Visões e revelações: Perigos e lucros para a alma
Salve Maria Imaculada, nossa Corredentora e Mãe!
Muitas pessoas relatam que tem
visões espirituais e/ou revelações privadas. Deus é poderoso, misericordioso, e
manifesta-se a quem quer, como quer, onde quer, da maneira que quiser. Porém,
ao contrário do que muita gente possa achar, tais graças extraordinárias tem um
sentido dentro do plano salvífico de Cristo. Mas, em contrapartida, também
esconde-se um grande perigo, afinal, quem põe sua segurança em visões pode
estar colocando em uma ilusão, colocando-se assim a alma em risco de perdição.
Antes de mais nada, eis o
ensinamento da Igreja sobre tais graças:
No
decurso dos séculos tem havido revelações ditas «privadas», algumas das quais
foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. Todavia, não pertencem ao depósito
da fé. O seu papel não é «aperfeiçoar» ou «completar» a Revelação definitiva de
Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada época da
história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir e
guardar o que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos
seus santos à Igreja. A fé cristã não pode aceitar «revelações» que pretendam
ultrapassar ou corrigir a Revelação de que Cristo é a plenitude. É o caso de
certas religiões não-cristãs, e também de certas seitas recentes. fundadas
sobre tais «revelações». (CIC, 67)
Portanto, fica claríssimo que, para nós
católicos, a revelação está na Sagrada Escritura, na Tradição e no Magistério.
A Igreja reconhece, porém, que pode sim haver revelações privadas, mas, em
contrapartida, estas NUNCA podem ser aceitas como revelações de Deus sobretudo
quando contradizem a revelação de fato, ou seja, a Tradição, Sagrada Escritura
e Magistério.
Eis, portanto, o motivo que começo a citar os
perigos das visões antes de falar dos benefícios. Certa vez S. Catarina de Sena
teve uma visão que se apresentou como Nossa Senhora dizendo que não era
Imaculada. Pode ter sido ilusão do demônio, ou mesmo coisa da cabeça da santa,
afinal, ela era ligada a ordem dos dominicanos, que não criam na Imaculada
Conceição da Santíssima Virgem. Porém, a nossa fé ensina que a Virgem Maria é
Imaculada sim. Todo católico tem que crer nisto, afinal, faz parte da REVELAÇÃO
DIVINA, proclamado dogma pelo Papa Pio IX.
Ora, se S. Catarina de Sena, doutora da Igreja,
não ficou livre das ilusões das falsas visões, quanto mais nós! Eis, portanto,
o primeiro alerta: nunca coloque uma pseudo revelação privada, dada a você ou a
outra pessoa, acima do magistério da Igreja. Quem tem tais graças espirituais
deve colocar-se diante de Deus com muita humildade, e submeter-se rigorosa
obediência à Igreja e Seu Magistério, e não do que eu acho ou do que eu vi em
espírito. Por isso Santa Faustina dizia que “o demônio pode esconder-se sobre o
manto da humildade, mas não sob o da obediência”. E nós podemos ver isso em
muitos falsos videntes, onde fazem cara de humildes, dizem ser perseguidos, mas
não são obedientes a Igreja, propagam o cisma, a ruptura com a Igreja,
blasfemam contra padres e Bispos que não apoiam suas visões e/ou não vivem como
eles queriam.
Falando de aparição, por exemplo, quem tem que
dar o veredito sobre a veracidade ou não do fenômeno é o Bispo da diocese onde
a mesma ocorreu. Se o Bispo disse que é falsa, é falsa. Se o Bispo diz que é
verdadeira, está aprovada (mas lembrando que como revelação privada, podendo um
católico se salvar sem ter necessidade de crer em tais aparições). Se o Bispo
diz que não pode determinar se houve algo sobrenatural, fica-se em aberto até
segunda ordem. Porém, há várias falsas aparições em que os videntes por orgulho
ou sei lá pelo quê, mesmo com os Bispos declarando falsas por ter nas mensagens
conteúdos contrários a doutrina da Igreja, os mesmos blasfemam contra os
pastores e arrastam pobres coitados para suas heresias.
