Aparições de Nossa Senhora: como saber a autenticidade?

by - dezembro 05, 2017



Salve Maria Imaculada, nossa Corredentora e Mãe!
Caríssimo(a), muito provavelmente você já ouviu falar de supostas aparições de Nossa Senhora Brasil a fora. Bom, para ser sincero, este fenômeno é global, porém o Brasil concorre forte entre os países com mais supostas manifestações.
Muitas dessas pseudo manifestações têm levado o povo de Deus ao erro, fazendo-o a aderir a heresias, a cometerem pecados mortais, a se revoltarem contra a autoridade da Igreja, etc. Bom, como todos sabem, nem tudo que reluz é ouro; da mesma forma, nem todo mundo que diz ver e receber mensagens de Nossa Senhora está a dizer a verdade.
No livro Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, São Luís Maria Grignion de Montfort nos alerta que Jesus é o ouro das devoções, enquanto a Virgem Maria, a prata; de tal forma que o demônio não se preocupará muito em falsear as demais devoções, pois o que é mais lucrativo para ele (demônio) é falsificar os metias nobres – o ouro e a prata, ou seja, a devoção a Jesus Cristo e a Virgem Maria.
Embora a doutrina da Igreja afirme que nenhum católico é obrigado a acreditar em aparição alguma, as verdadeiras aparições de Nossa Senhora têm uma função ímpar para a Santa Igreja. As aparições e revelações privadas são fatos extraordinários; e são meios que Deus usa para chegar a um fim que os meios ordinários não estão sendo eficazes.
São Paulo, por exemplo, era um judeu fiel, conhecedor das sagradas escrituras; mas não reconheceu Jesus Cristo como Senhor e, destemidamente, saiu a perseguir os cristãos. Ordinariamente a conversão se daria (se dá) através da pregação da Palavra, mas o então Saulo não quis ouvir São Pedro ou outro Apóstolo pregar. A partir daí, Jesus usou um meio extraordinário: fez uma luz brilhar de maneira tão forte que Saulo perdeu a visão temporariamente, e lhe fez ouvir Sua voz que dizia “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Portanto, Deus usou um meio extraordinário para gerar um fruto que os meios ordinários (pregações) não estavam dando.
Partindo deste princípio, concluímos que uma aparição de Nossa Senhora é uma ação extraordinária, por graça de Deus, como uma espécie de última Misericórdia. Quando Nossa Senhora apareceu em Fátima, por exemplo, o povo estava adentrando num ateísmo terrível, o marxismo se espalhando, o povo cada vez mais se afundando no pecado, desdenhando da Igreja; foi então que a Virgem apareceu, mostrou o inferno para as crianças, falou que para lá iam os pecadores que não se arrependessem e não fizessem penitência, que os erros da Rússima (comunismo) iria se espalhar, etc. Enfim, foi uma corrente de graça, pois houve muitos frutos de conversão. Portanto, algo extraordinário ajudou a cumprir um fim que os meios ordinários não conseguiam.
Se Nossa Senhora tem aparecido em alguns lugares, isso significa que ou as pessoas não estão pregando o Evangelho, obrigando-a a ter que aparecer para clamar por conversão; ou então estão pregando sim, porém sem o povo se converter, sendo necessário uma manifestação extraordinária para que o povo creia e se converta.
É exatamente por causa destes frutos de conversão que o demônio tem falsificado as manifestações, ou seja, tem se transfigurado em anjo de luz, e feito falsas aparições marianas e de santos, para conduzir o povo sutilmente para o erro. Há falsos videntes, por exemplo, que dizem que quem não seguir suas visões mentirosas comete pecado contra o Espírito Santo, enquanto a doutrina da Igreja aponta que os pecados contra o Espírito Santo são outros. Há falsos videntes que dizem para o povo não irem para a Missa em determinado rito, que é melhor ir rezar em casa, portanto estão ensinando que as pessoas cometam um pecado mortal (faltar a Missa dominical).
Mas, como então saber se uma aparição é verdadeira? Bom, em primeiro lugar é preciso ficar claro que só a Igreja tem a autoridade para dar o veredito e proclamar se uma determinada aparição é verdadeira ou não. Os Bispos diocesanos têm a autoridade de investigarem e proclamarem se uma aparição é verdadeira ou falsa; quando acham que é algo muito complicado, eles levam o caso para a Santa Sé. Portanto, se o Bispo local já emitiu um parecer dizendo que as manifestações são falsas, fique com o Bispo.
Mas como as notícias e conteúdos das supostas aparições se espalham pela internet, é mister nós leigos termos acesso ao conteúdo das Normas para proceder no discernimento de presumíveis aparições e revelações, emitido pela Congregação para a Doutrina da Fé, no ano de 1978, durante o reinado do Papa Paulo VI. Embora fique claro no documento que somente a autoridade eclesiástica pode definir se determinada aparição é verídica, nós leigos precisamos nos precaver, para não nos contaminarmos com pregações errôneas dessas falsas aparições. E tem algumas aparições que são tão falsas, que qualquer leigo seguindo essas orientações poderão se precaver, afastando-se dessas vãs visões.
(Lembrando que podemos seguir tranquilamente as parições que a Igreja aprovou após longa investigação, como Fátima, Lourdes, La Salette, etc.)
Abaixo posto na íntegra o documento com algumas marcações minhas.

SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
NORMAS PARA PROCEDER NO DISCERNIMENTO
 DE PRESUMÍVEIS APARIÇÕES E REVELAÇÕES
Nota Preliminar
Origem e carácter das Normas

Durante a Sessão Plenária anual de Novembro de 1974, os Padres desta Sagrada Congregação examinaram os problemas relativos às presumíveis aparições e às revelações, muitas vezes com elas relacionadas, e chegaram às seguintes conclusões:
1. Hoje, mais do que no passado, a notícia destas aparições difunde-se rapidamente entre os fiéis graças aos meios de informação (mass media). Além disso, a facilidade dos deslocamentos favorece e multiplica as peregrinações. Por isso, a Autoridade eclesiástica é chamada a pronunciar-se a este respeito sem demora.
2. Por outro lado, a mentalidade hodierna e as exigências científicas e aquelas próprias do inquérito crítico tornam mais difícil, se não quase impossível, emitir com a devida rapidez os juízos que no passado concluíam os inquéritos em matéria (constat de supernaturalitate, non constat de supernaturalitate) e que ofereciam aos Ordinários a possibilidade de autorizar ou proibir o culto público ou outras formas de devoção entre os fiéis.
Por estes motivos, a fim de que a devoção suscitada entre os fiéis por acontecimentos deste tipo possa manifestar-se no respeito da plena comunhão com a Igreja e dar frutos, dos quais a própria Igreja possa discernir em seguida a verdadeira natureza dos acontecimentos, os Padres julgaram que deviam promover em matéria o seguinte procedimento.
Quando a Autoridade eclesiástica for informada sobre uma presumível aparição ou revelação, será sua tarefa:
a) em primeiro lugar, julgar sobre o facto segundo critérios positivos e negativos (cf. infra, n. I);
b) em seguida, se este exame chegar a uma conclusão favorável, permitir algumas manifestações públicas de culto ou de devoção, prosseguindo na vigilância sobre elas com grande prudência (isto equivale à fórmula: «pro nunc nihil obstare»);
c) finalmente, à luz do tempo transcorrido e da experiência, com especial relação à fecundidade dos frutos espirituais gerados pela nova devoção, expressar um juízo de veritate et supernaturalitate, se o caso o exigir.
I. Critérios para julgar, pelo menos  com uma certa probabilidade,
 sobre o carácter das presumíveis aparições ou revelações
A) Critérios positivos:
a) Certeza moral, ou pelo menos grande probabilidade da existência do facto, adquirida por meio de uma investigação séria.
b) Circunstâncias particulares relativas à existência e à natureza do facto, ou seja:
1. qualidades pessoais do sujeito ou dos sujeitos (em particular, o equilíbrio psíquico, a honestidade e a rectidão da vida moral, a sinceridade e a docilidade habitual para com a autoridade eclesiástica, a predisposição para retomar um regime normal de vida de fé, etc.);
2. no que diz respeito à revelação, doutrina teológica e espiritual verdadeira e isenta de erro;
3. devoção sadia e frutos espirituais abundantes e constantes  (por exemplo, espírito de oração, conversões, testemunhos de caridade, etc.).
B) Critérios negativos:
a) Erro manifesto acerca do facto.
b) Erros doutrinais atribuídos ao próprio Deus, ou à Bem-Aventurada Virgem Maria, ou a algum santo nas suas manifestações, considerando todavia a possibilidade de que o sujeito tenha acrescentado – também inconscientemente – a uma autêntica revelação sobrenatural, elementos puramente humanos, ou então algum erro de ordem natural (cf. Santo Inácio, Exercícios, n. 336).
c) Uma procura evidente de lucro, ligada estritamente ao facto.
d) Actos gravemente imorais realizados no momento ou por ocasião do facto pelo sujeito ou pelos seus seguidores.
e) Doenças psíquicas ou tendências psicopáticas no sujeito, que com certeza tenham exercido uma influência sobre o presumível facto sobrenatural, ou então psicose, histeria colectiva ou outros elementos deste género.
