A obediência e a consciência limpa

by - janeiro 16, 2021

 

Salve Maria Imaculada, nossa Corredentora e Mãe!

A obediência, no contexto religioso católico, sempre foi algo de suma importância. A obediência de Cristo à vontade do Pai, a obediência dos Apóstolos à Cristo e a obediência em geral dos santos à Cristo através de Seus representantes, sempre foram motivos de meditação de metas a atingir. Todavia, ao longo da história muitos uniram-se à Lúcifer no brado contra Deus: “Não servirei”.

Santa Faustina dizia que o demônio pode se ocultar sob o manto da humildade, mas nunca sob o da obediência. Há quem conteste sua santidade e/ou suas visões; mas quem estuda sua vida não tem como contestar sua obediência. Ela é santa não porque teve visões e colóquios místicos com o Senhor, mas porque obedeceu a vontade de Deus expressa em seus superiores – conforme as próprias regras da comunidade onde se consagrou. Em visão foi-lhe mostrado que ela devia fundar um convento; por obediência aos superiores, continuou na Congregação até a morte (embora a fundação da nova comunidade se tenha dado espiritualmente, pois muitas comunidades posteriormente foram fundadas com inspiração no carisma da misericórdia proposto pela santa).

Mas hoje as pessoas não querem obedecer aos seus pastores. O padre, Bispo e até o Papa são seres sem autoridade. Só se é digno de “obediência” quando a vontade destes abraçam a minha. Mas isso nunca foi obediência, senão conveniência.

Uma santa doutora da Igreja outrora nos ensinou: “quando se tem consciência limpa e obediência, o Senhor nunca permite que o demônio tenha poder para nos enganar de uma maneira capaz de prejudicar a alma. Pelo contrário, é o demônio que se vê enganado.” (Santa Teresa de Jesus – Fundações, Cap.  4)

Nossa querida Teresa pedia às carmelitas consciência limpa e obediência. A nossa geração não tem nenhuma das duas. Bom, sobre a consciência não posso falar pois não estou na cabeça de ninguém; mas é perceptível que muitos têm a consciência no mínimo deturpada pelo egoísmo e por heresias camufladas de boa doutrina.


Antes de falar da consciência limpa, medite sobre a obediência. Hoje há religiosos com voto de obediência que não querem obedecer aos superiores porque acham que determinado caminho é melhor. Há membros de comunidades de vida que ao receber uma ordem, se recusa a obedecer. Quando eu era vocacionado da comunidade Shalom aprendi muito sobre as podas; hoje, no entanto, qualquer poda o sujeito já diz que está sendo perseguido e humilhado. Eu cresci na fé ouvindo músicas e pregações de membros da Canção Nova, onde diziam que por obediência ficaram um ano sem fazer shows e/ou pregações; mas davam testemunho que neste um ano foi onde mais ouviu a Deus e pôde compor músicas que se tornaram conhecidas e utilizadas para tantos momentos de oração. Já hoje, se um membro de vida (aquele que se consagra e se dedica exclusivamente à comunidade) recebe a ordem de ficar seis meses sem fazer show e/ou pregar, é o início do fogo no parquinho.

Os religiosos com votos têm que obedecer em tudo? Sim. Os leigos em geral tem que obedecer em tudo o pároco, o Bispo e o Papa? Sim. Sem exceção? Não! A exceção é justamente a consciência limpa. Como assim? A Igreja e vários santos nos ensinam que são não devemos obedecer aos nossos superiores quando estes nos mandam fazer algo que seja PECADO. Exemplo: Se ao confessar o padre me desse como penitência me masturbar, é ÓBVIO que não sou obrigado a obedecer. Aliás, se o padre ou até o Papa mandar fazer algo que a Igreja há anos e anos já definiu que é pecado, não devo sequer cogitar obedecer.


O problema da consciência é que nem sempre ela está limpa. Muita gente começa a obedecer seus superiores alegando questão de consciência quando, na verdade, são apenas escrúpulos de mentes atormentadas. Suponhamos que o Padre passe de penitência para o sujeito a recitação do rosário com quatro terços. Vai ter gente se negando porque tradicionalmente se rezava com três e os luminosos foram acrescidos por São João Paulo II. Suponhamos ainda que um religioso é proibido de pregar ou de exercer algum apostolado. Há quem faça mesmo desobedecendo e outros que até pedirão desligamento da comunidade. Não pregar é pecado? Pregar ou não pregar é indiferente quando se está em obediência. Santa Teresinha do Menino Jesus é padroeira das missões sem nunca ter pregado; embora com sua oração e obediência tenha ajudado a salvar almas. Já tantos pregadores por vontade própria quando muito causaram confusão.

Essas desobediências, pequenas ou grandes, são aberturas para a ação do demônio, como bem expôs Santa Teresa acima. Quantos apostolados e vocações se findaram por causa da falta de obediência.

Talvez alguns ainda digam que têm a consciência limpa. Mas será que está limpa mesmo? O Cardeal Ratzinger tratou da questão da consciência:

“Ficam evidentes dois critérios para discernir a presença de uma autêntica voz da consciência: ela não coincide com o desejo ou gosto pessoal e não se identifica com o que é mais vantajoso do ponto de vista social, com a aprovação do grupo ou com as exigências do poder político e social.” (Ratzinger - Ser Cristão na Era Neopagã)

É por isso que é importantíssimo fazer uma séria reflexão. Santa Teresa diz que Jesus não permitirá que o demônio perca uma alma que tenha obediência e consciência limpa. Mas muita gente pode estar com seguindo uma falsa voz da consciência. De acordo com o que vimos Ratzinger falar, a voz da consciência não é a voz da minha vontade. Nem sempre o correto vai vir de encontro à minha vontade. Muitas vezes colocamos como consciência limpa o que é na verdade mais cômodo para nós. Exemplo: um religioso escreve um livro e pede autorização do seu superior para publicar. Este diz que não deve publicar agora. O religioso, por sua vez, ao ver que a matéria do livro era importante para a salvação das almas, decide sair da comunidade religiosa para publicar o livro. Questão de consciência? Bom, não seria conveniência? Fama pelo livro publicado, dinheiro de vendas etc. Os santos buscavam sempre fazer da vontade do superior a própria vontade de Deus. A consciência era utilizada nas questões em que se manda fazer algo que é pecado.

A consciência ainda deve ser bem meditada por todos nós leigos que não temos voto de obediência. É claro que precisamos obedecer o pároco, coordenadores de apostolado (quando se faz parte de algum), mas como não temos a vida consagrada como um religioso, temos que buscar ter consciência reta. Exemplo: sair do emprego A para o B é algo bom ou vou apenas porque ganharei mais? Isso é importante meditar. Quando se segue a vida profissional somente focando no financeiro, esquece-se que determinado emprego pode te levar a pecar, a trabalhar em excesso te fazendo não ter tempo para a vida sacramental nem para a educação dos filhos etc.

Por fim, busquem andar com as duas asas: consciência limpa e obediência, mesmo sendo leigos. As vezes a gente pensa: não sou religioso, estou tendo uma oportunidade de crescimento pessoal... vou deixar esse negócio de Missa diária e ir somente nos domingos para focar no crescimento profissional. De maneira racional, ok. Mas guiado pelo orgulho, soberba, ganância etc. pode ser uma bela de uma armadilha do demônio. Portanto, limpe a consciência e, sempre que for possível, leve tua consciência à um sacerdote para que este pelo conselho ou mesmo pela obediência, te certifique da limpeza de consciência.

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