Vigiai com Jesus, e não com o mundo!

by - abril 15, 2015


Foram em seguida para o lugar chamado Getsêmani, e Jesus disse a seus discípulos: 'Sentai-vos aqui, enquanto vou orar'. Levou consigo Pedro, Tiago e João; e começou a ter pavor e a angustiar-se. Disse-lhes: 'A minha alma está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai'.
Adiantando-se alguns passos, prostrou-se com a face por terra e orava que, se fosse possível, passasse dele aquela hora. 'Aba! (Pai!), suplicava ele. Tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Contudo, não se faça o que eu quero, senão o que tu queres.' Em seguida, foi ter com seus discípulos e achou-os dormindo. Disse a Pedro: 'Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora! Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca.
Afastou-se outra vez e orou, dizendo as mesmas palavras. Voltando, achou-os de novo dormindo, porque seus olhos estavam pesados; e não sabiam o que lhe responder. Voltando pela terceira vez, disse-lhes: 'Dormi e descansai. Basta! Veio a hora! O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos e vamos! Aproxima-se o que me há de entregar’”. (Marcos 14,32-42)
(grifos meu)

Salve Maria Imaculada, nossa Co-Redentora e Mãe!
Nosso Senhor Jesus Cristo, sendo Deus que assume a condição humana, mostra-nos de maneira plena a necessidade que o homem tem da oração. Antes de assumir a vontade do Pai – em relação ao Sacrifício na Santa Cruz – Jesus angustia-se e vai orar ao Pai. Eis o modelo de oração ante a cruz, ante a vontade e/ou permissão do Pai: em tudo pedir que se faça a Sua vontade, não a nossa. Jamais a nossa vontade. Sempre a vontade do Pai.

Porém algo novo deve nos chamar a atenção. Devemos meditar num profundo mistério que este texto vem nos revelar. Por que Jesus chama Pedro, Tiago e João para o acompanharem na Sua agonia? Tudo tem um sentido. Jesus não faz nada ao acaso. E este episódio da vida de Cristo, mais uma vez, vem nos chamar a conversão.

Jesus poderia ter chamado Tomé, André, Simão Zelador, qualquer outro. Até o próprio Judas. Mas por que Jesus chama logo esses três? A resposta não é simplista ao ponto de dizermos: “porque Ele quis”. Envergonhemos de nossa miséria, e exaltemos a Misericórdia de Deus ao vê-Lo chamar Pedro, Tiago e João. Pois este chamado é chamando-nos a uma verdadeira entrega a Ele. Um chamado a sairmos de nós mesmos.

Pedro, Tiago e João foram os discípulos que o Senhor encontrou ao amanhecer pescando - ou tentando pescar alguma coisa (cf. Lucas 5,1-11). Pedro fala de maneira muito clara “Mestre, trabalhamos a noite inteira e nada apanhamos” (v. 5); e aí nos vemos na figura de Pedro: o mesmo que para o mundo confessa que trabalhou a noite inteira, é o mesmo que após contemplar as maravilhas de Deus, é incapaz de vigiar em oração com Cristo. Assim somos nós, que antes de conhecer a Cristo nos esgotamos para conquistar o mundo inteiro, mas para as coisas de Deus somos relaxados, colocamos desculpas, dormimos no ponto.

Alguns podem dizer que após três anos de vida pública com Jesus Pedro dormia porque já se cansara, afinal era mais velho. Mas João era o mais jovem, mais revigorado. Mas mesmo assim não é desculpa. Na quinta feira Santa Pedro dorme porque é incapaz de vigiar com o Senhor; mas o mesmo Pedro, mesmo após passada a Paixão, morte e ressurreição de Cristo, volta a vigiar pras coisas do mundo. Em João 21,1-14 vai ser narrada a manifestação do Senhor ressuscitado para Pedro, Tiago, João e outros apóstolos que os acompanharam. E no versículo 3 e 4 diz: “Naquela noite, porém, nada apanharam. Chegada a manhã, Jesus estava na praia.” E então fica escancarada a fraqueza de Pedro, Tiago e João, que é a nossa fraqueza também: para as coisas do mundo somos capazes de passar a noite toda vigiando trabalhando sem nada pescar (labutando sem ter a verdadeira felicidade que é Jesus); mas quando conhecemos a Cristo, Sumo e eterno Bem, somos presunçosos e nos entregamos a preguiça. Somos incapazes de vigiar uma hora.

Veja como Cristo deve ficar decepcionado: os mesmos que passam a noite inteira tentando pescar sem nada apanhar, não são capazes de vigiar com Jesus uma única hora. Uma horinha. Sessenta minutos. E assim somos nós.

