1 Cor 10,13).
A
infestação
“Não
temos que lutar somente contra a carne e o sangue, mas sim contra os
principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo de
trevas, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares.. “ (Ef
6, 10-11)
A TERMINOLOGIA a
respeito da ação extraordinária do demônio sobre os homens, as
coisas e os locais, não é uniforme: alguns autores falam em
obsessão, para designar essa atuação demônio, quer se trate de
sua simples presença local, quer de atuação sobre o homem, mas sem
possuí-lo, quer da possessão. Outros criam termos especiais como
circumissessão, para designar a ação demoníaca externa ao homem.
Adotamos aqui a
terminologia utilizada por Mons. Corrado Balducci, por parecer-nos
mais simples e direta: infestação local, infestação pessoal e
possessão diabólica. (Cf Mons. C. BALDIJCcI, Gli indemoniati, p. 3;
El diablo, pp. 156-158.) Trataremos em primeiro lugar das duas formas
de infestação — a local e a pessoal; no capítulo seguinte, da
possessão.
Infestação local
A infestação local
consiste em uma atividade per- turbara que o demônio exerce
diretamente sobre a natureza inanimada (reino mineral, elementos
atmosféricos, etc.) e animada inferior (reino vegetal e reino
animal), e também sobre lugares, procurando desse modo atingir
indiretamente o homem, sempre em modo maléfico.
Com efeito, todas as
criaturas, mesmo as irracionais, por maldição do pecado, ficaram
sob o poder do demônio (cf. Rom 8, 21ss). Assim, os lugares e as
coisas, do mesmo modo que as pessoas, estão sujeitas à infestação
demoníaca. E preciso não esquecer a atuação dos demônios dos
ares, a respeito das quais nos adverte o Apóstolo: “Não temos que
lutar somente contra a carne e o sangue, mas sim contra os
principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo de
trevas, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares...” (Ef
6, 10-11). Entram nessa categoria as casas e lugares infestados:
objetos que voam ou se deslocam de lugar, sons estranhos ou
perturbadores (passos, pedradas nas vidraças ou no telhado, uivos,
gritos, gargalhadas); impressão de presenças invisíveis, sensação
de perigos inexistentes, etc.; distúrbios visíveis, estranhos e
repentinos que se verificam no mundo vegetal e no mundo animal
(árvores ou plantações que secam repentinamente, doenças
desconhecidas nos animais, pragas, etc.).
Certos fenômenos ou
calamidades de aparência e estruturas naturais (tempestades,
terremotos e outros cataclismos, incêndios, desastres, etc.) podem
ter igual- mente o demônio como autor, senão único direto (como na
possessão), ao menos parcial e dirigente. Por exemplo, o raio que
caiu do céu e consumiu os pastores e as ovelhas de Jó, do mesmo
modo que o vento do deserto que fez cair a casa dos filhos do
Patriarca, esmagando-os sob as ruínas, foram suscitados por Satanás
(Jó 2, 16-19). Nesse caso, podem ser incluídos essas manifestações
demoníacas extraordinárias.
Muitas vezes, tais
manifestações ocorrem em concomitância com casos de infestação
pessoal ou de possessão diabólica.
Infestação pessoal
A infestação pessoal
é uma perturbação que o demônio exerce, já não mais sobre o
mundo material e as criaturas irracionais, mas sobre uma pessoa,
diretamente, sem contudo impedir-lhe o uso da inteligência e da
livre vontade. Apesar de ser excepcional, é talvez o mais frequente
dos três tipos de atividade maléfica extraordinária - isto é,
infestação local, infestação pessoal, possessão.
Como a infestação
local, a pessoal também com- porta graus de intensidade, e diversa
modalidade.
A infestação pessoal
pode ser externa ou física e interna ou psicológica, conforme se
exerça sobre os sen- tidos externos ou internos e sobre as paixões
do homem. Com frequência, a infestação é simultaneamente externa
e interna.
Na infestação externa
ou física, demônio age sobre nossos sentidos externos: a vista,
provocando aparições sedutoras ou, contrário, apavorantes; a
audição, fazendo ouvir rumores, palavras ou canções obscenas,
blasfêmias, convites, agrados ou ameaças; o tacto, com sensações
provocantes, abraços, movimentos carnais; então dores, doenças,
etc.
Mas o demônio pode
atuar também sobre os senti- dos internos (fantasia e memória) e
sobre as paixões.
