Que recompensa tereis?
Salve
Maria Imaculada, nossa Co-Redentora e Mãe!
Amar
quem não merece. Deus nos amou, mesmo sem nós merecermos. Deus nos
ama, apesar de continuarmos sem merecer. O Amor de Deus é
incondicional, ou seja, Ele ama e ponto; não impõe condições para
amar. Nós, pelo contrário, impomos muitas condições para amar.
Amar? Se é que amamos. Pois na verdade o que vivemos é uma troca:
você me dá algo que me agrade, e eu te dou o que queres. Isso é
amor? Não. Amor é o de Cristo – pois Ele mesmo é o Amor – que
se entregou livremente por nós para nos salvar, mesmo sabendo que
você e eu cometeríamos tantas infidelidades. Veja, mesmo Jesus
sabendo que Pedro O negaria, ainda assim o delegou como primeiro Papa
da Igreja (cf. Mateus 16,18-19). Porque o Amor de Deus restaura. E o
Amor de Deus por Pedro é maior do que a negação dele. O Amor de
Deus por nós é infinitamente maior do que o nosso pecado. Deus nos
ama, e se Deus nos ama, devemos amá-Lo da mesma forma.
Mas,
infelizmente, nós temos um “amor” viciado. E mesmo vendo o
quanto Deus nos amou, e mais belo ainda: a forma que Deus nos amou.
Deus nos amou na gratuidade, sem pedir nada em troca. Nós, pelo
contrário, não amamos ninguém; e nos gestos de supostos amor, é
tudo uma moeda de troca.
São
João nos ensina que “Deus é amor” (cf. 1João 4,8). E por isso
ele conclui que “Aquele que não ama não conhece a Deus”. Ora,
Santa Catarina de Sena após uma experiência real com Jesus Cristo
pode entender, pela Sabedoria divina, que nós não podemos ser úteis
a Deus, portanto, nós devemos manifestar o nosso amor para com Deus
amando nossos irmãos. Em suas cartas encontramos várias vezes o
ensinamento de que, para Deus, a honra, a glória, a adoração; mas
para os nossos irmãos a fadiga do trabalho. Portanto, se Deus não
precisa de mim, manifesto meu amor, minha gratidão, meu serviço
para Ele através dos irmãos. Jesus está doente para que eu possa
visitá-Lo? Não, mas em cada enfermo lá está Jesus, amemos Jesus
nesse enfermo. Jesus mora nas ruas? Não, mas em cada morador de rua
lá está Jesus, amemos nosso Senhor na pessoa do pobre. Jesus está
ignorante para que eu lhe dê a Palavra? Não, portanto levemos a
palavra para quantos dos nossos irmãos que jazem na ignorância.
Deus me curou, mas não posso curar Deus, afinal, Ele é Deus, e não
uma criatura pecadora; então agradeço a Deus e manifesto meu amor
para com Ele ajudando a curar a outros.
Mas
a Palavra de Deus vai ser muito clara ao dizer: “Recebestes
de graça, de graça dai” (Mateus 10,8).
Ora, sendo assim eu não posso nem vender os carismas que Deus me
deu, e nem muito menos amar por interesse. É de graça. Aprendamos
mais da Palavra de Deus: “Nisto temos conhecido
o amor: (Jesus) deu sua vida por nós. Também nós outros devemos
dar a nossa vida pelos nossos irmãos. Quem possuir bens deste mundo
e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração,
como pode estar nele o amor de Deus.” (1João 3,16-17) Se
Cristo deu a vida por mim, temos que dar a nossa vida por Cristo; e
isso acontece concretamente quando dou minha vida gratuitamente aos
irmãos. E é dar de graça, sem querer receber algo em troca. Isso
dói. É difícil de viver. Mas, como bem dizem, se não doer não é
amor. O amor dói na carne.
Tive
a experiência de contemplar essa realidade egoísta da nossa parte.
Nós amamos somente com palavras e com a língua, não em obras
como ensina o Apóstolo em João 3,18.
