Que recompensa tereis?

by - abril 26, 2015

Salve Maria Imaculada, nossa Co-Redentora e Mãe!

Amar quem não merece. Deus nos amou, mesmo sem nós merecermos. Deus nos ama, apesar de continuarmos sem merecer. O Amor de Deus é incondicional, ou seja, Ele ama e ponto; não impõe condições para amar. Nós, pelo contrário, impomos muitas condições para amar. Amar? Se é que amamos. Pois na verdade o que vivemos é uma troca: você me dá algo que me agrade, e eu te dou o que queres. Isso é amor? Não. Amor é o de Cristo – pois Ele mesmo é o Amor – que se entregou livremente por nós para nos salvar, mesmo sabendo que você e eu cometeríamos tantas infidelidades. Veja, mesmo Jesus sabendo que Pedro O negaria, ainda assim o delegou como primeiro Papa da Igreja (cf. Mateus 16,18-19). Porque o Amor de Deus restaura. E o Amor de Deus por Pedro é maior do que a negação dele. O Amor de Deus por nós é infinitamente maior do que o nosso pecado. Deus nos ama, e se Deus nos ama, devemos amá-Lo da mesma forma.

Mas, infelizmente, nós temos um “amor” viciado. E mesmo vendo o quanto Deus nos amou, e mais belo ainda: a forma que Deus nos amou. Deus nos amou na gratuidade, sem pedir nada em troca. Nós, pelo contrário, não amamos ninguém; e nos gestos de supostos amor, é tudo uma moeda de troca.

São João nos ensina que “Deus é amor” (cf. 1João 4,8). E por isso ele conclui que “Aquele que não ama não conhece a Deus”. Ora, Santa Catarina de Sena após uma experiência real com Jesus Cristo pode entender, pela Sabedoria divina, que nós não podemos ser úteis a Deus, portanto, nós devemos manifestar o nosso amor para com Deus amando nossos irmãos. Em suas cartas encontramos várias vezes o ensinamento de que, para Deus, a honra, a glória, a adoração; mas para os nossos irmãos a fadiga do trabalho. Portanto, se Deus não precisa de mim, manifesto meu amor, minha gratidão, meu serviço para Ele através dos irmãos. Jesus está doente para que eu possa visitá-Lo? Não, mas em cada enfermo lá está Jesus, amemos Jesus nesse enfermo. Jesus mora nas ruas? Não, mas em cada morador de rua lá está Jesus, amemos nosso Senhor na pessoa do pobre. Jesus está ignorante para que eu lhe dê a Palavra? Não, portanto levemos a palavra para quantos dos nossos irmãos que jazem na ignorância. Deus me curou, mas não posso curar Deus, afinal, Ele é Deus, e não uma criatura pecadora; então agradeço a Deus e manifesto meu amor para com Ele ajudando a curar a outros.

Mas a Palavra de Deus vai ser muito clara ao dizer: “Recebestes de graça, de graça dai” (Mateus 10,8). Ora, sendo assim eu não posso nem vender os carismas que Deus me deu, e nem muito menos amar por interesse. É de graça. Aprendamos mais da Palavra de Deus: “Nisto temos conhecido o amor: (Jesus) deu sua vida por nós. Também nós outros devemos dar a nossa vida pelos nossos irmãos. Quem possuir bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como pode estar nele o amor de Deus.” (1João 3,16-17) Se Cristo deu a vida por mim, temos que dar a nossa vida por Cristo; e isso acontece concretamente quando dou minha vida gratuitamente aos irmãos. E é dar de graça, sem querer receber algo em troca. Isso dói. É difícil de viver. Mas, como bem dizem, se não doer não é amor. O amor dói na carne.

Tive a experiência de contemplar essa realidade egoísta da nossa parte. Nós amamos somente com palavras e com a língua, não em obras como ensina o Apóstolo em João 3,18.

