O que não pode num namoro cristão?
No
Catecismo Maior de São Pio X, ao se dirigir às pessoas que se
preparam para receber o Sacramento do Matrimônio (noivos/namorados),
respondendo a pergunta de como deveriam se comportar antes de receber
tal sacramento, encontramos, em parte da resposta, o seguinte:
“evitar toda a familiaridade perigosa de trato e de palavras, ao
conversarem mutuamente antes de receberem tal Sacramento” (CSPX
837). Conclui-se daí, portanto,
que deve-se evitar a relação sexual, obviamente, e tudo quanto leva
a esta. Esclarecendo mais ainda: evite o pecado e o que leva a pecar.
São
Pio X fala algo que para nós, que somos da geração pós revolução
sexual, parece ser um escândalo: os namorados e noivos devem evitar
a familiaridade perigosa no trato e nas palavras. Como isso num mundo
onde se está acostumado a usar e abusar? Nem todo namoro, por não
ter havido fornicação (sexo antes do casamento), é santo. Será
que o teu namoro, caro leitor, é santo?
Seguir
o proposto acima parece ser loucura. Alguns podem rebater que isso é
medieval, ultrapassado. Eu poderia argumentar que não, afinal, isso
foi escrito há apenas 100 anos, mais ou menos. O problema é que foi
escrito antes de algumas modernidades apresentadas nas tantas
revoluções que a sociedade sofreu no séc. XX. Mas nós, católicos,
devemos estar alerta. E se você se escandaliza com o que está no
Catecismo de SPX, talvez se escandalize mais com o que o nosso atual
Catecismo ensina aos noivos. Na minha opinião é mais radical e
direto. O nosso Catecismo, promulgado por São João Paulo II,
portanto, um documento pós conciliar, trais o seguinte ensinamento
aos noivos (entenda também para os namorados. Normalmente se fala
“noivos” e não “namorados”, pois fica mais formal. Mas no
namoro deve estar a intenção de casar. Portanto, a regra pra um é
a mesma para o outro):
“Os
noivos são convidados a viver a castidade na continência. Nessa
provação eles verão uma descoberta do respeito mútuo, uma
aprendizagem da fidelidade e da esperança de se receberem ambos da
parte de Deus. Reservarão para o tempo do casamento as
manifestações de ternura específicas do amor conjugal.
Ajudar-se-ão mutuamente a crescer na castidade.” (CIC
2350)
(Grifo
meu)
Ora,
a Igreja está dizendo – não o Anderson, mas a Igreja, coluna e
sustentáculo da verdade (cf. 1Tm 3,15) – que os noivos (namorados)
devem reservar para após o casamento, não só o “amor conjugal”
mas as “manifestações de ternura específicas do amor conjugal”.
O que isso quer dizer? Sexo só depois do casamento! Ok. E tudo que
faz você querer sexo, também, só depois do casamento.
No
livro Descobrindo a Castidade, o
Padre Lodi vai ser direto: “Mas também são pecados
todos os atos que causam o desejo da fornicação. Em outras
palavras, os abraços, beijos, carícias que provocam excitação são
todos pecaminosos. Só isso? Não. Jesus disse, para espanto da
multidão, que até o olhar libidinoso já é pecado: 'ouvistes o que
foi dito: não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo: todo
aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso, já cometeu
adultério com ela em seu coração' (Mt 5,27-28)”.
Se
apenas o olhar com desejo já é pecado, quanto mais os toques
ardestes de paixão! Se olhar libidinosamente já se peca, e o se
amassar nos cantos dos muros, atrás das árvores, nos locais
solitários, ou, perdendo-se a vergonha, em público – até dentro
das Igrejas.
Vale
ressaltar que quando se fala em abraçar não se generaliza o abraço.
Aqui fala-se do abraço que as pessoas ficam todas envaixadas, corpo
a corpo. Os namorados podem dar abraços, desde que sejam castos, ou
seja, desde que não causem excitação no outro.
Não
se pode achar que se namora santamente só porque não aconteceu uma
relação sexual. Há namoros que chego a pensar: e precisa ter
relação? Piadas a parte – porque a salvação não é uma
brincadeira -, precisamos ser sinceros: há namoros em que um passa a
mão no outro. Abraça encaixando-se no outro, passa a mão daqui,
aperta dali. Depois ofegante diz “chega, nós somos da Imaculada!”