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Qual
a diferença do mendigo para o “Robocop”? A diferença é que o
mendigo me pede, e não tem nada para me dar em troca; a não ser, é
claro, boa parte que me oferece o obrigado, o Deus lhe pague. Mas
isso nós nem prestamos atenção, porque nos fixamos no bafo de
cachaça, no fedor de suor unido a dias sem banhar, nas feridas, no
julgamento de que não é nada mais do que um maltrapilho usuários
de drogas que colhe o que plantou. Nós negamos esmola para o mendigo
porque ele não tem nada a nos oferecer de bom. O Robocop não. Muito
pelo contrário. O Robocop atrai nossos olhares, é exótico, é
belo. Ele sabe imitar o barulho de um robô, faz os movimentos
certinhos. Esse cara é um belo artista de rua. Tira uma foto comigo?
Ninguém quer tirar foto com o morador de rua. O mendigo pede 50
centavos, nós lhe damos um não (isso quando não são tão
ignorados ao ponto da pessoa nem resposta dar); o artista de rua pede
ajuda financeira, e nós damos dinheiro, aplauso, abraço, gritos de
“mais um”, tiramos foto, etc. O artista me dá algo, ou seja, o
fruto da sua arte; o mendigo não me dá nada.
Mas
existe uma grande diferença entre os dois, e que infelizmente não
prestamos atenção. Diante de um morador de rua e/ou viciado
acabamos por não querer apertar sua mão, não o abraçamos, não
dizemos “Jesus te ama”, não queremos tirar foto com ele. Ou
seja, nós não queremos apertar a mão de Jesus! Nós não queremos
abraçar Jesus! Nós não queremos tirar foto com Jesus! Porque cada
vez que fazes algo a um destes pequeninos – diz o Senhor – é a
Mim que fizestes. A esmola dada aos pequeninos valem muito, porque
estes não tem nada a me oferecer. Claro, é lícito e louvável dar
ajuda aos artistas de rua (longe de mim dizer que não se pode dar.
Deve se pagar sim. É um talento e um dom que Deus deu, na maioria
dos casos. É seu meio de sobrevivência).O que estou querendo dizer,
porém, é que para estes que me dão algo em troca: o Robocop com
sua imitação, o comediante com sua arte de me fazer rir
(infelizmente boa parte com piadas impuras, evitemos o dar ouvidos as
impurezas, porque também pecamos), o jogador que faz embaixadinhas e
verdadeiros marabares com a bola de futebol, o próprio marabalista
no sinal (ainda mais quando usa fogo)... Uau! Show de bola! Para
estes dou com alegria e entusiasmo; porém para o maltrapilho que
fede, dou meu despreso. Ora, que incoerência. Já nos ensinou Jesus:
“Se amais os que vos amam, que
recompensa mereceis? Também os pecadores amam aqueles que os amam. E
se fazeis bem aos que vos fazem bem, que recompensa mereceis? Pois o
mesmo fazem também os pecadores” (Lucas 6,32-33)
– Da mesma forma, não podemos fazer o bem para fulano, ciclana,
porque este me retribuirá depois. Ou mesmo, no exemplo que citei,
porque este “faz por merecer” com uma arte, enquanto o outro não.
Que recompensa merecemos? Até porque o próprio Jesus vai ser mais
radical e dizer “Dá a todo o que te pedir; e
ao que tomar o que é teu, não lho reclames” (Lucas 6,30). Como
é difícil colocar em prática este versículo. Não é verdade. Mas
se Deus pede, Ele dá a graça. Que possamos tentar viver assim.
Mas
o fato é que além de não amarmos o pobre que anda pedindo esmola,
ainda o julgamos. Ele pediu cinquenta centavos, e não o meu e o teu
julgamento. Veja, muitos alegam: “não vou dar esmola porque ele
vai beber ou usar droga”. Mas, me diga: você me garante que o
artista de rua também não vai beber e/ou usar droga? E mesmo que
este faça isso: não consegues compreender que este entrou em
estágio de vício. Ele te pede esmola, e recebe de você a
desconfiança. Claro, provavelmente boa parte use pra se embriagar.