A infestação interna
ou psicológica consiste em sugestões violentas e tenazes: ideias
fixas, imagens ex- pressivas e absorventes, movimentos profundos de
emotividade e de paixão - por exemplo, desgostos, amargura,
ressentimentos, ódio, angústias, desespero; ou, ao contrário,
inclinação para algum objeto ilícito, ou inclinação, de si
lícita, mas desregrada quanto ao modo e à intensidade.
Comenta o Pe.
Tanquerey: “A pessoa se sente, em- bora com desgosto, invadida por
fantasias importunas, tediosas, que persistem não obstante os
esforços vigorosos para afastá-las; ou então por frêmitos de ira,
angústia, desespero, ímpetos instintivos de antipatia; ou pelo
contrário, por perigosas ternuras sem razão alguma que as
justifiquem” . (Adolphe TANQUEREY, Precis de Théotogie Ascétique
ei Mystique. p. 958.)
Os acessos de
melancolia e os transportes de furor que afligiam Saúl, por obra de
um demônio e por permissão divina ( cf. 1 Reis 16, 14-23), são
característicos da infestação pessoal interna, infestação
psicológica. Diferentemente do possesso, o infestado guarda a
disposição de seus atos exteriores, embora em muitos casos tenha
sua liberdade diminuída. Ele conserva o poder de reagir contra as
sugestões do interior ( por exemplo, sugestões de blasfêmias), de
julgar sobre o valor moral destas sugestões, achando-as abomináveis.
Uma das modalidades de infestação pessoal, talvez das mais
freqüentes são as doenças, muitas vezes desconhecidas e
incuráveis, que chegam a levar à morte, se Deus o permitir. É o
que, aliás, lemos no livro de Já: “Disse, pois, o Senhor a
Satanás: Eis que ele (Jó) está na tua mão; conserva, porém, a
sua vida” (Jó 2, 6).
As escrituras
apresentam vários casos de tais enfermidades de origem de diabólica.
Exemplo clássico, é a lepra que cobre de chagas o justo Jó, da
planta dos pés até o alto da cabeça (Jó 2, 7-8).
Seriam igualmente
vítimas de infestação diabólica a mulher encurvada, atormentada
pelo demônio havia dezoito anos, de tal sorte que não se podia
endireitar, e que foi curada por Nosso Senhor (Luc 13, 11); o menino
epilético (Mt 17, 14; Mc 9, 17; Luc 9, 38); o mudo (Mt 9,32); e o
cego mudo (Mt 12, 22).
Mons. Balduecci se
refere a doenças de origem demoníaca, por efeito de malefícios,
observando que nestes casos os distúrbios são com frequência de
ordem física, sendo dificilmente diagnosticados pelos médicos;
outras vezes se trata de inconvenientes que atacam a vida psíquica,
a própria personalidade do indivíduo, tomando-o difícil, raivoso e
até incapaz de atuar no âmbito de sua vida familiar e social.(Cf.
Mons. C.BALDUCCI, El diablo, p. 184.)
Convém precisar que
muitas das manifestações acima descritas, embora próprias às
infestações locais ou pessoais, não são exclusivas delas e nem
sempre são de origem demoníaca; várias anomalias de ordem psíquica
(ilusões, alucinações, delírios) podem se externar pelos mesmos
fenômenos; um cuidadoso exame do indivíduo e das circunstâncias
que acompanham os fatos poderá revelar a origem natural patológica
ou demoníaca dos distúrbios.
Vítimas prediletas
da infestação
Se bem que qualquer
pessoa possa ser vítima desse tipo de tormento diabólico, Mons.
Balducci indica três categorias de pessoas que estariam mais
sujeitas a ele: os santos, os exorcistas e demonólogos, e os
maleficiados (vítimas de malefício).
Os santos, por causa do
ódio que o demônio tem daqueles que de modo especial amam a Deus e
procuram a perfeição; isto, do lado da intenção do demônio; do
lado da permissão divina, esta é dada como provação especial a
almas muito eleitas. Vários santos a experimentaram. Entre os
antigos, basta lembrar Santo Antão; do mesmo modo Santa Catarina de
Siena (1347-1380); São Francisco Xavier (1506-1552); Santa Teresa de
Jesus (1515-1582); Santa Maria Madalena de Pazzi (1566-1607); São
João Batista Vianney, o Cura d’Ars (1786-1859) São João Bosco
(1815-1888); Santa Gemma Galgani (1878-1903).*
Os exorcistas e
demonólogos: a razão é tão óbvia que quase não é preciso
dá-la; os primeiros, com seu ministério, fazem diminuir a presença
do demônio no mundo e libertam suas vítimas; os segundos, com seus
estudos, esclarecem os fiéis com relação à existência e
atividade demoníacas.