Certo dia em um shopping, esperando uma pessoa, fui abordado por um aparente morador de rua me pedindo...bom acho que era 50 centavos. Eis que não lhe dei a esmola. Continua o pedinte com sua tentativa. E... nada. Não me recordo de alguém ter lhe dado algo. Um momento depois, porém, após ter dado uma volta – enquanto ainda esperava – eis que aparece em frente do shopping uma figura bizarra: um homem com uma fantasia de Robocop imitando um robô em seus movimentos (não me diga!). Imitava uma espécie de voz “computadorizada”. Subiu em cima de um caixote e ficava praticamente imóvel. Quando alguém colocava uma moeda: barulhinho do robô se mexendo, sorrisos, surpresas, “muito obrigado” (Com voz “computadorizada”). Foi aquela festa! Muitos sorrisos, apareceu um tio com uma filmadora, as crianças adoraram! Eita! Sucesso. Parou a frente do shopping. Até gente grande foi tirar foto com o Robocop. E sempre a moeda ou algum dinheirinho caindo na caixinha. Que benção, heim?. Mas heim, deixa eu te falar: e o pedinte que me pediu esmola? É, talvez até você, caro leitor, tenha se esquecido dele.

Qual a diferença do mendigo para o “Robocop”? A diferença é que o mendigo me pede, e não tem nada para me dar em troca; a não ser, é claro, boa parte que me oferece o obrigado, o Deus lhe pague. Mas isso nós nem prestamos atenção, porque nos fixamos no bafo de cachaça, no fedor de suor unido a dias sem banhar, nas feridas, no julgamento de que não é nada mais do que um maltrapilho usuários de drogas que colhe o que plantou. Nós negamos esmola para o mendigo porque ele não tem nada a nos oferecer de bom. O Robocop não. Muito pelo contrário. O Robocop atrai nossos olhares, é exótico, é belo. Ele sabe imitar o barulho de um robô, faz os movimentos certinhos. Esse cara é um belo artista de rua. Tira uma foto comigo? Ninguém quer tirar foto com o morador de rua. O mendigo pede 50 centavos, nós lhe damos um não (isso quando não são tão ignorados ao ponto da pessoa nem resposta dar); o artista de rua pede ajuda financeira, e nós damos dinheiro, aplauso, abraço, gritos de “mais um”, tiramos foto, etc. O artista me dá algo, ou seja, o fruto da sua arte; o mendigo não me dá nada.

Mas existe uma grande diferença entre os dois, e que infelizmente não prestamos atenção. Diante de um morador de rua e/ou viciado acabamos por não querer apertar sua mão, não o abraçamos, não dizemos “Jesus te ama”, não queremos tirar foto com ele. Ou seja, nós não queremos apertar a mão de Jesus! Nós não queremos abraçar Jesus! Nós não queremos tirar foto com Jesus! Porque cada vez que fazes algo a um destes pequeninos – diz o Senhor – é a Mim que fizestes. A esmola dada aos pequeninos valem muito, porque estes não tem nada a me oferecer. Claro, é lícito e louvável dar ajuda aos artistas de rua (longe de mim dizer que não se pode dar. Deve se pagar sim. É um talento e um dom que Deus deu, na maioria dos casos. É seu meio de sobrevivência).O que estou querendo dizer, porém, é que para estes que me dão algo em troca: o Robocop com sua imitação, o comediante com sua arte de me fazer rir (infelizmente boa parte com piadas impuras, evitemos o dar ouvidos as impurezas, porque também pecamos), o jogador que faz embaixadinhas e verdadeiros marabares com a bola de futebol, o próprio marabalista no sinal (ainda mais quando usa fogo)... Uau! Show de bola! Para estes dou com alegria e entusiasmo; porém para o maltrapilho que fede, dou meu despreso. Ora, que incoerência. Já nos ensinou Jesus: Se amais os que vos amam, que recompensa mereceis? Também os pecadores amam aqueles que os amam. E se fazeis bem aos que vos fazem bem, que recompensa mereceis? Pois o mesmo fazem também os pecadores” (Lucas 6,32-33) – Da mesma forma, não podemos fazer o bem para fulano, ciclana, porque este me retribuirá depois. Ou mesmo, no exemplo que citei, porque este “faz por merecer” com uma arte, enquanto o outro não. Que recompensa merecemos? Até porque o próprio Jesus vai ser mais radical e dizer “Dá a todo o que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho reclames” (Lucas 6,30). Como é difícil colocar em prática este versículo. Não é verdade. Mas se Deus pede, Ele dá a graça. Que possamos tentar viver assim.

