Visões e revelações: Perigos e lucros para a alma

by - novembro 01, 2016

Salve Maria Imaculada, nossa Corredentora e Mãe!
Muitas pessoas relatam que tem visões espirituais e/ou revelações privadas. Deus é poderoso, misericordioso, e manifesta-se a quem quer, como quer, onde quer, da maneira que quiser. Porém, ao contrário do que muita gente possa achar, tais graças extraordinárias tem um sentido dentro do plano salvífico de Cristo. Mas, em contrapartida, também esconde-se um grande perigo, afinal, quem põe sua segurança em visões pode estar colocando em uma ilusão, colocando-se assim a alma em risco de perdição.
Antes de mais nada, eis o ensinamento da Igreja sobre tais graças:
No decurso dos séculos tem havido revelações ditas «privadas», algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. Todavia, não pertencem ao depósito da fé. O seu papel não é «aperfeiçoar» ou «completar» a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir e guardar o que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus santos à Igreja. A fé cristã não pode aceitar «revelações» que pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelação de que Cristo é a plenitude. É o caso de certas religiões não-cristãs, e também de certas seitas recentes. fundadas sobre tais «revelações». (CIC, 67)

Portanto, fica claríssimo que, para nós católicos, a revelação está na Sagrada Escritura, na Tradição e no Magistério. A Igreja reconhece, porém, que pode sim haver revelações privadas, mas, em contrapartida, estas NUNCA podem ser aceitas como revelações de Deus sobretudo quando contradizem a revelação de fato, ou seja, a Tradição, Sagrada Escritura e Magistério.
Eis, portanto, o motivo que começo a citar os perigos das visões antes de falar dos benefícios. Certa vez S. Catarina de Sena teve uma visão que se apresentou como Nossa Senhora dizendo que não era Imaculada. Pode ter sido ilusão do demônio, ou mesmo coisa da cabeça da santa, afinal, ela era ligada a ordem dos dominicanos, que não criam na Imaculada Conceição da Santíssima Virgem. Porém, a nossa fé ensina que a Virgem Maria é Imaculada sim. Todo católico tem que crer nisto, afinal, faz parte da REVELAÇÃO DIVINA, proclamado dogma pelo Papa Pio IX.
Ora, se S. Catarina de Sena, doutora da Igreja, não ficou livre das ilusões das falsas visões, quanto mais nós! Eis, portanto, o primeiro alerta: nunca coloque uma pseudo revelação privada, dada a você ou a outra pessoa, acima do magistério da Igreja. Quem tem tais graças espirituais deve colocar-se diante de Deus com muita humildade, e submeter-se rigorosa obediência à Igreja e Seu Magistério, e não do que eu acho ou do que eu vi em espírito. Por isso Santa Faustina dizia que “o demônio pode esconder-se sobre o manto da humildade, mas não sob o da obediência”. E nós podemos ver isso em muitos falsos videntes, onde fazem cara de humildes, dizem ser perseguidos, mas não são obedientes a Igreja, propagam o cisma, a ruptura com a Igreja, blasfemam contra padres e Bispos que não apoiam suas visões e/ou não vivem como eles queriam.
Falando de aparição, por exemplo, quem tem que dar o veredito sobre a veracidade ou não do fenômeno é o Bispo da diocese onde a mesma ocorreu. Se o Bispo disse que é falsa, é falsa. Se o Bispo diz que é verdadeira, está aprovada (mas lembrando que como revelação privada, podendo um católico se salvar sem ter necessidade de crer em tais aparições). Se o Bispo diz que não pode determinar se houve algo sobrenatural, fica-se em aberto até segunda ordem. Porém, há várias falsas aparições em que os videntes por orgulho ou sei lá pelo quê, mesmo com os Bispos declarando falsas por ter nas mensagens conteúdos contrários a doutrina da Igreja, os mesmos blasfemam contra os pastores e arrastam pobres coitados para suas heresias.
