Uma partilha sobre VOCAÇÃO

by - agosto 18, 2015

Salve Maria Imaculada, nossa Co-Redentora e Mãe!

Há algo mais angustiante para alguém que ama a Deus do que descobrir como melhor amar ao seu Senhor? Para quê Deus me criou? Qual meu lugar no jardim de Jesus? Qual a vontade de Deus para a minha vida? Questionamentos que angustiam profundamente o homem.

Devemos ter a consciência de que só Deus sacia o homem, e só Ele pode saciar a nossa sede de felicidade. Só Ele preenche o vazio interior que há em nós. Fora d'Ele só há trevas e confusão; em Cristo, no entanto, luz e paz. Por isso na nossa busca pela vocação devemos saber que nada nos fará feliz, somente Cristo. Nem as coisas (carros, casas, empresas, dinheiro, diplomas, etc.), nem as pessoas podem nos fazer felizes. Mas só Cristo. Nem o Seminário, nem o convento. Só Cristo! Nem a(o) esposa(o) nem os filhos. Mas Cristo! Sim, Cristo nos fará felizes.

Sendo assim, meus amados, a busca pelo discernimento é: onde sou feliz por Cristo, com Cristo e em Cristo? Claro, quando digo “feliz” não estou falando na ausência de Cruz; mas falo no sentido evangélico da coisa: aonde a minha cruz – por maior que seja – me faz feliz porque estou com Cristo? Qual a Cruz que carrego com alegria? A Cruz deve ser carregada com alegria, e não depressivamente. Felicidade aqui não é prazer, satisfação pessoal, “porque eu quis”... Não! Não é isso que falo. Mas é um ser feliz no que Deus quer. Vida ou morte, o que Deus mandar abraço. Essa deve ser nossa atitude.

Eis o grande problema vocacional de nossos dias. Acabamos esquecendo que o chamado vocacional que Cristo nos faz é o caminho de e para a felicidade. Ele não nos faz um chamado para ficarmos acabrunhados. E a tristeza que falo é diferente da do jovem rico. O jovem rico ficou triste porque não quis renunciar sua riqueza. Mas muitos fazem renúncias, querem viver segundo o Evangelho, mas continuam tristes. Mas será que tal estado era vontade de Deus. Uma jovem chamada Marcela Kamiroski disse certa vez: “o termômetro da vocação é a felicidade”. Você é feliz? Plenamente feliz? Claro, a plenitude virá no Céu... Mas você recebe um raio da felicidade da glória, ou vive angustiado? É, vamos falar de vocação...

Deus sabe o quanto me custa estar escrevendo este texto. Mas me vejo na obrigação de escrever essa partilha, afinal vejo tantos cegos, retendo a vocação, buscando aplausos, buscando o que as pessoas querem. Querem servir a Deus, mas não sabem como. Mas Deus sabe o quanto me custa escrever pois quero falar da minha própria dificuldade. A verdade é que eu sou mais uma anta buscando ser um dia ovelhinha dócil no redil do Senhor.

Enfim, o que precisamos entender primeiramente é que a vocação é um CHAMADO de Deus para nós. Ele nos vocaciona, nos chama, nos dá uma missão, um estado de vida. É ELE, JESUS, o autor da vocação. Vocação não é um plebiscito ou referendo onde consulto a opinião do povo para tomar a minha decisão – ou melhor, aceitar ou não o projeto de Jesus para mim. Então paremos de ficar fazendo perguntas como: “Tenho cara de padre ou de pai?”; “tenho cara de freira ou de mãe”? Você tem cara de anta! Larguemos de ser antas, e passemos a ser pessoas santas. A vocação não se discerne com um “você tem cara de padre”. A vocação se discerne quando você reconhece que você não tem cara de padre, mas coração de padre; quando descobre que você, moça, não tem cara de freira, mas coração de freira que quer ser esposa de Cristo. Não é a cara, os jeitos, trejeitos, mas o coração. O seu coração é o que?

Portanto, nem sempre a voz do povo é a voz de Deus. Deus usa das pessoas para falar conosco. Porém, não é porque 90% da Paróquia que você frequenta e/ou dos seus amigos dizem que você será padre/freira que você tem essa vocação. Na Bíblia ou na vida dos santos está dizendo que o chamado vocacional depende da aprovação de no mínimo 50% + 1 dos votos válidos? Portanto, o que as pessoas falam vale como uma busca, um alerta talvez, mas não como uma certeza vocacional.