Mas como que não vai se embriagar? São rodeados de gente podre e
hipócritas como nós que nem olhamos em seus rostos e já torcemos o
nariz julgando-os. Se uma artista famosa da televisão, um jogador de
futebol, enfim, uma celebridade, até nós cristãos de caminhada,
diriamos “Jesus te ama”; mas porque não dizes isso pra um
morador de rua. Muitos chegam a dizer pra artista A ou B “eu te
amo”. O artista nem sabia que tu existia, nem vai lembrar de você.
E tem alguém bem ali escorado na parede do seu prédio, dormindo na
parada próximo a sua casa, fedendo, bebendo, se drogando porque não
conheceu ou não permaneceu no amor de Deus, necessitado de receber
um abraço e um “eu te amo” e principalmente “Jesus Cristo te
ama”. Mas não, o morador de rua não usa perfume francês e é um
zé ninguém. Saiba, este Zé ninguém, no dia do nosso juízo,
aparecerá como Jesus Cristo. E como temos tratado Jesus?
É
sempre bom lembrar que muitos dizem: “dinheiro eu não dou, mas se
tiver com fome eu compro a comida pra ele comer”. Legal, quantas
vezes fez isso? Claro, muita gente faz. Mas muitos de nós –
incluo-me – fica só na conversa. Dê os teus 50 centavos, outro dá
30, outro 70, no fim dá pro cara comprar algo pra comer. Comer? É
pra comprar crack – brada os de coração mais duro. Mas será
mesmo? Lembremos que mesmo o crack, droga pesada que é, fazendo a
pessoa ficar dias perambulando sem dormir e sem comer, uma hora ela
come. O alcoólatra
que mora na rua, bebe, bebe, bebe, infelizmente, é uma realidade.
Porém, uma hora ele também come. Você faz pastoral pelo menos uma
vez por mês pra levar alimento pra eles? Não? Então tá reclamando
de quê? Dê a moeda, o que ele fará com ela não será nós que
responderemos. Talvez use pra droga, mas talvez pra comida. Veja,
algo me tocou nesse sentido. Também tive essa mentalidade de que não
se deve dar esmolas – ou evitar – porque fulano vai usar drogas e
bla,bla,bla. Um dia no terminal de ônibus
de onde moro, esperando o baú sair para
que eu me dirigisse até o grupo
de oração, eis que um aparente
alcoólatra
vem pedir dinheiro. Eu pensei: pra beber. Pra
minha supreza (ou vergonha) aquele homem entra na lanchonete do
local, compra um (ou dois, não lembro) salgado e um copo de suco.
Aquele homem tava com tanta cede, que, tremendo (unindo fome e
alcoolismo), que bebeu todo o suco e teve que ir comendo seu salgado
seco. Meu Deus! Que vergonha para mim. Desse dia em diante acho que
sim, devemos dar esmolas. Eu não sou Deus pra saber o que a pessoa
fará com o dinheiro. Se você tiver dinheiro pra comprar a comida,
compre. Se não tiver, ajude com o que tiver. Talvez por causa do
nosso preconceito alguém esteja com fome. Faça algo.
Ah,
meus irmãos e irmãs. Nós devemos nos envergonhar. O mundo geme e
sofre a espera da manifestação dos filhos de Deus, que somos nós.
Nós devemos amar os não amáveis, que não tem nada para oferecer.