É preciso, todavia evitar um erro muito comum nos dias de hoje: uma parte só quer viver de visões e revelações privadas, a outra condena tudo. Não, caríssimos, não devemos ter as visões e revelações como algo ruim. Elas são úteis e Deus tem um sentido pedagógico para tais. Quando vários santos, como S. João da Cruz, por exemplo, fala que não se deve fiar em ter revelações; que não se deve ter oração para buscar ter tais revelações; de fato, percebemos que o mal não está em ter revelação ou visão, mas em buscar tê-las ou coloca-las acima da Igreja. Por isso no trecho do Catecismo citado acima, a Igreja nos previne para os erros dos protestantes neopentecostais que baseiam toda a existência de suas seitas em visões e revelações – muitíssimo questionáveis e condenáveis, diga-se de passagem.
Quem começa a ter visões ou acha que tem revelações, não deve ficar com a alma em trevas. O problema está se você fica querendo. Afinal, se você só quer rezar porque quer ter uma visão, por exemplo, você pode ter coisa da sua cabeça e/ou, bem mais perigoso, o demônio pode aproveitar-se da situação e inspirar coisas contrárias a fé e/ou coisas boas, mas com fins maus. Deve-se, portanto, viver na humildade. Santa Catarina de Sena dizia que quando a pessoa estivesse em oração, e sentisse Deus visitando a alma, não pusesse resistência. Ou seja, se Deus dá um consolo, uma graça extraordinária, abandone-se em Deus. Mas sempre reconheça que és pecador e que tudo é graça.
Antes de falar dos benefícios das visões, quero dizer que quando falo de “visões e revelações”, não me refiro apenas a coisas super-extraordinárias; afinal, todo cristão vive de maneira mística, ou seja, em contato com o espiritual, com o sobrenatural. Portanto, o que falei de visões e revelações, serve para inspirações, bons desejos, etc. Santa Teresa de Ávila ensina-nos na obra Castelo Interior ou Moradas que logo após a pessoa entrar no castelo interior, a ter oração, a pessoa tem a inspiração de fazer penitência dos seus pecados; porém, o demônio aí se mete para inspirar penitências exageradas para fazer com que a pessoa não consiga cumprir suas obrigações de estado de vida e desanime, logo saindo do Castelo Interior. Portanto, por mais que nós não tenhamos visões como muitos a tem, as inspirações que temos também são “revelações”, que podem vir do Espírito Santo, do Anjo da Guarda, coisa do nosso pensamento (o famoso “da carne”) ou do demônio. Suponhamos que alguém tem a inspiração de rezar o Rosário e fazer jejum dia sim dia não pela conversão dos pecadores. Só que a pessoa não tem um físico bom e mal rezava um terço. Logo ela não dá conta de fazer o que fazia, já não consegue trabalhar como antes, e até para o apostolado não tem forças. Logo pensa em desistir e entra em escrúpulos por achar que é muito pecador e merece o inferno, fazendo a alma entrar em tibieza e em desespero. A inspiração de fazer jejum e rezar o rosário é bom, mas quais foram os frutos deste exemplo? Maus frutos. Quem lucrou? O demônio. Portanto esta “inspiração” veio do demônio ou da carne. Por isso é preciso ter humildade. Afinal, vindo de Deus ou não a pessoa faz com a intenção de agradar a Deus, dentro de seus limites, reconhecendo suas misérias e confiando sempre na Misericórdia de Deus.
Portanto, se alguém tem uma inspiração que julga ser de Deus porque fez/faz essa ou aquela coisa boa para a Igreja, mas que, por outro lado, traz males maiores, esta inspiração não vem de Deus. Pelo menos a fé de sempre não me obriga a crer. E me refiro, claro, aos sedevacantistas e pseudo tradicionalistas que ferem a unidade da Igreja atacando o seu magistério, negando o Papa, etc. Enfim, se tiveram uma inspiração e querem ser católicos sem o Papa, são conduzidos pelo mesmo espírito de neopentecostais malucos. Eles não sabem latim, mas também são mestres em negar o Papa.