Buscar este ou aquele estado de vida só “porque todo mundo fala que tenho cara” poderá te fazer uma pessoa infeliz, não realizada, triste, abatida, orgulhosa, e – pasmem! - idólatra. Entenda o porquê.

Depois que conheci Jesus sempre tive (ou tenho) minhas crises vocacionais. Na minha mente sempre tinha algo fechado com o “quero casar”. Você quer ser padre? Não – respondia eu -, eu vou me casar. Talvez você tenha se identificado com isso. Mas conforme o tempo de caminhada com Cristo vai passando, você vai conhecendo Seu amor, Suas Misericórdias, Suas maravilhas, enfim, você começa a se questionar. E então, simultaneamente, começa a praticamente brotar da terra um monte de gente dizendo “você tem cara de padre”, “vai ser padre”, “meu filho, você é seminarista?”, “Eu jurava que você era padre”, “é quase padre”. Enfim, de uma vez quando viajei para visitar alguns parentes a conversa do povo é que eu estava “estudando pra ser padre”. De onde surgiu? Bom, suspeito, mas deixa quieto. O fato é que todos começam a mandar profecias. E se nós queremos ter um discernimento devemos entender que nem sempre – vocacionalmente falando – que várias pessoas proclamam algo do tipo vem do Espírito Santo. Sabe porquê? Porque não se fala, normalmente, movidas por uma ação interior do Espírito, mas somente pela carne. Por que tenho cara de padre? Bom, normalmente uso roupas sociais, uso um rosário na cintura... É movido pelo exterior, entende? Um irmão missionário, casado, certa vez disse que lhe falaram que ele se vestia como padre. A sua resposta foi sensacional: O padre é que está se vestindo como eu! (O padre por lei eclesiástica deve vestir habito eclesial). Ou seja, o povo da própria Igreja está tão acostumado ao ver os jovens depravados, que ao ver um rapaz vestido de social, ou uma moça com saia, logo fala “Padre, freira”. Logo no início da minha caminhada um versículo foi inscrito com marcas de fogo em meu coração (é uma maneira de dizer, não ache que me apareceu um serafim): “Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lev. 19,2). Ora, descobri que Deus me quer santo. Então muitos falam que você, rapaz, tem cara de padre, e você, moça, de freira, porque quer ser santa. Ora, os jovens estão tudo se pegando, e você é na sua... Vai ser padre! Ora, eu não estou “ficando” com ninguém não é porque quero ser padre, mas porque quero ser santo. Isso independe do estado de vida. A santidade é para todos.

Mas porque citei isso? Pra desabafar? Não, pode não ter parecido, mas levo numa boa toda essa situação. No início, é verdade, me causava irritação. Hoje levo numa boa.

Citei essa situação – que provavelmente você também deve ter vivido ou vive – porque corremos o risco de cometer idolatria. Como? Fazendo o que o povo quer para agradá-los, e se apartando da vontade de Deus pra você.

Com tanta gente falando pra eu ser padre, pensei: “por quê não?”. Fiz vocacional na Ordem dos Frades Menores Conventuais por dois anos. O interessante é que nos dois anos parei no meio do ano após o retiro. Enfim, quando as pessoas falam muito “você vai ser padre” pode ser chamado de Deus para que você de passos. E sei que isso foi importante porque me ajudou bastante fazer o vocacional. Mas não rolou.

Mas as angústias do “não rolou porque não quero, ou porque não é vontade de Deus?” Continuam. Afinal, o povo continua falando “cara de padre”. Parece uma torcida organizada “Ole, ole, ole, ole... Padreeee, padreee!” (Obvio que estou exagerando!). Então começo a me perguntar: É Deus que me chama, ou procurei por causa do povo?

Um dia em meio as angústias, rezando com a Palavra de Deus, compreendi a idolatria. A Palavra foi Êxodo 32. Então me vi na pessoa de Aarão. Moisés subiu para o monte, demorou, e o povo impaciente, vai até Aarão e manda-o fazer um bezerro de ouro. Se lermos bem, veremos que Aarão sabia ser errado (ler vers. 21-24), e fez porque o povo era cabeça dura. Ou seja, Aarão fez o bezerro de ouro pelo “clamor popular” dos impacientes que não esperavam a volta de Moisés. Assim eu, impaciente pela espera da manifestação da vontade divina na minha vida, fui atrás do clamor popular. Não que ter ido aos Frades tenha me feito mal, mas muito pelo contrário. Mas o sentimento de “vou ser padre, afinal todos falam” me angustiava. Fui criando meu pequeno bezerro de ouro vocacional. Se o povo dizia, aqui estou. Mas a vocação é um chamado de Deus. É Deus quem chama. O povo envia, mas Deus não chama...