Os maleficiados
(vítimas de malefício), por permis- são de Deus, para seu castigo,
ou provação, ou para manifestar o poder divino. ( Cf. Mons. C.
BALDUCCI, El diablo, p. 179.)
Esta Santa leiga,
grande mística, recebeu os estigmas da Paixão, tinha frequentes
visões de Nosso Senhor e de Nossa Senhora, e um comércio quase
contínuo com seu Anjo da Guarda. Foi muito atormentada pelo demônio
que a espancava com uma vara durante horas e horas, às vezes a noite
inteira, causando-lhe profundas esquimoses no corpo, que duravam
vários dias, até que Nosso Senhor as curasse. Perseguia-a por toda
a parte, em casa, na rua, na igreja, com aparições, assumindo o
aspecto de um cachorro, de um gato, de um macaco, de pessoas
conhecidas, ou de homens ferozes e espantosos. Várias vezes um
desses homens horríveis a jogou na lama quando saia de casa para ir
comungar. O demônio lhe aparecia também sob a figura de seu
confessor, Mons. Volpi e outras debaixo da aparência do Anjo da
Guarda, chegando a confundi-la; de certa feita o Maligno assumiu a
figura de Jesus flagelado, com o coração aberto e todo
ensanguentado, para pedir-lhe maiores penitências, com a dupla
finalidade de fazer deteriorar sua já delicada saúde e incitá-la a
desobedecer o confessor que as havia proibido ( Mons. C. BALDUCCI, El
diablo PP. 179-181).
A
possessão
“E
pela tarde apresentaram-Lhe muitos possessos do demônio”. (Mt 8,
16)
A POSSESSÃO é a mais
espetacular das manifestações diabólicas e a que mais impressiona
as imaginações; a tal ponto, que deixa na penumbra o trabalho
constante do demônio que, por meio da tentação, procura seduzir os
homens ao pecado.
Realidade da
possessão diabólica
No que se refere à
possessão diabólica, há duas posições erradas que é preciso
evitar: a primeira, consiste em acreditar com facilidade que uma
pessoa está possessa, sem maior exame, pela impressão causada por
sintomas que podem bem corresponder a outros estados, não sendo de
si suficientes para caracterizar a possessão; a segunda posição
está em negar que hoje ocorram casos de possessão; chega mesmo a
negar que alguma vez se tenham dado. Esta posição extremada se
choca com uma verdade claramente ensinada pela Sagrada Escritura,
pela Tradição e pela prática da Igreja.
Os racionalistas
pretendem que os casos de possessão diabólica relatados na
Escritura não passam de casos patológicos — mania, loucura,
histeria e epilepsia. Dizem que Jesus não pretendia que esses
infelizes enfermos, chamados endemoniados, estivessem realmente
possessos, mas tratava-os de acordo com as convicções dos seus
contemporâneos, os quais acreditavam na ação demoníaca.
Nada mais falso, e os
Evangelistas distinguem bem entre a doença e a possessão. Assim,
São Marcos escreve: “E de tarde, sendo já posto o sol,
traziam-lhe (a Jesus) todos os que estavam doentes e os possessos do
demônio E curou muitos que se achavam oprimidos com varias doenças.
e expeliu muitos demônios” (Mc 1, 32-34).
E em São Mateus está
escrito: “E pela tarde apre- sentaram-lhe muitos possessos do
demônio, e ele com a (sua) palavra expelia os espíritos maus, e
curou todos os enfermos” (Mt 8, 16).
Do mesmo modo São
Lucas: “E quando foi sol posto, todos os que tinham enfermos de
diversas moléstias, traziam-lhos. E ele impondo as mãos sobre cada
um, sarava-os. E de muitos saíam demônios gritando” (Lc 4,40-41).
É evidente nestas
passagens que os Evangelistas se referem à cura de doentes e à
expulsão de demônios como dois casos diferentes.
De resto, o próprio
Salvador afirma que expulsava os demônios dos possessos. Por
exemplo, aos judeus incrédulos disse Jesus: “Se eu, porém lanço
fora os demônios pela virtude do Espírito de Deus, é chegado a
vós o reino de Deus” (Mt 12, 28). “Se eu, pelo dedo de Deus
lanço fora os demônios, certamente chegou a vós reino de Deus”(Lc
11,20).