Há que observar que estes critérios positivos e negativos são indicativos e não taxativos, e devem ser aplicados de modo cumulativo, ou seja, com uma sua convergência recíproca.
II. Intervenção da Autoridade eclesiástica competente
1. Se, por ocasião do presumível facto sobrenatural, nascem de modo quase espontâneo entre os fiéis um culto ou uma sua devoção, a Autoridade eclesiástica competente tem o grave dever de  se informar com tempestividade e de proceder com cuidado a uma investigação.
2. A Autoridade eclesiástica competente pode intervir com base num pedido  legítimo dos fiéis (em comunhão com os Pastores e não impelidos por espírito sectário) para autorizar e promover algumas formas de culto ou de devoção se, depois da aplicação dos critérios supramencionados, nada se lhe opuser. Contudo, prestar-se-á atenção a fim de que os fiéis não considerem este modo de agir como uma aprovação do carácter sobrenatural do facto por parte da Igreja (cf. Nota preliminar, c).
3. Em virtude da sua tarefa doutrinal e pastoral, a Autoridade competente pode intervir motu proprio; aliás, deve fazê-lo em circunstâncias graves, por exemplo para corrigir ou prevenir abusos no exercício do culto e da devoção, para condenar doutrinas erróneas, para evitar perigos de um  misticismo falso ou inconveniente, etc.
4. Nos casos duvidosos, que não apresentam risco algum para o bem da Igreja, a Autoridade eclesiástica competente abster-se-á de qualquer juízo e de toda a acção directa (porque pode acontecer também que, depois de um certo período de tempo, o presumível facto sobrenatural caia no esquecimento); no entanto, não deve deixar de ser vigilante para intervir, se for necessário, com rapidez e prudência.
III. Autoridades competentes para intervir
1. Compete antes de tudo ao Ordinário do lugar a tarefa de vigiar e intervir.
2. A Conferência Episcopal regional ou nacional pode intervir:
a) se o Ordinário do lugar, desempenhando a sua parte, recorrer a ela para discernir com maior segurança sobre o facto;
b) se o facto já pertence ao âmbito nacional ou regional, contudo sempre com o consenso prévio do Ordinário do lugar.
3. A Sé Apostólica pode intervir, quer a pedido do próprio Ordinário, quer de um grupo qualificado de fiéis, quer também directamente em razão da jurisdição universal do Sumo Pontífice (cf. infra, n. IV).
IV. Intervenção da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé
1. a) A intervenção da Sagrada Congregação pode ser pedida quer pelo Ordinário, desempenhada a própria parte, quer por um grupo qualificado de fiéis. Neste segundo caso, prestar-se-á atenção a fim de que o recurso à Sagrada Congregação não seja motivado por razões suspeitas (como, por exemplo, a vontade de constranger o Ordinário a modificar as suas legítimas decisões, a ratificar algum grupo sectário, etc.).
b) Compete à Sagrada Congregação intervir motu proprio nos casos mais graves, em particular quando o facto envolve uma parte consistente da Igreja, sempre depois de ter consultado o Ordinário e, se a situação o exigir, também a Conferência Episcopal.
2. Compete à Sagrada Congregação julgar e aprovar o modo de proceder do Ordinário ou, se julgar possível e conveniente, proceder a um novo exame do facto, distinto daquele realizado pelo Ordinário e levado a cabo pela própria Sagrada Congregação ou por uma Comissão especial.
As presentes Normas, deliberadas na Sessão Plenária desta Sagrada Congregação, foram aprovadas pelo Sumo Pontífice Paulo VI, felizmente reinante, a 24 de Fevereiro de 1978.
Roma, do Palácio da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, 25 de Fevereiro de 1978.
Franjo Cardinale Šeper
Prefeito

Jérôme Hamer, O.P.
Secretário

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