Enfim, focando... As visões e revelações tem um sentido pedagógico. Nosso Senhor ao levar Pedro, Tiago e João para o monte Tabor para contemplarem Sua glória, para verem Elias e Moisés conversando com Ele, tinha um sentido de mostrar Sua divindade antes de acontecer a Paixão do Senhor. Quando São Paulo teve sua experiência ao ouvir a voz de Cristo dizendo “Saulo, Saulo, por que me persegues?”, ficando cego por causa do brilho, tinha o sentido de fazer Paulo reconhecer que Jesus era Deus e que perseguindo os Cristãos perseguia ao próprio Jesus. E mais ainda, a manifestação de Cristo à São Paulo tem a função de mostrar para este que Aquele estava vivo, que havia ressuscitado. Os discípulos de Emaús que ao reconhecerem Jesus na fração do pão, puderam tanto crer na ressurreição de Jesus como na Sua presença real na Eucaristia. S. Tomé que duvidando da ressurreição do Senhor, vê Cristo que lhe apresenta as chagas, provando Sua real ressureição. Porém, Cristo mesmo diz “Felizes aqueles que creem sem ter visto!”(João 20,29). Mas, quando Deus se deixa ver, ou seja, quando se manifesta, tem um sentido: a nossa salvação.
Santa Teresa de Ávila é uma grande mística da Igreja - proclamada, aliás, doutora da Igreja; é mestra de oração – e ensina-nos muitas coisas úteis à cerca da vida espiritual. É óbvio que ela vai nos narrar dos perigos das visões, se a pessoa viver no orgulho, enfim, da maneira citada acima. Mas em Santa Teresa nós podemos ver os benefícios de tais visões, não ficando temerosos por causa das visões em si.
No Livro da Vida, Santa Teresa nos conta, por exemplo, que certa vez ela teve uma visão da humanidade de Cristo. A santa narra que quando ela teve esta visão, foi justamente quando ela estava com alguns apegos as pessoas; porém, após a visão da humanidade de Cristo, contemplando Sua beleza, Seu Amor, foi cortado o apego às criaturas, afinal, ela pôde entender que diante de Deus tudo é nada.
E assim, durante boa parte do Livro da Vida ela narra visões e revelações que teve, dizendo na sequência os benefícios que trazia para sua alma.
Nós vivemos em um tempo em que muito se fala em visões, visualizações, sonhos proféticos, revelações, etc. Não devemos ser supersticiosos e colocar tais fenômenos, como citado anteriormente, acima da doutrina da Igreja. Por outro lado, devemos evitar o ceticismo. Tais fenômenos são relatados com frequência por membros da Renovação Carismática Católica ou das novas comunidades. Em suas reuniões, por exemplo, costuma-se ter pessoas que proclamam alguma moção do Espírito, narram uma visão que tiveram durante a oração. Para saber a origem, devemos buscar os frutos. Não devemos simplesmente condenar por sermos céticos. Devemos, porém, analisar os espíritos e reconhecer que Deus, tendo um fim pedagógico, pode de fato estar inspirando tais fenômenos – como particularmente acredito. Afinal, em Santa Teresa vemos que quando ela tinha visões, vinha-lhe um efeito positivo na alma, desapegava-se das criaturas, animava-se para fazer a vontade de Deus, etc. Se nós temos visto um aumento das pessoas que tem tais visões hoje, é porque é uma necessidade própria do tempo em que vivemos. Afinal, se Santa Teresa após a conversão verdadeira, precisou de uma visão da humanidade de Cristo para se desapegar das pessoas, quanto mais nós que vivemos em um tempo totalmente paganizado, onde o pecado tem corroído todos os sentidos dos jovens – não poucas vezes de maneira luxuriante. Sendo assim, se o jovem está com os sentidos totalmente corrompidos, se muitas vezes vivem distantes de Deus e/ou tem uma concepção totalmente distorcida de quem realmente seja Deus, este (Deus) sendo poderoso e querendo a salvação das almas, manifesta-se de maneira extraordinária nos sentidos das pessoas, concedendo-lhes visões, por exemplo (assim como também o repouso, embora seja muito discutido – mas Santa Teresa de Ávila no livro das Moradas cita algumas coisas do Espírito semelhantes, como o “sono espiritual”. O que quero dizer é: não julguem os outros por terem tido tais graças nem desacreditem, talvez você não precisou desta graça para se converter, mas, para outros, foi o grande toque que o fez converter-se – ou iniciar a conversão, obviamente).