E Ele mesmo distingue
bem os casos de doença dos de possessão, ao dizer: “Eis que eu
expulso os demônios e opero curas” (Lc 13, 32).
A Liturgia e a prática
da Igreja, com a instituição dos exorcismos, bem como o ensinamento
dos teólogos, indicam que Ela crê na possessão diabólica. Ao
mesmo tempo, estabelecendo que os exorcismos sobre possessos não
sejam feitos senão depois de maduro exame e mediante especial
autorização, a Igreja indica que não se deve crer levianamente nos
casos de possessão.
Em resumo, que se
tenham dado alguns casos, pelo menos de verdadeira possessão
diabólica, como os relatados nos Evangelhos, é verdade de fé; que
depois se tenham dado outros, é doutrina comum dos teólogos, que
não pode ser negada sem temeridade.
Natureza da
possessão
A possessão consiste
em um domínio que o demônio exerce diretamente sobre o corpo e
indiretamente sobre a alma de uma pessoa. Esta se converte em um
instrumento cego, dócil, fatalmente obediente ao poder perverso e
despótico do demônio.
O indivíduo em tal
estado é chamado justamente possesso, endemoniado, enquanto
instrumento, vitima do poder demoníaco, ou energúmeno, porque
mostra uma agitação insólita.
Características
A possessão se
caracteriza por dois elementos: a) presença do demônio no corpo do
homem; b) exercício de um poder por parte demônio sobre o mesmo.
Quanto a presença
demoníaca, ela não significa uma presença física, como anjo
(decaído), o demônio é puro espírito; sua presença se dá pelo
contato operativo, isto é, o demônio está onde atua desse modo, o
demônio pode desenvolver sua atividade por toda a parte, tanto fora
como dentro dos corpos humanos. Sendo assim, um indivíduo pode
estar possuído por vários demônios (os quais operam
simultaneamente sobre ele, embora sob aspectos diversos), como um só
demônio pode possuir várias pessoas (atuando sucessivamente sobre
cada uma delas).
O modo como se opera
a possessão é explicado por São Tomás de Aquino:
“Os anjos bons e os
maus têm o poder, em virtude de sua natureza, de modificar nossos
corpos, como qualquer outro objeto material. E como eles estão
presentes num lugar na medida em que operam nele, assim eles penetram
em nossos corpos. Do mesmo modo, ainda, eles impressionam as
faculdades ligadas a nossos órgãos: às modificações dos órgãos
respondem as modificações das faculdades. Mas a impressão não
chega até à vontade, porque a vontade, nem seu exercício, nem em
seu objeto, depende de um órgão corporal; ela recebe seu objeto da
inteligência, na medida em que esta desentranha, do que ela percebe,
a noção de bondade do ser”. (In 2dum Sent., Dist. VIII, q. un. a.
5, sol. apud L. ROURE, Possession Diabolique, col.)
Em outro lugar o Santo
Doutor explica que o diabo não pode penetrar diretamente na alma do
homem, pois isto somente a Santíssima Trindade pode fazer. (Suma
Teológica, 3,q. 8,a.8) Isto quer dizer que, na possessão, embora o
demônio domine o corpo, sobretudo o sistema nervoso, e possa impedir
o uso das potências da alma, ele não pode penetrar nela e obrigar
sua vítima a cometer um pecado, ou aceitar as doutrinas diabólicas.
O possesso não é
moralmente responsável por seus atos, por piores que sejam, uma vez
que não tem plena consciência deles, nem existe colaboração da
vontade.
Efeitos da ação do
demônio sobre o possesso
A presença operante do
demônio no endemoniado não é contínua, mas se manifesta por
períodos de crise. Não falta ao demônio poder nem vontade de
atormentar ininterruptamente sua vítima, tal o ódio ao homem; Deus
é que não o permite, pois a pessoa não resistiria.
A influência do
demônio sobre os possessos não é simplesmente indireta ou moral,
como, por exemplo, nas tentações, mesmo as mais fortes; ela é uma
ação direta e física, exercida pelos espírito das trevas sobre os
órgãos corporais do infeliz submetido ao seu império. De onde
resulta para este último um estado doentio, estranho, que sai das
leis ordinárias das afecções mórbidas, embora frequentemente
acompanhado de fenômenos de ordem puramente natural, que o demônio
determina nele, simultaneamente com aqueles que ultrapassam a esfera
própria aos agentes físicos. Esses fenômenos são habitualmente
uma superexcitação geral e profunda de todo o sistema nervoso.