Assim muitos estão vivendo. Buscando as glórias humanas. A vocação é um chamado de Deus, e não um clamor popular. Não posso ficar 8, 9, 10 anos num Seminário e até me tornar sacerdote sem ser feliz, apenas porque não quero decepcionar meus amigos, meus familiares, meu povo da paróquia... NÃO! Você tem que dar o passo por AMOR a Jesus, e não para o povo. Ouvi muito falar de “servir o povo”, mas o problema é que a vocação não é apenas servir o povo, mas amar a Deus, para do amor dEle, servir ao povo.

Enfim, depois de levar essas porradas vocacionais através desta Palavra, Jesus ainda foi me mostrando outras palavras em momentos que rezava mesmo nesse sentido de busca da vontade de Deus; se era o sacerdócio ou não. Em uma delas levei um nocaute: “não procures o que é elevado demais para ti; não procures penetrar o que está acima de ti. Mas pensa somente no que Deus te ordenou” (Eclesiástico 3,22). Ou seja, para mim, Anderson Carlos Bezerra, o sacerdócio é algo elevado demais. Para mim! Não devo ser orgulhoso! Não devo ser idólatra e fazer o que quero ou o que agrada ao clubinho que me quer no seminário! Entende? E Jesus finaliza com o miserável aqui com esse “pensa somente no que Deus te ordenou”. Eita! Coisas que o Senhor colocou no meu coração ha anos e deixei passar... Não me empenhei em um projeto específico pensando no projeto de vida que terceiros tinham para mim. Repito: o discernimento vocacional nos Frades foi de suma importância; mas falo em “projeto alheio” em relação ao fechar-me numa bolha de uma vocação ilusória oriunda do desejo alheio.

Vale a pena citar também o porquê dessa passagem ter sido tão violenta para mim. De fato eu sai do nível de me esquivar nos questionamentos de ser padre e, embora normalmente desconversando, no meu coração passei a aceitar por um motivo: a glória do sacerdote. Ia pregar de boa, celebrar minha própria Missa, usar batina, me destacar, etc. A glória, já a cruz, neh, amado, poucos querem. Jesus disse para Santa Faustina que a lua era os sacerdotes e religiosos, e as estrelas eram os demais fiéis; e que assim como há diferença no brilho da lua e das estrelas, assim também no Céu a glória de cada um seria diferente. Então movido pelo desejo de glória maior foi aderindo a ideia de ser padre. Mas então aprendi que não há maior glória do que fazer a vontade de Deus, mesmo que essa seja para sermos os mais pequeninos. Digamos que é aí que a frase de Santa Teresinha do Menino Jesus sai do sentimentalismo e se encarna na nossa história: “a minha vocação é o Amor!” Sim, porque a vocação primeira é amar a Deus sobre todas as coisas; é ser santo. Se sou um padre que amo os privilégios e a glória futura, corro risco de perder esta última – além de ser infeliz nessa terra. Da mesma forma qualquer outro estado de vida. Se sigo por qualquer motivo carnal, de interesse, de pressão, mas não de amor por Jesus que lhe chama a tal estado, é só infelicidade e angústias. Descobri que eu não deveria ser lua por vontade própria, mas que minha glória consistia em ser uma estrelinha pequenininha, se essa fosse/for a vontade de Deus.

E falando em Santa Teresinha, Jesus usou-a para me dar mais uma voadora vocacional! Ela é amiga dos sacerdotes. Conheço um padre que falava de sua devoção à ela no período de Seminário, a tal ponto de sentir sua presença junto de si. Aliás, o próprio Padre Paulo Ricardo conta que seu discernimento vocacional se deu ao ler algumas frases de S. Teresinha, onde ela falava que gostaria de ter um irmão padre. Ele assumiu pra si e virou esse grande sacerdote. Mas como a vocacação é um CHAMADO PESSOAL, lá vai o Anderson que não sossega e não cansa de apanhar. Vai la pegar o livro em pdf “história de uma alma”, reza uma Ave Maria e pede para Deus que fale através de Teresinha. Pois bem, Deus fala: Muitas almas pensam ser chamadas sem o ser de fato”. Resumindo: Vlw. Flw. Mals ae!