Quero esclarecer que é óbvio que pescar não é pecado. Da mesma maneira um trabalho digno não é pecado. Temos que gastar tempo com o trabalho para conseguir o nosso sustento e o da nossa família. Mas devemos usar o trabalho para nos santificar. O trabalho nunca nos deve roubar de Deus. E nesse caso dos Apóstolos é diferente, uma vez que trata-se de ir fazer algo que não era a vontade de Deus: eles voltarem para a pesca de peixes era negar a vontade do Pai que os tirou desse ofício para serem pescadores de homens. Não sei se era não crer na providência de Deus, saudade do passado, mas o que se sabe é que pra vontade de Deus nós somos frágeis, mas pro mundo temos vigor.

Não agimos nós também como esses discípulos?

Muitos de nós antes de conhecer Jesus vivíamos de balada em balada, a noite toda acordado cometendo pecados por cima de pecados: luxúria, bebedeira, podridões. Mas muitos de nós que pra tais festas saíamos as 20h de casa e chegávamos bêbados as 7h, após passar a noite toda dançando e cometendo pecado contra a castidade, somos incapazes de ficar algumas poucas horas em uma vigília adorando o Santíssimo Sacramento. Muitos de nós que, viciados em drogas, entrávamos nas favelas perigosas junto aos traficantes, no meio de gente armada, para sustentar o vício, agora temos medo de voltar da vigília tarde da noite, afinal é perigoso. Aliás, nesse caso pessoas que estavam em tamanho perigo no mundo, agora se o grupo de oração passar das 22h já reclama com o coordenador por causa do perigo. Claro, vivemos numa sociedade perigosa e que não podemos ser presunçosos, mas se for deixar de ir pra grupo de oração por causa de perigo (como tem gente que faz) eu vou fazer o quê da vida? Já fui assaltado por volta de 7h, de 12h, 14h e o mais tarde foi 19:00 mais ou menos. Todas as vezes cedo. O problema está justamente porque não confiamos no Senhor. Quando nós não conhecíamos a Deus andávamos sem medo de perder a vida; agora que conhecemos Aquele que dá e que tira a vida, o Senhor de tudo, temos medo de que aconteça algo. Bom, se acontecer, que aconteça servindo a Deus, e não servindo ao mundo.

Como é triste olhar pra minha própria vida e ver que de fato pro mundo eu tinha mais empenho do que pra Deus. Parece que por sabermos que Deus é bondoso começamos a ficar relaxados. Isso pode virar tibieza, e os tíbios (mornos) serão vomitados da boca de Deus (cf. Apocalipse 3).

Eu lembro que quando eu não servia a Cristo eu ficava até 3, 4, 5 horas da manhã na internet conversando bobagens em redes sociais. E pra fazer uma vigília? Eita Anderson, Pedro do século XXI, sois incapaz de vigiar uma hora com o Senhor? Se eu for rezar um terço depois das 20h é capaz de no meio do terço já tá querendo “tombar”. Mas como se antes eu não tinha tanto vigor pro pecado e pra ociosidade na madrugada!?

Ah, meus irmãos, é duro ver que pras coisas do mundo nós temos empenho. Quantos de nós em busca de ter sucesso profissional - que em si é lícito, mas torna-se ilícito quando abandonamos o Senhor pra conseguir tais objetivos -, passamos horas e horas estudando pra um concurso público, porém, somos incapazes de guardar uma hora com o Senhor na Santa Missa dominical. Estuda 4, 5, 6 horas por dia (as vezes sem contar o cursinho), mas é incapaz de rezar um terço que dura 20, 30 minutinhos. Muitos de fato deixam de ir pra Missa no domingo porque fará prova naquele dia e nem faz questão de procurar uma Igreja perto, e no caso de ser IMPOSSÍVEL ir a uma Igreja no domingo, nem faz caso de ir sábado a noite, afinal, tem que descansar a mente pra fazer a prova. Pra bendita (ou maldita?) prova do concurso nos preparamos muito bem, obrigado, mas e pra salvar a nossa alma? Nome na lista de aprovado no concurso ou vestibular, não é o mesmo que nome no livro da Vida no dia do nosso juízo diante de Deus. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mateus 6,33). Talvez se nós diminuirmos as cargas de estudo para termos oração, e deixarmos de faltar a Santa Missa dominical (e, claro, confessando frequentemente), se for da vontade de Deus, logo passaremos no concurso ou alcançaremos aquilo que desejamos de lícito.