É preciso, todavia evitar um erro muito comum nos
dias de hoje: uma parte só quer viver de visões e revelações privadas, a outra
condena tudo. Não, caríssimos, não devemos ter as visões e revelações como algo
ruim. Elas são úteis e Deus tem um sentido pedagógico para tais. Quando vários
santos, como S. João da Cruz, por exemplo, fala que não se deve fiar em ter
revelações; que não se deve ter oração para buscar ter tais revelações; de
fato, percebemos que o mal não está em ter revelação ou visão, mas em buscar
tê-las ou coloca-las acima da Igreja. Por isso no trecho do Catecismo citado
acima, a Igreja nos previne para os erros dos protestantes neopentecostais que
baseiam toda a existência de suas seitas em visões e revelações – muitíssimo
questionáveis e condenáveis, diga-se de passagem.
Quem
começa a ter visões ou acha que tem revelações, não deve ficar com a alma em
trevas. O problema está se você fica querendo. Afinal, se você só quer rezar
porque quer ter uma visão, por exemplo, você pode ter coisa da sua cabeça e/ou,
bem mais perigoso, o demônio pode aproveitar-se da situação e inspirar coisas
contrárias a fé e/ou coisas boas, mas com fins maus. Deve-se, portanto, viver
na humildade. Santa Catarina de Sena dizia que quando a pessoa estivesse em
oração, e sentisse Deus visitando a alma, não pusesse resistência. Ou seja, se
Deus dá um consolo, uma graça extraordinária, abandone-se em Deus. Mas sempre
reconheça que és pecador e que tudo é graça.
Antes
de falar dos benefícios das visões, quero dizer que quando falo de “visões e revelações”,
não me refiro apenas a coisas super-extraordinárias; afinal, todo cristão vive
de maneira mística, ou seja, em contato com o espiritual, com o sobrenatural.
Portanto, o que falei de visões e revelações, serve para inspirações, bons
desejos, etc. Santa Teresa de Ávila ensina-nos na obra Castelo Interior ou Moradas que logo após a pessoa entrar no castelo
interior, a ter oração, a pessoa tem a inspiração de fazer penitência dos seus
pecados; porém, o demônio aí se mete para inspirar penitências exageradas para
fazer com que a pessoa não consiga cumprir suas obrigações de estado de vida e
desanime, logo saindo do Castelo Interior. Portanto, por mais que nós não
tenhamos visões como muitos a tem, as inspirações que temos também são “revelações”,
que podem vir do Espírito Santo, do Anjo da Guarda, coisa do nosso pensamento (o
famoso “da carne”) ou do demônio. Suponhamos que alguém tem a inspiração de
rezar o Rosário e fazer jejum dia sim dia não pela conversão dos pecadores. Só
que a pessoa não tem um físico bom e mal rezava um terço. Logo ela não dá conta
de fazer o que fazia, já não consegue trabalhar como antes, e até para o
apostolado não tem forças. Logo pensa em desistir e entra em escrúpulos por
achar que é muito pecador e merece o inferno, fazendo a alma entrar em tibieza
e em desespero. A inspiração de fazer jejum e rezar o rosário é bom, mas quais
foram os frutos deste exemplo? Maus frutos. Quem lucrou? O demônio. Portanto
esta “inspiração” veio do demônio ou da carne. Por isso é preciso ter
humildade. Afinal, vindo de Deus ou não a pessoa faz com a intenção de agradar
a Deus, dentro de seus limites, reconhecendo suas misérias e confiando sempre
na Misericórdia de Deus.
Portanto,
se alguém tem uma inspiração que julga ser de Deus porque fez/faz essa ou
aquela coisa boa para a Igreja, mas que, por outro lado, traz males maiores,
esta inspiração não vem de Deus. Pelo menos a fé de sempre não me obriga a
crer. E me refiro, claro, aos sedevacantistas e pseudo tradicionalistas que ferem
a unidade da Igreja atacando o seu magistério, negando o Papa, etc. Enfim, se
tiveram uma inspiração e querem ser católicos sem o Papa, são conduzidos pelo
mesmo espírito de neopentecostais malucos. Eles não sabem latim, mas também são
mestres em negar o Papa.