Mas o fato é que além de não amarmos o pobre que anda pedindo esmola, ainda o julgamos. Ele pediu cinquenta centavos, e não o meu e o teu julgamento. Veja, muitos alegam: “não vou dar esmola porque ele vai beber ou usar droga”. Mas, me diga: você me garante que o artista de rua também não vai beber e/ou usar droga? E mesmo que este faça isso: não consegues compreender que este entrou em estágio de vício. Ele te pede esmola, e recebe de você a desconfiança. Claro, provavelmente boa parte use pra se embriagar. Mas como que não vai se embriagar? São rodeados de gente podre e hipócritas como nós que nem olhamos em seus rostos e já torcemos o nariz julgando-os. Se uma artista famosa da televisão, um jogador de futebol, enfim, uma celebridade, até nós cristãos de caminhada, diriamos “Jesus te ama”; mas porque não dizes isso pra um morador de rua. Muitos chegam a dizer pra artista A ou B “eu te amo”. O artista nem sabia que tu existia, nem vai lembrar de você. E tem alguém bem ali escorado na parede do seu prédio, dormindo na parada próximo a sua casa, fedendo, bebendo, se drogando porque não conheceu ou não permaneceu no amor de Deus, necessitado de receber um abraço e um “eu te amo” e principalmente “Jesus Cristo te ama”. Mas não, o morador de rua não usa perfume francês e é um zé ninguém. Saiba, este Zé ninguém, no dia do nosso juízo, aparecerá como Jesus Cristo. E como temos tratado Jesus?

É sempre bom lembrar que muitos dizem: “dinheiro eu não dou, mas se tiver com fome eu compro a comida pra ele comer”. Legal, quantas vezes fez isso? Claro, muita gente faz. Mas muitos de nós – incluo-me – fica só na conversa. Dê os teus 50 centavos, outro dá 30, outro 70, no fim dá pro cara comprar algo pra comer. Comer? É pra comprar crack – brada os de coração mais duro. Mas será mesmo? Lembremos que mesmo o crack, droga pesada que é, fazendo a pessoa ficar dias perambulando sem dormir e sem comer, uma hora ela come. O alcoólatra que mora na rua, bebe, bebe, bebe, infelizmente, é uma realidade. Porém, uma hora ele também come. Você faz pastoral pelo menos uma vez por mês pra levar alimento pra eles? Não? Então tá reclamando de quê? Dê a moeda, o que ele fará com ela não será nós que responderemos. Talvez use pra droga, mas talvez pra comida. Veja, algo me tocou nesse sentido. Também tive essa mentalidade de que não se deve dar esmolas – ou evitar – porque fulano vai usar drogas e bla,bla,bla. Um dia no terminal de ônibus de onde moro, esperando o baú sair para que eu me dirigisse até o grupo de oração, eis que um aparente alcoólatra vem pedir dinheiro. Eu pensei: pra beber. Pra minha supreza (ou vergonha) aquele homem entra na lanchonete do local, compra um (ou dois, não lembro) salgado e um copo de suco. Aquele homem tava com tanta cede, que, tremendo (unindo fome e alcoolismo), que bebeu todo o suco e teve que ir comendo seu salgado seco. Meu Deus! Que vergonha para mim. Desse dia em diante acho que sim, devemos dar esmolas. Eu não sou Deus pra saber o que a pessoa fará com o dinheiro. Se você tiver dinheiro pra comprar a comida, compre. Se não tiver, ajude com o que tiver. Talvez por causa do nosso preconceito alguém esteja com fome. Faça algo.

Ah, meus irmãos e irmãs. Nós devemos nos envergonhar. O mundo geme e sofre a espera da manifestação dos filhos de Deus, que somos nós. Nós devemos amar os não amáveis, que não tem nada para oferecer.