E aqui podemos dar tantos e tantos exemplos de vezes e formas que pras coisas do mundo somos vigorosos, mas pra Deus somos relaxados. Passamos 2 horas vendo uma partida de futebol, mas nunca rezamos um Rosário com mesma duração (até menos). Vemos todas as novelas, mas nunca rezamos o Terço ou Rosário nem lemos a Palavra de Deus. Sabemos do que vai acontecer na novela daqui a alguns dias, mas não sabemos que tempo estamos vivendo na Igreja, nem mesmo sabemos nada da doutrina Católica. E isso não falo tanto para quem não conhece o Senhor: falo para nós que julgamos servir a Deus: nós que pregamos, escrevemos, coordenamos grupos e movimentos, somos padres, religiosos, religiosas, leigos consagrados, pais de família engajados na Igreja, etc. Além de não renunciar o mundo, temos mais força para as coisas do mundo do que para as de Deus. Ou então, se renunciamos as coisas más que o mundo oferece, vemos que pro mundo eu era muito mais radical, agora pra Deus quero pegar leve e ficar no “banho Maria”. Cuidado para não sermos vomitados.

Nosso corpo não aguenta uma manhã ou uma tarde para rezar as Mil Ave Marias. Normalmente aonde ainda se conserva essa devoção nas Igrejas, sempre está as pessoas de mais idade. Sabe por quê? A mulecada de hoje é muito cansada, sabe? Rala muito. Não dá conta mesmo de rezar Mil Ave Marias numa manhã inteira. Mas essa mesma mulecada que não tem força pra rezar, é a mesma que tem força suficiente para passar não uma manhã, mas um fim de semana inteiro em Caldas Novas ou em qualquer lugar de clube e diversão, usando roupas indecentes e talvez até cometendo coisa indecente. Sabe-se de grupos de Igreja que fazem tais excursões e visitas a Santuários talvez não façam, mas sabemos que boate está no cronograma de algumas pessoas. A pergunta é: porque pras coisas do mundo que são ou levam ao pecado temos força e botamos combustíveis, mas pras coisa de Deus somos negligentes e somos incapazes de vigiar uma hora. Po quê?

Muitas vezes se você falar “Rosário” pra um grupo jovem, o primeiro a se espantar é o coordenador. Mas o mesmo coordenar talvez promova excursões nada religiosas e baladinhas. Por quê? Porque não temos força pra levar jovens pra adorar o Santíssimo, mas temos força pra levar pra diversões mundanas? Por quê? Mas enquanto nós não tirarmos o mundo de nós, dos nossos grupos e movimentos, o que se fará de novo? Se somos Pedros, Tiagos e Joões do séc XXI vigiando no passado, no mundo, e não em Cristo; passemos a ver que nossa barca (vida) está vazia, e só preenchida estará com a felicidade quando ao amanhecer do dia (cair a ficha) aparecer Jesus. E então Cristo que em João 21,15-23, após se manifestar ressuscitado, manifesta o perdão a Pedro de forma belíssima, também nos mostrará que nada podemos fazer sem Ele. Que só com Ele somos felizes. Que é vigiando com Ele que podemos ser felizes.

Com tudo isso é propício a Palavra de Deus através de São Paulo para nós: “Vigiai, pois, com cuidado sobre a vossa conduta: que ela não seja conduta de insensatos, mas de sábios que aproveitam ciosamente o tempo, pois os dias são maus. Não sejais imprudentes, mas procurai compreender qual seja a vontade de Deus (Efésios 5,15-17).

Que tal a partir de agora passarmos a vigiar mais com Deus na oração e na frequência aos Sacramentos? Busquemos não dar tanta atenção as coisas que em suma não são pecados, mas nos afastam duma intimidade maior com Deus. Exemplos: Facebook, Twitter e demais redes sociais, futebol, Programas televisivos (boa parte desses pecaminosos SIM), músicas que não edificam em nada mas conduzem ao pecado, etc. E passemos a buscar rezar pelo menos o Terço Diário e buscar ir mais a Santa Missa e confessar com frequência. Topam? Ou será que teremos que ouvir de Cristo o mesmo que Pedro, Tiago e João: dormes? Não pudeste vigiar uma hora! Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca!

A Palavra de ordem para nós que estamos dormindo no comodismo, na demora em evangelizar as pessoas do século XXI, na preguiça, na morte do pecado, na murmuração, na desconfiança, no egoísmo, etc., é: Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará” (Efésios 5,14).


Salve Maria Imaculada, nossa Co-Redentora e Mãe! Viva Cristo Rei do Universo!

Ps: assista esse video que fala sobre a Tibieza e frieza espiritual:

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