Enfim,
focando... As visões e revelações tem um sentido pedagógico. Nosso Senhor ao
levar Pedro, Tiago e João para o monte Tabor para contemplarem Sua glória, para
verem Elias e Moisés conversando com Ele, tinha um sentido de mostrar Sua
divindade antes de acontecer a Paixão do Senhor. Quando São Paulo teve sua
experiência ao ouvir a voz de Cristo dizendo “Saulo, Saulo, por que me
persegues?”, ficando cego por causa do brilho, tinha o sentido de fazer Paulo
reconhecer que Jesus era Deus e que perseguindo os Cristãos perseguia ao
próprio Jesus. E mais ainda, a manifestação de Cristo à São Paulo tem a função
de mostrar para este que Aquele estava vivo, que havia ressuscitado. Os discípulos
de Emaús que ao reconhecerem Jesus na fração do pão, puderam tanto crer na
ressurreição de Jesus como na Sua presença real na Eucaristia. S. Tomé que
duvidando da ressurreição do Senhor, vê Cristo que lhe apresenta as chagas,
provando Sua real ressureição. Porém, Cristo mesmo diz “Felizes aqueles que creem sem ter visto!”(João 20,29). Mas, quando
Deus se deixa ver, ou seja, quando se manifesta, tem um sentido: a nossa
salvação.
Santa
Teresa de Ávila é uma grande mística da Igreja - proclamada, aliás, doutora da
Igreja; é mestra de oração – e ensina-nos muitas coisas úteis à cerca da vida espiritual.
É óbvio que ela vai nos narrar dos perigos das visões, se a pessoa viver no
orgulho, enfim, da maneira citada acima. Mas em Santa Teresa nós podemos ver os
benefícios de tais visões, não ficando temerosos por causa das visões em si.
No
Livro da Vida, Santa Teresa nos
conta, por exemplo, que certa vez ela teve uma visão da humanidade de Cristo. A
santa narra que quando ela teve esta visão, foi justamente quando ela estava
com alguns apegos as pessoas; porém, após a visão da humanidade de Cristo,
contemplando Sua beleza, Seu Amor, foi cortado o apego às criaturas, afinal,
ela pôde entender que diante de Deus tudo é nada.
E
assim, durante boa parte do Livro da Vida
ela narra visões e revelações que teve, dizendo na sequência os benefícios que
trazia para sua alma.
Nós
vivemos em um tempo em que muito se fala em visões, visualizações, sonhos
proféticos, revelações, etc. Não devemos ser supersticiosos e colocar tais
fenômenos, como citado anteriormente, acima da doutrina da Igreja. Por outro
lado, devemos evitar o ceticismo. Tais fenômenos são relatados com frequência
por membros da Renovação Carismática Católica ou das novas comunidades. Em suas
reuniões, por exemplo, costuma-se ter pessoas que proclamam alguma moção do
Espírito, narram uma visão que tiveram durante a oração. Para saber a origem,
devemos buscar os frutos. Não devemos simplesmente condenar por sermos céticos.
Devemos, porém, analisar os espíritos e reconhecer que Deus, tendo um fim
pedagógico, pode de fato estar inspirando tais fenômenos – como particularmente
acredito. Afinal, em Santa Teresa vemos que quando ela tinha visões, vinha-lhe
um efeito positivo na alma, desapegava-se das criaturas, animava-se para fazer
a vontade de Deus, etc. Se nós temos visto um aumento das pessoas que tem tais
visões hoje, é porque é uma necessidade própria do tempo em que vivemos.
Afinal, se Santa Teresa após a conversão verdadeira, precisou de uma visão da
humanidade de Cristo para se desapegar das pessoas, quanto mais nós que vivemos
em um tempo totalmente paganizado, onde o pecado tem corroído todos os sentidos
dos jovens – não poucas vezes de maneira luxuriante. Sendo assim, se o jovem
está com os sentidos totalmente corrompidos, se muitas vezes vivem distantes de
Deus e/ou tem uma concepção totalmente distorcida de quem realmente seja Deus,
este (Deus) sendo poderoso e querendo a salvação das almas, manifesta-se de
maneira extraordinária nos sentidos das pessoas, concedendo-lhes visões, por
exemplo (assim como também o repouso, embora seja muito discutido – mas Santa
Teresa de Ávila no livro das Moradas cita algumas coisas do Espírito
semelhantes, como o “sono espiritual”. O que quero dizer é: não julguem os
outros por terem tido tais graças nem desacreditem, talvez você não precisou
desta graça para se converter, mas, para outros, foi o grande toque que o fez
converter-se – ou iniciar a conversão, obviamente).
