DICA PARA DISCERNIR A VOCAÇÃO: A CRUZ!

by - dezembro 12, 2015

Salve Maria Imaculada, nossa Co-Redentora e Mãe!

Amados irmãos e irmãs, acredito que o discernimento do estado de vida seja um dos momentos mais difíceis de nossa vida. Eis um tempo de graça, porém, um tempo de cruz, de dúvidas, dores, renúncias, um tempo em que passamos a olhar mais para dentro de nós para ouvirmos a voz de Deus que fala na nossa consciência indicando-nos o caminho a seguir.

Infelizmente muitas vezes bate uma confusão no momento da nossa decisão. Qual é a vontade de Deus para mim? Este caminho que optei, é da vontade de Deus? Serei feliz? Eu quero isso, mas e Deus? Enfim, tantos questionamentos que temos. De fato, sofremos bastante, pois discernir o estado de vida não está em jogo um diploma, mas a vida mesmo, a eternidade, o ser aquilo que Deus sonhou pra nós, corresponder a nossa essência, ser feliz sendo o que Deus nos fez, ou ser um espantalho lutando contra a própria natureza.

Jovens, vocês já pensaram sobre sua vocação? Quero dar algumas dicas simples que acredito que ajudará nesse processo de discernimento vocacional. Em primeiro lugar, claro, olhe as belezas dos diferentes estados de vida. Lembrando que os estados são dois: matrimônio e celibato. No celibato há diferentes ramificações: freis, freiras; leigos celibatários e, o mais belo, o sacerdote (padre). Deus nos atrairá primeiramente pela beleza. Aliás, tanto Deus como o nosso espírito humano será atraído pelo belo, porque Deus é O belo. Deus é beleza. A natureza é bela porque é criada por Deus. Toda criação é bela. Nós somos belos. Por isso o nosso espírito será atraído em primeiro lugar, normalmente, pela beleza da vocação. Deus e/ou teu espírito humano esteja te atraindo para a beleza do matrimônio, dos filhos, etc; ou da vida consagrada, do hábito, de ser esposa de Cristo; ou mesmo de ser outro Cristo na Terra pelo papel do Padre, celebrar Missa, atender confissão. Você olha pra vocação e acha bela. Todas são belas. Todas são necessárias.

Mas apesar de a beleza atrair num primeiro momento (como S. Padre Pio se deixou atrair, segundo contam, ainda na infância, porque achava bonito a barba de um Frei, e queria também ser Frei para ter uma barba semelhante), será um outro motivo que nos ajudará a discernir se é apenas admiração natural ou chamado de Deus. Afirmo que o que escreverei a seguir pode ser algo de cunho pessoal, algo que ajudou no meu discernimento. Deus nos fala de maneira pessoal. Acredito que ajudará.

O que nos ajudará no discernimento é não fixar o olhar e o pensamento apenas na beleza da vocação, mas sim na CRUZ desta vocação! O matrimônio, o sacerdócio, a vida religiosa em geral, são CHAMADOS, ou seja, Deus chama; e este chamado tem suas cruzes. Quando se ama a Deus essas cruzes são doces. Melhor dizendo: quando a vocação vem de Deus, você contemplará as cruzes dessa vocação e achará doce, e até as desejará. Se você ao confrontar a beleza com a cruz, murmura, e até pensa em rejeitar, ou você não tem tal vocação ou precisa passar por um processo de cura interior. Não adianta seguir tal vocação pra fugir das cruzes da outra, pois todas tem suas cruzes. Deus quando nos criou nos deu uma vocação e a capacidade de carregar tal cruz, se assumirmos algo que não nos cabe, sentiremos a cruz mais pesada. Se alguém que é chamado a ser Padre casa-se, sentirá na pele uma dificuldade grandiosa nos ofícios do matrimônio, que não é apenas prazer, mas que é cruz, oferta. Um homem que é chamado a constituir família, decide ser padre por conta própria, conseguirá suportar a cruz de um sacerdócio santo sobre a terra? E não estou falando de celibato, a cruz é bem maior. Cada pessoa tem uma vocação, cada vocação sua cruz, e cada cruz santificando seu dono.