Embora a “torcida organizada” gritasse, questionasse, empurrasse, para que eu fosse padre; Deus falava o contrário. Portanto, a quem seguir? Seguir aquele que sempre estará comigo e que jamais erra: Jesus. Por isso não posso ser o que você quer, o que eu quero, mas o que Deus quer.

Mas o engraçado é que após me deixar levar pela ideia de ser padre, eu fui criando uma séria resistência ao matrimônio. E isso foi fácil, afinal, pelos traumas familiares, feridas afetivas, etc., naturalmente eu me fecharia ao ver uma possibilidade de estar na graça de Deus sem ter que lutar contra as minhas próprias misérias.

Então, aquele jovem que ao ser questionado sobre ser padre respondia rapidamente “quero casar”; inexplicavelmente começou a ter resistência em querer tal vocação. De um lado não me encontrava na vida religiosa nem no pensamento de ser padre; de outro já tava revoltado com história de casar... Pensei em ser celibatário. Mas logo identifiquei preguiça da minha parte em ter que escolher e lutar pra ser santo. Queria me esquivar. Não sentia o desejo de ser celibatário. Só era preguiça de optar e lutar.

Para se restaurar (ou iniciar a restauração) foi todo um processo. E entrar no vocacional ajudou-me a excluir os escrúpulos.

Embora tenha citado passagens bíblicas que me veio em oração, o discernimento vocacional não se dá simplesmente abrindo a Bíblia ou lendo uma frase de uma santa. É preciso DISCERNIR, ou seja, experimentar do espírito. A pessoa pergunta: “Deus, o Senhor quer que eu seja padre?”. E ao abrir a Bíblia cai no livro de “Naum” e a pessoa fala: Viu pessoal, Deus disse que Naum. Não força ne. Tenhamos discernimento. Deus me falou, mas porque era confirmando o que já sentia no experimentar do espírito e na meditação da minha própria vida.

Deus fala conosco através da nossa história de vida. Dizem que trazemos lembranças da nossa infância que nos ajudam a discernir a nossa vocação. E lembro de algumas coisas. Lembro exatamente que quando eu era pequno, talvez 5 anos, eu disse para o meu pai e para a minha mãe que queria ser... PADRE. Aí você me diz, tá vendo, é a sua vocação. Pois bem, só que o que acontece é o seguinte: eles me disseram: Certeza? Padre não pode casar! Imediatamente eu desisti da história de ser padre porque queria casar. Só que compreenda: se fosse um adolescente, entenderia. Mas eu com 4 ou 5 anos de idade ter o firme propósito de casamento? Oi? Se meus pais já tivessem se divorciado na época se entenderia. Daquele dia não lembro de ter querido ou até mencionado a ideia de ser padre. Pois se eu tive um sonho que eu sempre quis foi... SER PAI. Meu projeto de vida era casar e ser pai. Repito: criança. Eu era criança e gostava de bebês. Uns negócios esquisitos, é verdade, mas era o que carreguei durante toda a minha vida. Vemos muitas crianças que brincam de celebrar a Missa. Eu não me recordo de ter feito isso. Mas me lembro de pegar uma bíblia (essas do novo testamento) e ficar lendo como se tivesse pregando, ou pegar o folheto da bíblia e ler do mesmo jeito, achando que a homilia era lida. Eu queria pregar. E de fato, embora tenha sido brincadeira de criança, hoje se realizou este “sonho” de criança que só fui lembrar com importância depois de, por Misericórdia de Deus pela Imaculada, ter virado pregador do Evangelho. E já que falei dos meus tempos de Criança... Era estranho, minha família era católica, mas acabava tendo alguns desvios como frequentar um local espírita e/ou ser meia atoa. Lembro perfeitamente da presença mariana na minha casa. Sempre amei Nossa Senhora... Mas o que acho estranho? Pra uma criança que ia as Missas apenas, e não tinha certa frequência, como que eu tinha aversão a seita protestante? Eu entendia perfeitamente que ali era errado porque não tinha Nossa Senhora. Lembro que diziam que Jesus fundou a Igreja... Mas era estranho eu com essa idade pequena ter o pensamento de que não era preciso virar protestante pra pregar com fervor, e (não era o termo que provavelmente pensei na época) ser santo/mudar de vida. Eu tinha uma avó protestante que visitava lá em casa de vez em quando, mas eu NUNCA fui a um culto protestante. Enfim, coisas que hoje eu lembro e vejo a minha vida e contemplo que realmente era Deus, e não eu.