Não, isso é hipocrisia! Se eu você não quer uma explosão porque
acendeu fogo na pólvora? Aí depois quer sair correndo para apagá-la
antes da explosão? A dinamite explodirá caso acenda o pavio. Da
mesma maneira que é um risco você dizer “eu sei a hora de apagar
o pavio e evitar que exploda a dinamite” é um risco você dizer
“eu (nós) sabemos a hora de parar”. Todos aqueles que tinha boa
intenção, mas que depois caíram em na fornicação, também
pensavam que podiam parar quando quisessem. Medite contigo mesmo,
diante de Deus, e pergunte se o Seu namoro tem sido agradável a
Deus. Não transou, é verdade, mas é um namoro santo com tantos
amassos, apertos, excitações provocadas...?
Muitos
acham um absurdo se falar de pecado em relação ao beijo de língua.
Fiz um post aqui neste blog falando sobre isso (cliqueali para ler), e é incrível
como as pessoas – não todas, claro – se revoltam. Mas como eram
os namoros antigamente? Talvez você venha me dizer que antigamente
era outras história, algo medieval. Mas, não, meus queridos! Até
meados dos anos 60 namorava-se, em suma, segundo a moral e os bons
costumes. Não se dava agarrões. Vemos depoimentos de casais de
idosos que relatam o namoro sem beijos (afinal, o namoro é um tempo
para se conhecer a alma da pessoa, e não o corpo); outros dizem que
deram o primeiro beijo depois de meses de namoro. Mas vale ressaltar
que antigamente, um beijo não se tratava, em suma, de beijos
ardentes como os que até desconhecidos se dão, devorando-se
mutuamente à luz do dia, sem o menor pudor; mas se tratava, todavia,
de algo mais parecido com um selinho, algo que não havia fogo de
paixão, algo rápido, até, para evitar essa paixão. Foi o cinema e
a televisão que, no século XX, fizeram a propaganda de tal ato como
lícito para todos. Mais precisamente, com a revolução sexual dos
anos 60, começou-se a propaganda para as moças dizendo que elas
podiam beijar os rapazes, usar saias curtas, etc. Foi a partir do
movimento do “libera geral” que o beijo ardente (de linguá)
popularizou-se, saindo do âmbito conjugal, para os namorados. Depois
vieram os ficantes, e agora todo mundo beija todo mundo nas
imoralidades que cada vez mais crescem. Agora, pergunto-me, se algo
que nasce justamente de um movimento tão infame, como foi a
revolução sexual, como que os cristãos se revoltam? Sim, rejeitam
a propaganda do “sexo livre”, mas a do beije seu(ua) namorado(a),
não querem.
Por
que o beijo de língua é ilícito e deve ser evitado com toda força
no namoro? Porque ele tem uma função: é uma preparação para a
relação sexual. Se estamos falando de pessoas sadias, todo beijo de
língua causará excitação, afinal, o beijo avisa que haverá uma
relação sexual e então ambos se preparam. É automático. Até
porque, no próprio beijo já há penetração de um corpo no outro.
Ou não? É altamente excitante e já gera prazer em si. Por isso os
jovens que vão pras baladas por aí, apesar de, em alguns casos, não
terem relação sexual, se gabam de terem pegado (dado beijos de
língua) x pessoas. Ora, se não desse prazer sexual não se gabariam
disso. Nunca vi ninguém se gabar de ter apertado a mão de moça ou
rapaz, ou de ter dado um abraço casto na outra pessoa. Mas de dar
beijos sim. Muitos adolescentes questionam uns aos outros: já beijou
quantos? Ora, essa fissura que as pessoas têm em relação ao beijo
de língua, somente revela que o mesmo é fonte de prazer. Mas, não
um prazer de saborear uma comida ou bebida, por exemplo, mas um
prazer sexual. E, a Palavra de Jesus diz, se olhar – apenas olhar –
de maneira libidinosa, já adulterou. Então, que juízo fazer dos
namorados que se amassam e se entregam aos beijos ardentes?