Se a vocação está escrita no nosso coração desde o ventre materno, as inclinações para suportar tal e tal cruz também já podem ser analisadas. Vou dar alguns exemplos para tentar esclarecer.

Muito meditei sobre minha vocação, e se hoje afirmo está vocacionado ao matrimônio (como cito nessa partilha sobre vocação) foi porque Deus me levou a apaixonar-me pela Cruz, e não pela glória. Cheguei a fazer vocacional nos Frades Menores Conventuais, mas porque queria ser sacerdote (além dos motivos citados lá)? Pela glória! Usar hábito/batina, celebrar a MINHA Missa, tudo do MEU jeito, muita gente não gosta da pregação que faço, então, como padre falaria o que quisesse na homilia, por exemplo, porque SOU PADRE! Legal, fera, mas e a cruz? Certa vez um sacerdote que eu confessava me falou algo mais ou menos assim: “Chegará um dia que você, como padre, não vai querer pregar por estar cansado, mas você tem que ir pregar.”. E já sinto isso como leigo, por vezes Deus sabe que não queria pregar, mas é missão, é chamado. Só que se minha cruz como leigo já pesa, como padre, então? Claro, Deus dá a graça. Mas tem que ver a inclinação natural da alma. Um sacerdote é muito exigido. Eu olhava para a vida de um padre diocesano por exemplo, com tantas reuniões, obrigações, e tendo que ser fiel (e sendo) nas Missas, confissões, palestras. São super-heróis. Quem é chamado ao sacerdócio, nem o seminário TL o desmotiva, a cruz da oferta não desmotiva, mas tudo o impele para lutar pela glória de Deus e a salvação das almas. E quando se olha a cruz do sacerdócio e nem tem mais aquele desejo de outrora, talvez seja porque a alma não está inclinada a carregar essa cruz.

Por que muitos são chamados ao sacerdócio e/ou vida religiosa mas ficam presas no “quero casar”, por exemplo? Porque temos a tendência de não se falar das cruzes de tal e tal vocação. Ensinar o que é o verdadeiro matrimônio católico, com cruzes e glórias, não irá afastar um vocacionado ao sacerdócio do altar, mas vai é acelerar. Um exemplo é um amigo que dizia que até estudando o que era casamento ele desistiu, sabe onde ele está hoje? Na Ordem dos Cartuxos. É, se isolou por completo, entregue todo a Deus! Enfim, preguem o que é casamento e não um caminho de prazer, que não é o casamento, e verão como surgirão vocações religiosas. Foi isso que aconteceu no Evangelho quando Jesus pregou sobre a indissolubilidade do matrimônio, os discípulos ficaram perplexos e diziam “se tal é a realidade do matrimônio não vale a pena casar”. Casamento não é sexo, é cruz. Talvez o sexo na realidade do matrimônio seja um presente de Deus para fortalecer o casal no amor um para com o outro e ajudá-los a não desistir da cruz (que no caso um é a cruz do outro rs).

Ai eu acho lindo o casamento, diz um; ai a maternidade/paternidade, diz outros; mas e a cruz, amigão? Homem, quer casar? Que bom. Você está recebendo uma mulher para amá-la, respeitá-la, e não para usá-la. Passou as pompas da festa de casamento. Agora você tem que trabalhar para alimentar sua esposa e seus filhos. Você deve suportar os defeitos da sua esposa, e você, mulher, os do seu marido. Antes de eu me decidir pelo matrimônio, eu queria ser padre porque diante dos sacrifícios par a mim era melhor dizer “só por Ti, Jesus”. Vocês estão dispostos a se sacrificarem, a adarem a vida um pelo outro por amor a Cristo que os une no matrimônio? Se a resposta for não, não case. Na boa! Se você casa, você tem que amar a outra pessoa mesmo ela tendo tornado-se a pessoa mais chata do mundo, e você, pelo visto, o mais impaciente. Você tem que saber que, como ensina S. Afonso (se não me engano), o matrimônio é a maior forma de mortificação que existe. Casamento não é pra você ser feliz, é pra dar a vida para fazer o outro feliz em Deus.