Enfim, quando criança tinha esses três desejos formulados no meu coração: ser pai, ser santo e ser jogador de futebol. O último deu ruim. Talvez com o terceiro o segundo, para mim, fosse inviável. Enfim, o fato é que sempre quis ser santo, e ser pai. Também não entendo como que eu que não era filho de quem era engajado na Igreja tinha impulsos a santidade. Claro, é Deus, é a Virgem, o Anjo da Guarda. Mas racionalmente. Santo, e pai... Meus sonhos de criança.

Enfim, minha vida foi passando, dei uma desviada, vivi no vale tenebroso da morte. Mas eis que o Senhor me resgatou. Eis que a Virgem Maria, minha Amada Mãe, intercedeu por mim junto a Seu Filho Amado e adorado.

O fato é que, como disse, conforme ia caminhando, as pessoas falavam A, mas Deus... Deus nos dá sinais. Deus fala conosco. Lembro-me de algumas coisas. Há pessoas que tem autoridade espiritual para nos ajudar. Uma dessas pessoas são nossos padrinhos/madrinhas. E lembro que minha madrinha de Crisma me presenteou certa vez com um Ícone da Sagrada Família. Oi? Deus falando?

Mas o fato é que tenho que reconhecer que a mão de Deus me guiou para meditar sobre a vida religiosa, sobre o sacerdócio, para que eu me purificasse para a assumir a outra (partindo do princípio que minha vocação seja mesmo o matrimônio). Foi preciso eu passar pela estrada da dor vocacional para fazer as coisas por amor a Deus, e não pelo amor-próprio. Antes quando eu dizia que queria casar era por pura carência, apego, desejos, etc. Após toda a luta vocacional, hoje compreendo o matrimônio não como um contrato de duas pessoas, mas como uma aliança de duas pessoas com Deus, verdadeiro sacramento, presença real da Trindade na sua vida. Então foi preciso eu assumir interiormente a outra vocação para ver que não me encaixava lá, para que dali eu pudesse, purificado, compreender o que é o matrimônio e não me ferisse e nem ferisse outrem.

Não lembro se as meditações com as duas passagens bíblicas foi antes ou depois do caso que quero falar agora, mas as coisas começaram a mudar da seguinte maneira. Estava na Semana da Misericórdia de 2014, numa segunda feira, no Jardim da Imaculada, e eis que um sacerdote muito famoso por seus dons e carismas, Frei Josué – OFMConv -, como de costume pegou uma rosa para jogar para o povo. Normalmente é uma graça que a pessoa recebe. Ele, se não me engano, tocou a rosa no peito de Jesus Misericordioso e jogou. E foi no rumo de quem? Peguei a rosa! Nesse mesmo dia, já ia dormir, quando meu primo chega do trabalho e me dá um presente. Sabe o que? Um kity que havia comprado de um missionário (ao que parece) que passou em seu serviço. Vale lembrar que meu primo é católico mas não praticante. E eis que o que ele me dá é um livro de orações com a seguinte frase: “Família, o Bem Mais Precioso”. E no kity vinha um escapulário e um Terço. Ou seja, ser família revestido do manto da Virgem e guerreando rezando o Terço diariamente.

COMO FAZER BEM O DISCERNIMENTO?

Se ainda não ficou claro, devemos discernir experimentando o espírito.

Eu só pude constatar que a voz do povo era voz da carne e não voz do Espírito Santo quando eu fui experimentar do Espírito. Eu não posso olhar pra um sapato e ficar pensando “será que ficará confortável no meu pé?” Não! É preciso colocar o sapato, experimentar, e aí saberá se aquele sapato cabe direito no seu pé.

Se você vive essa angústia de não saber para o que Deus te chama, você deve fazer um vocacional. Você não vai saber qual é sua vocação se angustiando, chorando, vagando na internet, é preciso cheirar o perfume das rosas do Jardim do Senhor para saber qual é a que lhe traz a felicidade de amar Jesus. Será o sacerdócio? Vida religiosa? Matrimônio? VAI PROCURAR! Ao fazer um encontro vocacional não te obrigará a entrar na ordem, mas fará você conhecer a vida e saber se é ali que encontrará a paz.