Outras vezes, ao
contrário, o demônio comunica à sua vítima um crescimento
extraordinário da força muscular. O infeliz entra em fúria a ponto
de espumar de raiva, ranger os dentes, soltar gritos espantosos,
precipitar-se na água ou no fogo. Ele se torna então perigoso para
aqueles que se aproximam dele; destrói, como simples pedaço de
palha, as cadeias de feno com as quais o querem prender; e, se ele
não puder atingir os outros, volta conta si mesmo o seu furor,
arranhando-se com as unhas, machucando-se com as pedras do caminho.
Essa ação
perturbadora e nociva do demônio sobre os órgãos corporais
expande-se sobre as faculdades mistas, como a imaginação, a
memória, a sensibilidade. Estende-se mesmo mais longe e mais alto no
ser humano, porque ela tem sua repercussão até na inteligência.
As operações intelectuais apresentam, às vezes, um tal caráter de
incoerência, que os demoníacos parecem atingidos de alienação
mental. Não é raro também ver-se produzir, no domínio do
espírito, um fenômeno análogo àquele que se passa no seus órgãos.
Assim como o demônio, em lugar de paralisar as energias corporais do
demoníaco, aumenta seu poder, do mesmo modo, em vez de diminuir suas
luzes naturais, ele comunica à sua inteligência conhecimentos que
ultrapassam de muito seu poder.
Possessão e
infestação: fenômenos da mesma espécie
A infestação pessoal
(ou obsessão) e a possessão constituem fenômenos da mesma espécie,
variando apenas em grau, e são classificadas pelos teólogos como
ações extraordinárias e diretas do demônio, enquanto a tentação
é indicada como ordinária e indireta.
Observa o Cardeal
Lepicier que a diferença entre a infestação pessoal e a possessão
não é um diferença de espécie, mas somente de grau, visto que
estas formas diferem mais ou menos, conforme for maior ou menor o
grau do poder exercido pelo demônio sobre o corpo do indivíduo a
quem ele resolveu atormentar. Os fenômenos de infestação pessoal
não são, por vezes, menos graves do que os de possessão. De fato,
o Ritual Romano não estabelece diferença alguma entre eles, e as
línguas latina e italiana têm apenas uma palavra clássica para
designar ambas as formas, isto é, obsessão diabólica.(Cf. Card. A.
LEPICIER, O Mundo Invisível, p. 277.)
É verdade — explica
o Pe. Roure — que a possessão não penetra até o íntimo da alma;
consequentemente ela não pode ditar, impor ao possesso um ato
pessoal de inteligência ou de vontade; mas a ação diabólica chega
a neutralizar, a impedir o exercício da inteligência e da vontade,
de modo que o possesso torna-se incapaz de conhecer, de julgar e de
querer tudo o que se passa e se agita nele. Na infestação tal não
se dá; a vítima conserva o domínio de suas faculdades superiores
(a inteligência e a vontade), e pode mesmo servir-se delas para
enfrentar os assaltos do Maligno. Dessa forma acontece que a
efervescência diabólica pode deixar o fundo da alma em paz (Cf. L.
ROURE, Possession Diabolique, cols. 2645-2646.)
Causas da possessão
Punição,
provação...
A permissão dada por
Deus ao demônio de, na possessão apoderar-se assim dos órgãos
corporais e das faculdades espirituais de uma criatura humana, é, às
vezes, punição de certos pecados graves cometidos pelos possessos,
em particular os pecados da carne. Entretanto não é sempre assim.
Um endemoniado não é necessariamente culpado. Algumas vezes, Deus
permite esse estado para ressaltar sua glória pela intervenção
ostensiva de seu poder absoluto (cf. Jo 9, 1-8), ou para provar os
possessos.
São Boaventura explica
que Deus permite a possessão “seja em vista de manifestar sua
glória, obrigando o demônio pela boca possesso a confessar, por
exemplo, a divindade de Cristo, seja para punição do pecado, seja
para nossa instrução. Mas, por qual dessas causas precisamente ele
deixa o demônio possuir um homem, é o que escapa à sagacidade
humana: os julgamentos de Deus são escondidos aos homens. O que é
certo, é que eles são sempre justos” (In 2dum Sent. dist. VIII.
part II. q. 1 art úni- co apud L. ROURE, Possession Diabolique.,
col. 2644.)
O caráter espetacular
da possessão acaba por apresentar um efeito apologético e ascético
benéfico, pois torna patente e quase visível a existência do
Espírito das trevas.