Uma coisa que me marcou nesse processo de discernimento foi quando uma pregação deu errado, e ao voltar para casa, o onibus parou num semáfaro. Lá estava um casal com seu filho. Não recordo se estavam pedindo dinheiro ou vendendo algo no sinal. Ali me veio um questionamento interior: Você quer casar mesmo? Mesmo correndo o risco de ter que vim com a família para o sinal para sobreviver? Casamento não é prazer, é cruz. E este questionamento convido você a fazer. Afinal quando se casa, promete para Deus que será fiel ao seu conjuge na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza. Será fiel ao matrimônio mesmo na extrema pobreza? Mesmo que você case com o homem ou a mulher mais ricos do mundo, a falência, por desígnios conhecidos apenas por Deus, pode bater a porta. Vai largar ou será fiel, não a pessoa em primeiro lugar, mas a aliança feita a Deus no altar?

Muitos dizem amar crianças, mas você imagina muitas delas? Pulando em você. Para ser pai/mãe deve querer conviver com os filhos. Brincar com eles, ler para eles, ser presente. Se você quer fugir deles, você ou é um inútil ou não tem vocação para tal. Mas se já assumiu tal estado, deve ser fiel. Deus dá graça de sermos fiéis, mesmo tendo escolhido errado. Deus dá a graça para salvarmos nossa alma.

Olhe para a cruz. Se Jesus disse que quem quisesse segui-lo devia carregar a sua cruz, olhe para a cruz de cada vocação. Se não nego entra no seminário achando que será a vida toda comendo comida boa, engordando, suave, quando chega no “vamo ver” corre. Ou porque não tinha vocação, ou porque acomodou o espírito na beleza apenas tornando-se preguiçoso, e não preparando a alma para a provação. Ai nego casa achando que será as mil maravilhas, quando a criança chora as 3h da manhã murmura, e diz que é o demônio tentando. Não, fih, é Jesus chorando e vos santificando. Toda Cruz é o amor de Jesus escondido para nos santificar. Tudo é desígnio de Deus.

Lembro a todos que independentemente do estado de vida, da profissão, do apostolado que optarmos, Deus nos chama para sermos santos.

Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Levítico 19,2)

Se você quer ser padre, dê o sangue para ser um padre santo!
Se você quer casar, dê a vida para ser um marido e uma mulher santo e santa! Ser pais santos!
Se você quer ser frei/freira, dê a vida para ser santos!

E a dica mais importante: seja sincero com você mesmo. No fundo a gente sabe qual a inclinação da nossa alma. Nós sabemos para onde a voz doce e suave de Jesus nos chama.

Dica final: procure fazer encontros vocacionais. Não temas. Eu fiz vocacional nos frades e acabei vendo que meu lugar não era lá. Faça, procure um padre ou outra pessoa de oração para te orientar. Só não fique no pc chorando e sofrendo se perguntando o que Deus quer que faça. AJA, MEU QUERIDO, MINHA QUERIDA. Ficar em casa não resolverá. Procure um vocacional. Experimente tal vida. Antigamente os discernimentos nas ordens eram assim: a pessoa batia na porta, era admitida, e ficava vivendo durante algum tempo no convento. Se ela visse que aquela vida era pra ela, continuava e professava voto, se não, saia. Não tenha medo de procurar a tua felicidade. Faça vocacional, procure olhar a beleza e a cruz de cada vocação. Procure olhar aonde a tua vida se encaixa perfeitamente, formando um belo casamento do teu coração com o coração de Cristo que te chama. O que vem de Deus traz paz!

"Onde as necessidades do mundo e seus talentos se cruzam: Aí está sua vocação" (Aristóteles)

Salve Maria Imaculada, estrela guia das vocações!

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3 comentários

  1. como essas palavras me ajudaram irmão. sai da minha consagração pedindo que a Virgem me orientasse sobre minha vocação, senti como se ela mesmo me falasse agora, "aja minha querida". Obrigada. Deus lhe abençoe!

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  2. Maravilhoso texto, me ajudou muito mesmo, que Deus continue abençoando sua vida e seu chamado.
    Em breve eu uma amiga falaremos em nosso canal no youtube sobre vocações, você nos autoriza a usar algumas coisas do seu artigo?
    Deus o abençoe!

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  3. Excelente texto , creio que irá ajudar a muitos e muitas, que a Imaculada frutifique a tua oferta de Vida !
    Gratidão !

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