O silêncio que faltou a São Pedro
“Estando
Pedro embaixo, no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote. Ela
fixou os olhos em Pedro, que se aquecia, e disse: ‘Também tu
estavas com Jesus de Nazaré’. Ele negou: 'Não sei, nem compreendo
o que dizes'. E saiu para a entrada do pátio; e o galo cantou. A
criada,que o vira, começou a dizer aos circunstantes: 'Este faz
parte do grupo deles'. Mas Pedro negou outra vez. Puco depois, os que
ali estavam diziam de novo a Pedro: 'Certamente tu és daqueles, pois
és galileu'. Então, ele começou a praguejar e a jurar: 'Não
conheço esse homem de quem falais'. E imediatamente cantou o galo
pela segunda vez. Pedro lembrou-se da palavra que Jesus lhe havia
dito: 'Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás'.
E, lembrando-se disso, rompeu em soluços.” (Marcos 14,66-72)
Salve
Maria Imaculada, nossa Co-Redentora e Mãe!
Nessa
passagem da negação de Pedro podemos meditar algo a mais do que
simplesmente o ato de negar a Jesus. Podemos e devemos meditar o
porquê de Pedro ter negado o seu Senhor. Pedro havia dito na ceia
que nunca se escandalizaria de Cristo (cf. Marcos 14,29) . O que
aconteceu para este que de juras de amor, de dar a vida por Cristo,
agora está negando, não diante de Pilatos, mas diante dos mais
simples, dos servos...? Não acho que ele não amasse o Senhor;
podemos ver que ele amava sim ao lermos o relato da reconciliação
após a ressurreição de Cristo (João 21,15-23). O que consigo
contemplar ao ler a narrativa da negação de Pedro, é que, como
dizem popularmente, ele perdeu a oportunidade de permanecer calado.
Pedro falou quando deveria calar; por isso nós muitas vezes, à
exemplo de Pedro, mesmo amando o Senhor, acabamos blasfemando,
pecando, traindo o Senhor em diversas situações porque nós não
sabemos nos calar. Precisamos ter o santo silêncio.
As
pessoas estavam acusando Pedro de seguir Jesus. E isso era verdade.
Ele seguia Jesus, era o líder dos Apóstolos. Mas acabou se
escandalizando. Não com Cristo, mas com a Cruz. Ele estava vendo se
cumprir as profecias de Jesus que dizia que padeceria, morreria... E
acabou se cumprindo a profecia que ele (Pedro) trairia Jesus. Pedro
negou Jesus porque queria negar a Cruz, Pedro se escandalizou do
sofrimento que tomaria Jesus. E diante da cruz, o ser humano não
deve falar, mas imitando a Virgem deve permanecer silenciosamente.
Devemos adorar o Cristo crucificado, mas não tagarelar, onde
acabamos traindo o Senhor.
Nós
vemos a importância do silêncio quando nós nos adiantamos na
passagem de Marcos que foi citada. Leiamos a seguir a narração
evangélica da prisão de Jesus diante de Pilatos:
“E
tendo amarrado Jesus, levaram-no e entregaram-no a Pilatos. Este lhe
perguntou: 'És tu o rei dos judeus?'. Ele lhe respondeu: 'Sim'. Os
sumos sacerdotes acusavam-no de muitas coisas. Pilatos perguntou-lhe
outra vez: 'Nada respondes? Vê de quantos delitos te acusam”' Mas
Jesus nada mais respondeu, de modo que Pilatos ficou admirado.”
(Marcos 15,1-5)
Aqui
está a chave da questão, a sabedoria do silêncio de Cristo deixa
Pilatos admirado; a insensatez da loucura da tagarelice de Pedro fez
ele trair o Amado Jesus. Jesus respondeu a pergunta sincera de
Pilatos de maneira simples e direta. “És tu o rei dos judeus?”
“Sim” - disse Jesus. Ora, isso nos lembra o que o próprio Jesus
que disse: “Dizei somente: 'Sim', se é sim; 'não', se é não.
Tudo o que passa além disso vem do maligno” (Mateus 5,37). Jesus
poderia ter acrescentado muita coisa, mas disse sim, pois a resposta
para a pergunta era sim. Pedro além de negar, acrescentou...
Acrescentou juramentos em falso, pragas... Se Pedro tivesse
silenciado o coração e contemplado o mistério. Por isso Jesus
ensinou para Santa Faustina um ensinamento que julgo ser um dos mais
difíceis de seguir: não reclamar os seus direitos, não se
defender, deixar que as pessoas a julguem como quiser que se Ele
quiser que ela seja defendida Ele mesmo a defenderia. Traduzindo:
permaneça sempre em silêncio. E de fato, quando queremos nos
defender, justificar, dar uma explicação quando esta é
desnecessária, acabamos blasfemando, nos irando, jogando pragas, e
matando o irmão dentro de nós. Fora que quando envolve pessoas da
Igreja, muitos acabam praguejando Sacerdotes e até o Papa. Como
Pedro, se tivéssemos ficado calados...