Esta é uma das razões
pelas quais Deus permite a possessão diabólica, pois obriga o
Maligno a agir como que a descoberto, dando mostras públicas da sua
maldade, do seu ódio contra o homem e a criação.
Práticas
supersticiosas, espiritismo, macumba
Não devemos esquecer,
entre as causas das infestações e da possessão, as práticas
supersticiosas, o recurso a magos, pais-de-santo, cartomantes,
adivinhos, etc.
“O demônio, quando
um homem colabora com ele em práticas supersticiosas, facilmente
exerce sobre esse indivíduo a mais cruel e implacável tirania” —
observa o Cardeal Lepicier. Ele chama a atenção para as práticas
espíritas: “Não pode haver dúvida de que atuar como médium é o
mesmo que expor-se aos perigos da obsessão diabólica ... Recorrer a
um médium é, pois, equivalente a cooperar na obsessão de uma
pessoa”. (Card. A. LEPICIER, O Mundo Invisível, pp. 222-223.)
Uma das causas muito
comuns da ação extraordinária do demônio sobre pessoas é o
malefício, a respeito do qual falaremos adiante. O Pe. Gabriele
Amorth, exorcista da Diocese de Roma, afirma que os casos mais
difíceis de infestação e de possessão diabólica que ele tem
encontrado são os resultantes de macumbas realizadas no Brasil e na
África. (Cf. G. AMORTH, Un esocista racconta, pp. 116 e 157.)
Existem ainda casos de
possessão voluntária, em que a pessoa que recorreu ao diabo e fez
um pacto com ele pode agir como um instrumento do Maligno para levar
avante os desígnios dele. A figura típica do médium de Satanás,
foi Hitler, segundo julga o teólogo e demonólogo beneditino
austríaco Dom Aloïs Mager.(“Não há nenhuma outra definição
mais breve, mais precisa, mais adaptada à natureza de Hitler que
esta tão absolutamente expressiva: Medium de Satã” (D. Aloïs
MAGER O.S.B., Satan de nos jours, p. 639).) Poderiam ser mencionadas
igualmente as figuras sinistras de Lenin, Stalin, e tantos outros...
Frequência da
possessão
Após o estabelecimento
da Igreja, o número dos demoníacos diminuiu, de muito, nas nações
tomadas cristãs. E que, pelo Batismo e demais Sacramentos, os fiéis
são preservados desses ataques sensíveis do demônio. Este perdeu
seu império, mesmo sobre aqueles que, embora batizados, vivem de
maneira pouco conforme com à Fé de seu Batismo. Membros da Igreja,
embora membros mortos, eles encontram nessa união, entretanto
imperfeita, ao Corpo Místico de Cristo, um socorro em geral
suficiente para que o demônio não possa apoderar-se deles, como
faria, se se tratasse de pagãos. “Entretanto — observa o Pe.
Ortolan — não so- mente nas regiões que não receberam o
Evangelho, mas também naqueles em que a Igreja está estabelecida,
encontram-se ainda demoníacos. Seu número aumenta na proporção do
grau de apostasia das nações que, outrora católicas, abandonam
pouco a pouco a Fé, e retornam ao paganismo teórico e prático”
(T. ORTOLAN, Demoniaque, col.410.)
Para avaliarmos
corretamente a presença e atua- ção do demônio no mundo atual é
preciso considerar que o estado de apostasia a que se referia o Pe.
Ortolan há mais de quarenta anos — chegou em nossos dias a um grau
inimaginável. E que, mais ainda do que os casos de possessão, o
número dos infestados é sem conta.
Possessão
diabólica: o diagnóstico
“Para
estabelecer a realidade de uma possessão, um único método é
válido: provar a presença dos sinais indicados no Ritual Romano”.
(Dom Louis de Cooman, Bispo-missionário e exorcista)
Estados patológicos
e possessão diabólica
Problema complexo
Um dos problemas mais
complexos colocados pela ação diabólica extraordinária sobre o
homem é o seu diagnóstico. A questão consiste em saber quando
estamos realmente em presença de uma ação preternatural (isto é,
provocada por anjos ou demônios) ou diante meras manifestações de
morbidez, ou de outro gênero, por certo incomuns, mas que não
escapam ao âmbito dos fenômenos naturais da alçada da Medicina e
outras ciências.