A
comparação que me vem é a seguinte: minha mãe é revendedora de
cosméticos. E algumas vezes as empresas dão (ou vendem) pequenas
amostras de perfumes, batons, cremes, etc. Serve exatamente para
mostrar para o cliente o cheiro e/ou qualidade do produto para o
cliente, para que este possa adquiri-lo. O beijo na boca de língua
funciona da mesma forma: já que não pode ter aquele perfume de
100ml, dá-me essa pequena amostra grátis; se não posso ter o seu
corpo numa relação sexual, dá-me pelo menos um beijo apaixonado. E
assim os jovens vão, em nome de não cometer o pecadão, cometendo
um menor, que não ouso chamá-lo pecadinho. Não se tem a explosão
do prazer de uma relação sexual, mas já tem uma amostra. Isso já
seria ilícito e desordenado em si mesmo, em se tratando de
namorados; mas torna-se mais ainda quando aumenta-se o vício e
põe-se em risco de passar para a concretização da relação
sexual. De tanto usar uma amostra grátis de um perfume, uma hora
acabou adquirindo a versão completa. De tanto dar beijos e amassos
uma hora a casa caiu. E, aliás, da mesma forma que o pequeno vidro
da amostra grátis, derramado sobre a pessoa, já lhe dá o cheiro; o
beijo ardente, dado de reta intenção, já também passará tal
cheiro (o prazer) para os que praticam.
Alguns
podem retrucar: mas eu sei até onde posso ir. Sei a hora de
parar! Bom, aí volto ao exemplo
citado acima, da dinamite, você não pode acender o pavio e achar
que pode aapagar na hora exata de impedir a explosão. Você não vê
placas nos postos de gasolina – como bem lembra o Padre Lodi –
fume pouco, ou produza poucas faíscas, não! Está escrito para não
produzir faísca nenhuma! Não fume! O risco de explosão é enorme.
Portanto, não posso dizer: beije menos. Se você quer ter um namoro
santo, que agrade a Deus, o que tenho a dizer é: evite o beijo de
língua, exclua-o do vosso relacionamento. Vocês tem conhecido a
alma um do outro? Parem de se amassar e verás que sobrará tempo
para conhecer o coração um do outro. Vocês - me perdoem! -, já
sabem até o gosto do outro, tamanhos beijos ardentes, mas sabem o
que o outro gosta? O que o outro representa? Como é a alma do outro?
Quais seus defeitos? Quais suas qualidades? O outro não pode ser
alguém que eu dou uns beijos quando brigo com meus pais, alguém que
me dá um prazer de um beijo e um abraço ardente quando a vida está
chata e os professores da escola ou faculdade estão me moendo. Não!
Pelo amor de Deus! Isso não é namoro. Os pagãos fazem o mesmo.
Conversem mais, se amem mais (amor = sacrifício), busquem rezar
juntos, busquem ser presença de Deus um para o outro. Não haja como
um drogado em crise de abstinência querendo do outro o seu prazer.
Portanto,
caro leitor, retomo o que a Igreja diz: devemos reservar para o tempo
do casamento as manifestações de ternura específicas do amor
conjugal. Sim, amados. Se tal ternura (beijo de língua) é um
mecanismo do corpo para avisar que haverá uma relação sexual, ou
seja, deve ser deixado para o tempo próprio, ou seja, para o tempo
em que será lícito ter a relação sexual. Se tal beijo é uma
manifestação ternura, que de fato é, só é lícito dá-lo no amor
conjugal. Existem manifestações de carinho que são lícitas. E
quais são? Todas aquelas que não gerarão desejo sexual, ou seja,
não causarão excitação no outro. Um dar-se as mãos, abraçar
castamente (sem ficar se encaixando, nem agarrando a moça por trás
e forçando-a contra seu corpo), um abraço de lado, um beijo no
rosto rapidamente, enfim... Se você acha bizarro um namoro assim...
Ora, infelizmente já estás doente! Está preso numa cultura do
prazer pelo prazer. O namoro não é pra dar prazer (sexual), mas
para aprender a amar, conhecer o outro. Se a presença do outro por
si não me dá prazer, mas preciso de um beijo para que o prazer seja
algo sexualizado, então eu não amo a outra pessoa, posso até
gostar, mas no mais apenas amo o prazer (mesmo que seja uma “amostra
grátis”) que o outro pode me dar.
Para
finaizar essa questão, pergunto-vos: se você acha que o beijo de
língua é apenas uma forma de carinho, você, sinceramente, daria
tal beijo no seu pai ou na sua mãe? Claro que não! Até te dá nojo
ler isso. Correto? Por que, se é apenas uma manifestação de
carinho? Ora, porque a sua consciência acusa dizendo que isso
(beijo) só pode ser dado em uma pessoa em especial, e essa pessoa
não pode ser um parente como o pai, mãe, irmãos. Esse ato te leva
a desejar um algo a mais que só pode ser concretizado com alguém
especial, no caso seu/sua esposo(a). Portanto, se formos sinceros
conosco mesmos, pela nossa consciência, pela reação do beijo de
língua em nós, sabemos perfeitamente que o mesmo não é uma
simples manifestação de carinho.