Lembrando
também que não só de pão vive o homem e, sendo assim, posso
garantir-vos que muitos moradores de rua sonham em ter um
escapulário, um Tau, um crucifixo, um terço. Enfim, porque nós não
realizaríamos este sonho deles? Muitas vezes fazemos grandes
esforços para agradar pessoas, seja porque gostamos delas, seja
porque elas podem nos dar algo. Mas estes não nos retribuirão senão
com suas orações. Ah, irmãos, não sejamos tão cruéis com o
Cristo que sofre no pobre. Pregamos em belos púpitos, pra platéia,
que tal rezarmos um Terço junto aos moradores de rua? É, morador de
rua não paga contribuição pro “missionário” nem a gasolina,
nem mesmo tem Facebook pra postar “pregador fulano, este homem é
uma benção”. Verdadeiramente estes não tem com que retribuir.
Por que então não amo a este? Por que queremos pregar pra multidão,
fazer show's que muitas vezes nem difere dos mundanos, e tantas
coisas, mas ao mesmo tempo não tem ninguém que queira levar o poder
do Espírito Santo dentro dos presídios. Estes não me retribuirão,
não pagarão cachê, não comprarão CD.
Ah,
chegando a este ponto do texto fico até com a impressão de estar
confundindo as ideias. Mas é fato, nós (você, eu, NÓS) estamos
confundindo e não amando a todos incondicionalmente. Amemos o Amor.
Não imponhamos condições pra amar a Deus. Deus é tão maravilho
que mesmo sabendo da nossa miséria, faz-nos mergulhar em Sua
Misericórdia. Mesmo sabendo que o que escrevo trata-se de lutas do
meu coração, usa-me para clamar a vós: ame a todos
incondicionalmente. Ame quem te retribuiu, ame quem não te retribui.
Ame a Deus em todos.
No
mais é só palavras ao vendo. Amar (amor de verdade, não o
sentimentalismo e nem a filantropia confundida com caridade. Falo
aqui do amor, amar em Deus, que é amor). Eis a condição pra
servir. Eis que Deus quer que O amemos sobre todas as coisas, e aos
nossos irmãos como a nós mesmos. Todos os irmãos. Todos. O que tem
talento, e o que tem vício. Todos.
No
mais cito abaixo as obras de Misericórdia para que possamos colocar
em prática, até inflamados pela proclamação do ano da
Misericórdia pelo Papa Francisco, temos maior obrigação de
praticarmos essas obras. Praticando-as, saiba que é ao próprio
Cristo que praticamos e receberemos a recompensa. Lembro que por nós
mesmos somos incapazes, mas é Ele mesmo que vem amar os irmãos em
nós. Preencha-se do amor de Deus, e leve Deus a toda a humanidade.
Obras
de Misericórdia corporais:
1ª
Dar de comer a quem tem fome;
2ª
Dar de beber a quem tem sede;
3ª
Vestir os nus;
4ª
Dar pousada aos peregrinos;
5ª
Assistir aos enfermos;
6ª
Visitar os presos;
7ª
Enterrar os mortos.
Obras
de Misericórdia espirituais:
1ª
Dar bom conselho;
2ª
Ensinar os ignorantes;
3ª
Corrigir os que erram;
4ª
Consolar os aflitos;
5ª
Perdoar as injúrias;
6ª
Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo;
7ª
Rogar a Deus por vivos e defuntos.
"A água apaga o fogo ardente, a esmola enfrenta o pecado. Deus olha para aquele que pratica a misericórdia; dele se lembrará no porvir, no dia de sua infelicidade este achará apoio. Meu filho, não negues esmola ao pobre, nem dele desvies os olhos. Não desprezes o que tem fome, não irrites o pobre em sua indigência. Não aflijas o coração do infeliz, não recuses tua esmola àquele que está na miséria; não rejeites o pedido do aflito, não desvies o rosto do pobre. Não desvies os olhos do indigente, para que ele não se zangue. Aos que pedem não dês motivo de vos amaldiçoarem pelas costas, pois será atendida a imprecação daquele que te amaldiçoa na amargura de sua alma. Aquele que o criou o atenderá." (Eclesiástico 3,33-34;4,1-6)
Salve
Maria Imaculada, nossa Co-Redentora e Mãe! Viva Cristo Rei do
Universo!
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