Tanto
é reala necessidade de se calar ante as acusações, que podemos ver
que diante do sofrimento, da humilhação, da cruz já próxima,
Jesus respondeu a pergunta sincera de Pilatos, porém, podemos ver
que quando os judeus o acusavam Cristo se calou. Tanto que Pilatos
pergunta se Ele não iria responder tantas acusações. E este
silêncio admirou Pilatos. Nós temos feito o mundo nos admirar, ou
estamos escandalizando o mundo com a nossa murmuração e
praguejamentos?
Para
dar exemplos vejamos algo corriqueiro: você está conversando e
acaba citando o nome de uma pessoa, sem maldade, só quer saber
notícias; porém, você sabe que sempre que cita o nome dessa pessoa
os outros começam a fofocar sobre. O que você faz? Cita, e começa
a fofoca. Você sabe que determinada pessoa é estourada por causa de
política, futebol ou algo, e o que você faz? Fala algo sem
discernimento e sem necessidade... Aí BUM! Explode a bomba da
murmuração. Alguém te critica, fala algo, você o que faz? Dá a
outra face? A Face do silêncio... Não. O orgulho tem nos tomado e
logo nos defendemos, porque nós não podemos ficar sendo mal falado.
Não é assim que pensamos? Enquanto deveríamos nos calar. Aí nós
nos defendemos, a pessoa fala mais, e acabamos dentro de uma
discussão feia. Fulano é ignorante, nem te conhece e fica falando
mal de você? Mas você e eu não deveríamos ter ficado calados?
Ora, se no primeiro ataca, no primeiro “agora só usa saia”, “vai
ser padre”, “agora não sai dentro da Igreja”, e os famosos
dizeres dos mundanos – inclusive os mundanos dentro da Igreja -, se
tivessemos ficado calados e entendêssemos que as nossas palavras não
as converterão, mas sim a nossa oração com o nosso exemplo, não
teria tido um “pega” e com trocas de ofensas. Quando falamos,
devemos falar com discernimento. Assim como Cristo diante de Pilatos
falando da verdade. Deixou Ele sem argumento. Se nós fizermos
verdadeiro silêncio orante, teremos discernimento pra saber quando
como falar. Estaremos sempre sob inspiração do Espírito Santo.
Quer
ser fiel a Cristo? Possamos ter vida de oração diária, nos
consagremos e imitemos Nossa Senhora, a Virgem do silêncio, para
entendermos que diante da Cruz devemos nos calar, e não falar, para
que não venhamos a trair o Senhor.
Que
possamos aprender o silêncio que vivia e ensinava Santa Faustina:
“Ora, o Espírito Santo não fala à alma distraída e tagarela,
mas fala por suas suaves inspirações à alma recolhida, à alma
silenciosa. Se o silêncio fosse observado estritamente, não haveria
murmurações, mágoas, maledicências, mexericos, não seria
prejudicado o amor ao próximo. Numa palavra, muitos erros seriam
evitados. Os lábios selados são como ouro fino e testemunham a
santidade interior.”
Sigamos
o ensinamento do Senhor na Sua Palavra: “quem odeia a
tagarelice destrói sua malícia” (Eclesiástico 19,5) Que
possamos destruir a nossa malícia e saber acabar com a maldita
fofoca, que o próprio Papa Francisco tem citado. A Palavra ainda
diz: “Ouviste uma palavra contra o teu próximo? Abafa-a
dentro de ti; fica seguro de que ela não te fará morrer. Por causa
de uma palavra (irrefletida) o tolo estorce-se de dores, como uma
mulher que geme ara dar à luz. Como uma flecha cravada na gordura da
coxa, assim é uma palavra no coração do insensato.”
(Eclesiástico 19,10-12)
Santa
Faustina ainda fala que “Calar-se quando se deve falar é uma
imperfeição e, algumas vezes, até pecado”. Ela quer dizer que
devemos saber quando falar. Ora, se eu vou pregar, e eu sei que algo
é pecado, não posso me calar e denunciar o pecado. Se uma pessoa
vem pedir conselho sobre uma situação pecaminosa, e eu tenho a
opornudade de exortar essa pessoa, não posso me calar. Por isso que
no dia a dia eu devo saber calar-me, ouvir a voz de Deus, não me
intupir ouvindo coisas mundanas, para ter discernimento quando Deus
me pedir que fale. “Há quem se cale por não saber falar, e
há quem se cale porque reconhece quando é tempo (de falar). O sábio
permanece calado até o momento (oportuno), mas o leviano e
imprudente não espera a ocasião. Aquele que se expande em palavras,
prejudica-se a si mesmo; quem se permite todo o desregramento
torna-se odioso” (Eclesiástico 20,6-8)
Que
Nossa Senhora, a Virgem do silêncio nos dê essa graça de termos o
santo silêncio para sermos fiéis ao Senhor Jesus Cristo até o fim,
ou melhor, até os séculos dos séculos. Amém.
Salve
Maria Imaculada, nossa Co-Redentora e Mãe! Viva Cristo Rei do
Universo!
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