No
mais, caríssimos, evitem todos os outros carinhos que causem
excitação. Evitem andar com roupas imodestas. Não só quando for
estar com a(o) namorada(o), mas sempre. E no namoro ainda mais.
“vamos namorar santamente, meu bem!” diz o rapaz com roupa
coladinha, bombadinho, ou indo vê-la sem camisa; ou a jovem com um
super decote e roupa curta. Se apenas lançares um olhar
libidinoso... Enfim, evitem as músicas que conduzam para tais
ardências em paixão pecaminosa e/ou a uma carência afetiva que
leve a quase idolatrar a(o) namorada(o). Evitem namorar sozinhos, em
locais escuros, etc. Busquem sempre ter uma terceira pessoa junto ou,
por exemplo, namorem em lugares abertos. “Ah, mas sozinhos a gente
fica mais a vontade” - é, mas o que vocês vão fazer juntos num
lugar sozinho que ninguém pode ver? Heim, jovenzinhos? “Não
deis lugar ao demônio.”
(Efésios 4,27) Vão rezar,
ótimo? Que todos vejam o belo exemplo de um casal de namorados
católicos rezando o Terço juntos. Se vão rezar na casa um do
outro, no quarto, por exemplo, até podem, mas desde que a porta
esteja aberta (levando em consideração que há outras pessoas na
casa, se não, nem isso). Por que isso? Porque os santos, como São
Filipe Neri, sempre ensinaram que
diante da tentação de impureza, vence aquele que foge. Não
frequentem lugares licenciosos, que vão levar ambos a pecar. Cinema
pode ser complicado: primeiro porque dependendo do filme... Segundo
porque se ambos não assistirem decentemente, mas agarrando-se, logo
vão arder em paixão, como é comum se ver nos cinemas. Nego
está assistindo um filme de exorcismo e dois caras estão se
engolindo no cinema, quando alguém grita no filme “este corpo não
te pertence”, ambos se largam, atordoados, dizendo “foi mal, foi
mal, mas a gente vai casar...”. Não, anta, era com o diabo (embora
tal agarramento tenha sido incitado pelo diabo, provavelmente).
Se
queres um namoro santo, meus irmãos e irmãs, não temais renunciar
tudo aquilo que macula vosso namoro. Se o namoro não subsiste sem
tais atos, falo o que São Francisco de Sales, no livro Filoteia,
disse ao falar das más amizades e namoros (também maus):
“Não há razão para fazer caso de um amor que é tão contrário
ao amor de Deus.” Caríssimos,
ou tu tens coragem de fazer do teu namoro algo favorável ao amor de
Deus, ou não há razão de prosseguir nele. Por prazeres
temporários, ensina São João da Cruz, sofrem-se tormentos eternos.
O que se planta no namoro se colherá no matrimônio. Queres um
casamento feliz e santo? Plante santidade no namoro. Se plantar
apenas busca pelo prazer, no matrimônio colher-se-á as desilusões.
“Os
jovens que fazem gestos, carícias e dizem palavras em que não
gostariam de ser surpreendidas por seus pais, mães, maridos, esposas
ou confessores, mostram com isso que tratam de coisa alheia à honra
e à consciência.” (São Francisco de Sales, Filoteia)
Ps:
Muitos perguntam, no entanto, se o selinho seria então permitido. O
que direi a seguir é minha opinião, posso estar errado. É uma
opinião.
Acredito
que não seria pelo fato de não haver penetração, como ocorre no
beijo de língua. Porém, deve-se precaver para que seja rápido,
para que não se torne em si numa ocasião para quererem passar para
a modalidade beijo de língua. Esse selinho deve ser rápido, sem
pressão, leve, por exemplo,
numa despedida, ou no momento que se vem e não ficar dando bitocas
como divertimento. Da mesma
forma o beijo no rosto. Mas, claro, para formar um justo juízo sobre
a licitude do “selinho”, a pessoa deve ver se aquilo causará
excitação nela ou não. Se sim, deve-se evitar também.
Salve
Maria Puríssima!
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