Lembrando também que não só de pão vive o homem e, sendo assim, posso garantir-vos que muitos moradores de rua sonham em ter um escapulário, um Tau, um crucifixo, um terço. Enfim, porque nós não realizaríamos este sonho deles? Muitas vezes fazemos grandes esforços para agradar pessoas, seja porque gostamos delas, seja porque elas podem nos dar algo. Mas estes não nos retribuirão senão com suas orações. Ah, irmãos, não sejamos tão cruéis com o Cristo que sofre no pobre. Pregamos em belos púpitos, pra platéia, que tal rezarmos um Terço junto aos moradores de rua? É, morador de rua não paga contribuição pro “missionário” nem a gasolina, nem mesmo tem Facebook pra postar “pregador fulano, este homem é uma benção”. Verdadeiramente estes não tem com que retribuir. Por que então não amo a este? Por que queremos pregar pra multidão, fazer show's que muitas vezes nem difere dos mundanos, e tantas coisas, mas ao mesmo tempo não tem ninguém que queira levar o poder do Espírito Santo dentro dos presídios. Estes não me retribuirão, não pagarão cachê, não comprarão CD.

Ah, chegando a este ponto do texto fico até com a impressão de estar confundindo as ideias. Mas é fato, nós (você, eu, NÓS) estamos confundindo e não amando a todos incondicionalmente. Amemos o Amor. Não imponhamos condições pra amar a Deus. Deus é tão maravilho que mesmo sabendo da nossa miséria, faz-nos mergulhar em Sua Misericórdia. Mesmo sabendo que o que escrevo trata-se de lutas do meu coração, usa-me para clamar a vós: ame a todos incondicionalmente. Ame quem te retribuiu, ame quem não te retribui. Ame a Deus em todos.

No mais é só palavras ao vendo. Amar (amor de verdade, não o sentimentalismo e nem a filantropia confundida com caridade. Falo aqui do amor, amar em Deus, que é amor). Eis a condição pra servir. Eis que Deus quer que O amemos sobre todas as coisas, e aos nossos irmãos como a nós mesmos. Todos os irmãos. Todos. O que tem talento, e o que tem vício. Todos.

No mais cito abaixo as obras de Misericórdia para que possamos colocar em prática, até inflamados pela proclamação do ano da Misericórdia pelo Papa Francisco, temos maior obrigação de praticarmos essas obras. Praticando-as, saiba que é ao próprio Cristo que praticamos e receberemos a recompensa. Lembro que por nós mesmos somos incapazes, mas é Ele mesmo que vem amar os irmãos em nós. Preencha-se do amor de Deus, e leve Deus a toda a humanidade.

Obras de Misericórdia corporais:
1ª Dar de comer a quem tem fome;
2ª Dar de beber a quem tem sede;
3ª Vestir os nus;
4ª Dar pousada aos peregrinos;
5ª Assistir aos enfermos;
6ª Visitar os presos;
7ª Enterrar os mortos.


Obras de Misericórdia espirituais:
1ª Dar bom conselho;
2ª Ensinar os ignorantes;
3ª Corrigir os que erram;
4ª Consolar os aflitos;
5ª Perdoar as injúrias;
6ª Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo;
7ª Rogar a Deus por vivos e defuntos.

"A água apaga o fogo ardente, a esmola enfrenta o pecado. Deus olha para aquele que pratica a misericórdia; dele se lembrará no porvir, no dia de sua infelicidade este achará apoio. Meu filho, não negues esmola ao pobre, nem dele desvies os olhos. Não desprezes o que tem fome, não irrites o pobre em sua indigência. Não aflijas o coração do infeliz, não recuses tua esmola àquele que está na miséria; não rejeites o pedido do aflito, não desvies o rosto do pobre. Não desvies os olhos do indigente, para que ele não se zangue. Aos que pedem não dês motivo de vos amaldiçoarem pelas costas, pois será atendida a imprecação daquele que te amaldiçoa na amargura de sua alma. Aquele que o criou o atenderá." (Eclesiástico 3,33-34;4,1-6)


Salve Maria Imaculada, nossa Co-Redentora e Mãe! Viva Cristo Rei do Universo!

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