Nem sempre é fácil
distinguir entre as infestações e possessões demoníacas e certos
fenômenos de natureza mórbida, pois é sabido que inúmeros
distúrbios patológicos, especialmente de caráter
neuro-psiquiátrico, provocam estados de extrema agitação,
decuplicam as forças físicas, provocam fobias em relação às
coisas sacras, etc. Em resumo, fazem o pobre doente parecer um
possesso.
É o que faz notar o
Cardeal Alexis Henri Marie Lé- picier, O.SM.:
Sabemos que em algumas
pessoas a imaginação, estando fora do normal, pode ultrapassar os
seus naturais limites e ser a origem de manifestações estranhas
que, à primeira vista, apresentam uma certa afinidade com
ocorrências preternaturais [isto é, produzidas por anjos ou
demônios]. ... Todos nós sabemos quantas perturbações pode causar
uma doença nervosa em certas criaturas, como, por exemplo, nas que
sofrem de histeria. Há, de fato, nas ações destes indivíduos
muitas coisas que causam admiração. ... Mas é principalmente nos
períodos de paroxismo que a histeria está mais apta a exibir muitos
e curiosos fenômenos, o principal dos quais é a alucinação.
“Toda gente vê,
portanto, a necessidade imperiosa de estabelecer a distinção entre
estes fenômenos e os que são devidos a causas preternaturais”
(Card. A. LEPI- CIER, O Mundo invisível, p. 201.)
Outras vezes, são
fenômenos da natureza, insuficientemente explicados pelos
cientistas, ou simplesmente fora de alcance de pessoas sem formação
especializada: luminosidades, movimentos de massas de ar, variações
térmicas, etc., os quais podem parecer fenômenos maravilhosos
provocados por ação diabólica.
Objetividade e rigor
científico
Mons. F. X. Maquart —
renomado estudioso da matéria - compara o diagnóstico do exorcista
ao diagnóstico médico.
O exorcista deve
proceder com a mesma objetividade, o mesmo rigor que o exame do
médico, de modo a não deixar fora do exame nenhuma das
manifestações apresentadas pelo comportamento do paciente, evitando
com isso deixar-se levar pela impressão, que pode ser enganosa. Esse
exame crítico tem por finalidade eliminar alguma possível
explicação natural observável na presumida manifestação
diabólica.
Mons. Maquart explica
que um certo número de sintomas da possessão são comuns com os de
algumas doenças como a psicastenia, a histeria, algumas formas de
epilepsia, etc. Como fazer para discernir então entre um simples
doente mental e um possesso pelo demônio? Entram em jogo os outros
sinais da possessão, que não têm explicação natural: falar
línguas estrangeiras não aprendidas, conhecer fatos à distância,
revelar ciência ou força física muito em desproporção com a
idade, etc. ( Cf. F. X. MAQUART. L´Exorciste devant les
manifestations diaboliques, pp. 338-339.)
Essa posição exige,
ao mesmo tempo, muita objetividade e bom senso, ao lado de muita fé.
Pois, como é evidente, não se pode, sob pretexto de que o
extranatural é uma exceção, negar em princípio toda a ação
demoníaca, ou proceder de tal forma como se sempre se tivesse que
encontrar, a qualquer preço, uma explicação natural.
Perigos de um
diagnóstico errado
Um diagnóstico errado
não é isento de perigos, tanto de ordem moral e espiritual, como
até mesmo física.
Em primeiro lugar, a
prática de exorcismos em simples doentes mentais, sem que estes,
obviamente, experimentem qualquer melhora, pode conduzir ao
descrédito em relação aos mesmos exorcismo e às coisas sagradas
de modo geral. Pode ainda oferecer argumentos aos céticos, que se
aproveitarão para tachar a prática dos exorcismos como puramente
supersticiosa.
Além do mais, a
prática dos exorcismos solenes representa para o exorcista um
desgaste muito grande, o qual seria sem fruto em caso de erro de
diagnóstico. Por fim, o exorcizar doentes mentais oferece o perigo
de agravar seus males, seja pela grande tensão e esforço mental e
até físico que o exorcismo comporta, seja pelo caráter
impressionante deste.
É o que afirma Mons.
Maquart, experimentado de- monólogo francês: “Não seria sem
inconvenientes graves exorcizar, sob simples aparências de
possessão, doentes mentais. Em vez de os curar, o exorcismo teria o
risco de agravar seu mal”. (Mgr F. X. MAQUART, L ‘Exorciste devam
les manjfestations diaboliques, p. 328.)