Vivendo
em um mundo árido, distante da oração, que se deixa seduzir por qualquer
convite do mundo – em que os demônios parecem estar dominando e corrompendo com
mais força os corações; Deus faz suscitar tais reuniões onde manifesta-se
extraordinariamente.
Muitos
podem se questionar como saber se é ou não de Deus. São Paulo Fala em 1Tim 3,15
que “a Igreja é coluna e sustentáculo da
verdade”. Portanto, a Igreja aprovou o movimento Renovação Carismática
Católica, além de várias novas comunidades, etc. Reconhecendo que elas trazem
bons frutos para a Igreja. Em relação as reuniões ou as manifestações
realizadas em privado mesmo, como saber se vem de Deus? Quais os frutos deixados
na alma? Bons ou maus? Veio algo contrário a fé? Por exemplo: se imprimir-se
algo na mente dizendo que Jesus não é Deus, obviamente isto não vem de Deus.
Por
isso, caríssimos, repito mais uma vez as palavras OBEDIÊNCIA e HUMILDADE. Estes
são os caminhos para que as visões, quer vindas de Deus, quer do demônio, não
nos levem para o caminho da perdição. Se tivermos humildade e obediência, mesmo
que as visões não sejam de Deus, elas não nos trarão mal. Afinal, reconhecendo
não ser digno de tais graças, não se coloca acima dos outros, mas sabe que Deus
está sendo bom com um pecador. E, caso lhe venha algo contrário a doutrina da
Igreja, saberá rejeitar. Se a própria imaginação ou o demônio lhe inspira uma
visão, não se fie disso, não queira viver de visões, mas sempre busque auxílio
na solidez da Igreja. Se a cada visão que você tiver, mesmo que seja do
demônio, você se humilhar diante de Deus e se animar para se converter, rezar,
confessar, e buscar ser obediente a Igreja e Seu magistério, o demônio logo
parará, afinal, ele (demônio) estaria tendo prejuízo.
Portanto,
caríssimos, acredito piamente que nos movimentos carismáticos quem age é o
Espírito Santo. Afinal, vemos isso pelos frutos. Você pode não gostar dos
jeitos, mas, se observarmos bem, quando se tem uma experiência genuína com a
chamada “Cultura de Pentecostes”, tais pessoas começam a se arrepender
verdadeiramente dos pecados, se confessam com frequência, buscam assistir à
Santa Missa e comungar com mais frequência, faz adorações ao Santíssimo
Sacramento, rezam o Terço, tem amor pela Palavra de Deus, etc. O demônio não
vai fazer o cara sair do prostíbulo para entrar neste itinerário espiritual.
Como diria o Padre Paulo Ricardo no curso de Dons Carismáticos em seu site, se
o demônio faz isso, precisamos de mais demônios para as pastorais. Claro que
ele usou da ironia para dizer que isto não é obra do demônio. Não quero com
isto dizer que dentro do meio carismático não haja falsas revelações, falsas
visões, pessoas que de fato são histéricas, etc. Afinal, se nem S. Catarina de
Sena foi livre de ter uma falsa visão, quanto mais nós. O importante é sempre
após a oração, seja comunitária ou pessoal, renovar a profissão de fé na
Igreja. Afinal, se algo me inspira a me separar do Corpo Místico de Cristo, não
é inspiração do Espírito. Portanto, aos carismáticos que porventura estão lendo
este texto, não quero que se fechem às moções do Espírito. De maneira alguma.
Exorto, porém, a unidade com a verdadeira fé. Que de tudo que foi proclamado,
que foi impresso na alma, possa levar à Cristo pela Igreja. Caso contrário, de
fato estaremos com problemas.
É mister recordarmos o que o Catecismo diz no
trecho já citado: “Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir
e guardar o que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos
seus santos à Igreja.” Portanto, “senti no coração”, “Deus me concede a
visualização”, “Eis o que diz o Senhor”, etc, tudo deve estar sendo guiado pelo
Magistério da Igreja. Tais visões e revelações privadas devem levar os fiéis
viver a vida cristã de maneira coerente. Diante de tudo que o Espírito nos
revela em oração, seguindo a orientação do Catecismo, guardemos tudo aquilo que
é útil, aquilo que constitui um apelo autêntico de Cristo, aquilo que nos leva
a sermos santos. Enfim, com visão ou sem visão, humildade e obediência à Igreja
SEMPRE!
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