Por que, por exemplo, não me vejo como padre? Fui Cerimoniário na Paróquia, fui Acólito no Shalom (vale lembrar que também fui vocacionado de lá), servi até em Missa com Bispo. E ao contrário de muitos que despertam a vocação sacerdotal estando próximo ao altar, no meu coração só havia inquietude e a pergunta: o que estou fazendo aqui? Não, não era sentimento de humildade, de não me achar digno, etc. Tentar explicar: na escola você já entrou na sala errada? Sabe essa sensação de entrar na sala e perceber que entrou na sala errada? Pois é, me sentia assim. Não é meu lugar. Não me sinto a vontade. Desde a procissão até os outros afazeres, era uma guerra interior: não me encaixo.

Por outro lado, no tempo em que estava bloqueado para o matrimônio, Deus (pelo menos creio que era Ele) me atraia de algumas formas: do nada alguém sabe-se la de onde começa a tocar alto a música “Abençoa Senhor as famílias, Amém. Abençoa Senhor, a minha também.” E eu me irritava, no início. Do nada começava a aparecer fotos no face, textos, enfim, inspirações sobre a família. Chegou-se ao ponto de na adoração ao Santíssimo, no momento do sacerdote dar a benção, eu inclinar a cabeça e começar a vim a música “Abençoa, Senhor, as famílias, amém. Abençoa Senhor, a minha também.”

Comecei a constatar que embora me sentisse um peixe fora d'água ao servir no Altar, vi que com crianças gostava. Passei a ter o costume de comer na mesa e não mais diante do computador ou da Tv. E comecei a sentir uma estranha solidão e o desejo de na mesa haver mais pessoas (família). Na confissão um sacerdote muito sábio que me acompanhava me deu uma luz cortando um escrúpulo. Eu tinha medo de amar demais a esposa e desagradar a Cristo. Ora, ele me tirou esse escrúpulo mostrando-me que no matrimônio amar a esposa é amar a Jesus. E fui compreendendo que de fato, o meu problema estava numa preguiça espiritual de lutar para viver o matrimônio de maneira santa, e não de maneira mundana como muitos pregam. Não devia casar por carência, mas Deus queria que casasse por certeza do que é o estado que abraço.

Enfim, resumindo, a busca pela vocação nada mais é do que seguir caminhando. Caminhe, ame a Deus, e logo estaremos onde encontraremos a paz da alma. Mas se ficarmos parados só nos angustiaremos. Pode ser que tudo que escrevi seja nada. Pode ser que de repente eu veja nisso tudo uma ilusão e entre pro Seminário. Mas vejo concretamente que minha vocação não é o sacerdócio nem a vida religiosa.

Não posso ser como algumas pessoas que dizem com toda certeza que suas vocações é o matrimônio sem nem ter namorado(a) para caminharem para tal. Tempos depois uma pessoa assim me manifestou o desejo de celibato. Enfim, estou solteiro, estou aberto para a vontade de Deus. Mas onde eu consigo me imaginar é na família. E a própria vida espiritual vai andando. As coisas vão se encaixando. Deus é tão bom e Misericordioso que sinto que quer realizar meu sonho de infância: ser pai de família e santo. 
"Espera no Senhor e sê forte! Fortifique-se o teu coração e espera no Senhor!" (Salmo 26,14)



Ps: antes de iniciar este texto abri a Sagrada Escritura:

O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes. Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis, será açoitado com poucos golpes. Porque, a quem muito se deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém, dele mais se há de exigir.” (Lucas 12,47-8)
Que o Misericordioso Jesus, pela intercessão de Maria Santíssima, nos dê a graça de vivermos a santidade no estado de vida que ELE nos chamou.


Ps²: Lembro neste momento da Virgem Maria que, nos escritos de S. Brígida, já tinha voto de virgindade, mas por obediência a vontade de Deus casou-se com José. Viveu sua virgindade, mas com certeza de maneira diferente do que pensara antes. E São José que ante a vontade de Deus, viveu castamente com com a puríssima Virgem. Porque ambos não se fiavam na sua vontade, mas na vontade de Deus. O que Deus quer pra sua vida? Não importa o que faremos, desde que sejamos santos.

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1 comentários

  1. Muito bom seu relato, meus parabéns!! Desde que conheci este blog, sempre que posso e tenho tempo, estou lendo suas postagens, gosto bastante.
    Confesso que eu estou no mesmo time da "torcida organizada" que te falava para ser padre. Eu também achava que você iria ser Padre e que, inclusive, já era seminarista.Entendo essa inquietação no seu coração, pois, é justamente a que tenho no meu coração. Acredito que seja um dos fatores que me fizeram se identificar com este blog.
    Que Deus possa te iluminar e mostrar as respostas que o seu coração quer, definitivamente. Um Abraço!

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