O mesmo assegura Dom
Gustavo Waffelaert (Bispo de Bruges): “Há inconveniente real em
exorcizar uma pessoa não possessa. Por ela, antes de tudo; pois o
exorcismo, pela forte impressão que produz, pode afetar
desfavoravelmente um sistema nervoso já perturbado e acabar de o
arruinar; ele é também um poderoso meio de sugestão e arrisca
desenvolver, num indivíduo fraco, hábitos mórbidos. Além do que,
não se tem o direito de empregar, sem motivo grave, as orações
sagradas do Ritual: é preciso que elas tenham um objeto. Dessa
forma, a Igreja, para permitir o exorcismo, requer a prudência e um
julgamento moralmente certo ou ao menos provável da possessão” .
(Mgr G. 3. WAFFELAERT, Possession Dia- bolique. col. 55.)
Em muitos lugares —
como nas dioceses de Roma e Veneza - os exorcistas trabalham sempre
em estreita união com psiquiatras católicos, os quais os ajudam a
distinguir meros doentes de eventuais possessos; por seu lado, esses
profissionais, muitas vezes, recorrem aos serviços dos exorcistas,
quando percebem em seus clientes sinais que ultrapassam os limites da
Medicina.
Na realidade, certas
manifestações, à primeira vis- ta patológicas, podem esconder a
ação do Maligno. Por isso o médico católico não deve excluir sem
mais a possibilidade dessa ação, conforme observa Mons. Catherinet:
“O médico que quiser manter-se um homem completo, sobretudo se ele
possuir as luzes da fé, não excluirá, a priori, a presença do
demônio, podendo, em certos casos, suspeitar, por trás da doença,
a presença e a ação de alguma força oculta (cujo estudo ele
pedirá ao filósofo ou ao teólogo, os quais se guiam segundo seus
próprios métodos). (Mgr F. M. CATHERJNET. Les Demoniaques dons l
Évangile, pp. 324-32.)
Critérios seguros
A Igreja nunca negou
essa dificuldade de diagnóstico da possessão; ao contrário, sempre
foi muito cautelosa no pronunciar-se sobre os casos concretos,
recomendando que na avaliação de cada um deles se examine com muito
cuidado se o fenômeno pode ter uma origem natural. Só depois de
diligente e acurado exame, e de descartadas todas as possibilidades
de explicação natural, é que a Igreja autoriza a proceder aos
exorcismos solenes sobre os possessos. Para garantir tal rigor de
procedimento, a Igreja estabeleceu que esses exorcismos só podem ser
praticados por sacerdotes devidamente autorizados pelo Ordinário do
lugar para cada caso concreto; bispo não pode dar essa autorização
senão a um padre de conhecida ciência, prudência, piedade e
integridade de vida. (Cf. Código de Direita Canônico, cânon 1172 §
§ 1 e 2.)
Dom Louis de Cooman,
antigo Vigário Apostólico no Vietnã ( ele próprio exorcista em um
caso famoso de possessão coletiva, que será relatado adiante), dá
o único critério que considera seguro para se determinar se há ou
não possessão: “Para estabelecer a realidade de uma possessão,
um único método é válido: provar a presença dos sinais clássicos
indicados pela Igreja no Ritual Roma- no” (Mgr Louis de COOMAN, Le
Diable au Couvent, p. 12.)
O Ritual Romano (que
data do século XVI) estabeleceu, para orientar exorcistas, os
seguintes indícios por parte do suposto possesso: 1. Falar ou
compreender línguas estrangeiras sem tê-las antes aprendido; 2.
Revelar coisas secretas ou distantes; 3. Manifestar força física
acima de sua idade e condição; 4. E outras manifestações do mesmo
gênero, que quanto mais numerosas forem, mais constituem indícios.
(Rituale Romanum, Tit. XI, Cap. 1, n. 3.)
Se certas manifestações
(como, por exemplo, demonstrar uma força extraordinária, dar uivos
animalescos, gritar blasfêmias ou palavrões) podem ser causadas por
uma doença, a revelação de pensamentos ocultos ou o conhecimento
de coisas que se passam à distância já não podem ter a mesma
explicação. Hoje em dia muitas pessoas (infelizmente até
sacerdotes) pretendem negar, senão doutrinariamente, ao menos na
prática, toda possibilidade de possessão ou infestação diabólica,
apresentando explicações pseudo-cientificas em nome da
Parapsicologia. A esse respeito observa Mons. Louis Cristiani: querer
dar uma explicação natural às manifestações demoníacas pela
Parapsicologia é explicar o obscuro pelo mais obscuro ainda...
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