Vivendo em um mundo árido, distante da oração, que se deixa seduzir por qualquer convite do mundo – em que os demônios parecem estar dominando e corrompendo com mais força os corações; Deus faz suscitar tais reuniões onde manifesta-se extraordinariamente.
Muitos podem se questionar como saber se é ou não de Deus. São Paulo Fala em 1Tim 3,15 que “a Igreja é coluna e sustentáculo da verdade”. Portanto, a Igreja aprovou o movimento Renovação Carismática Católica, além de várias novas comunidades, etc. Reconhecendo que elas trazem bons frutos para a Igreja. Em relação as reuniões ou as manifestações realizadas em privado mesmo, como saber se vem de Deus? Quais os frutos deixados na alma? Bons ou maus? Veio algo contrário a fé? Por exemplo: se imprimir-se algo na mente dizendo que Jesus não é Deus, obviamente isto não vem de Deus.
Por isso, caríssimos, repito mais uma vez as palavras OBEDIÊNCIA e HUMILDADE. Estes são os caminhos para que as visões, quer vindas de Deus, quer do demônio, não nos levem para o caminho da perdição. Se tivermos humildade e obediência, mesmo que as visões não sejam de Deus, elas não nos trarão mal. Afinal, reconhecendo não ser digno de tais graças, não se coloca acima dos outros, mas sabe que Deus está sendo bom com um pecador. E, caso lhe venha algo contrário a doutrina da Igreja, saberá rejeitar. Se a própria imaginação ou o demônio lhe inspira uma visão, não se fie disso, não queira viver de visões, mas sempre busque auxílio na solidez da Igreja. Se a cada visão que você tiver, mesmo que seja do demônio, você se humilhar diante de Deus e se animar para se converter, rezar, confessar, e buscar ser obediente a Igreja e Seu magistério, o demônio logo parará, afinal, ele (demônio) estaria tendo prejuízo.
Portanto, caríssimos, acredito piamente que nos movimentos carismáticos quem age é o Espírito Santo. Afinal, vemos isso pelos frutos. Você pode não gostar dos jeitos, mas, se observarmos bem, quando se tem uma experiência genuína com a chamada “Cultura de Pentecostes”, tais pessoas começam a se arrepender verdadeiramente dos pecados, se confessam com frequência, buscam assistir à Santa Missa e comungar com mais frequência, faz adorações ao Santíssimo Sacramento, rezam o Terço, tem amor pela Palavra de Deus, etc. O demônio não vai fazer o cara sair do prostíbulo para entrar neste itinerário espiritual. Como diria o Padre Paulo Ricardo no curso de Dons Carismáticos em seu site, se o demônio faz isso, precisamos de mais demônios para as pastorais. Claro que ele usou da ironia para dizer que isto não é obra do demônio. Não quero com isto dizer que dentro do meio carismático não haja falsas revelações, falsas visões, pessoas que de fato são histéricas, etc. Afinal, se nem S. Catarina de Sena foi livre de ter uma falsa visão, quanto mais nós. O importante é sempre após a oração, seja comunitária ou pessoal, renovar a profissão de fé na Igreja. Afinal, se algo me inspira a me separar do Corpo Místico de Cristo, não é inspiração do Espírito. Portanto, aos carismáticos que porventura estão lendo este texto, não quero que se fechem às moções do Espírito. De maneira alguma. Exorto, porém, a unidade com a verdadeira fé. Que de tudo que foi proclamado, que foi impresso na alma, possa levar à Cristo pela Igreja. Caso contrário, de fato estaremos com problemas.
É mister recordarmos o que o Catecismo diz no trecho já citado: “Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir e guardar o que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus santos à Igreja.” Portanto, “senti no coração”, “Deus me concede a visualização”, “Eis o que diz o Senhor”, etc, tudo deve estar sendo guiado pelo Magistério da Igreja. Tais visões e revelações privadas devem levar os fiéis viver a vida cristã de maneira coerente. Diante de tudo que o Espírito nos revela em oração, seguindo a orientação do Catecismo, guardemos tudo aquilo que é útil, aquilo que constitui um apelo autêntico de Cristo, aquilo que nos leva a sermos santos. Enfim, com visão ou sem visão, humildade e obediência à Igreja SEMPRE!

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