O que é mais importante: pensamento científico ou filosófico?

by - dezembro 29, 2020

 

Hoje se fala tanto de ciência, mas acredito que deveríamos baixar um pouco a bola da ciência e buscarmos um pensamento mais filosófico, racional, uma busca pela verdade (coerência).
Sobre a ciência contemporânea o Cardeal Ratzinger* (Bento XVI) disse: "deve ser considerada como falsa a aporia que nasce quando, em nome do progresso e da liberdade, se quer declarar como única lei da ciência aquela que impõe a realização daquilo que é tecnicamente possível, a lei dos resultados e a factibilidade técnica e quando, apelando para ela, se quer defender uma indevida instrumentalização da natureza."
Resumindo: a ciência hoje se limita ao que é possível (o que pode) fazer, enquanto deveria pensar também no dever (se deve ou não fazer isso). Esse "dever fazer ou não" é próprio do pensamento filosófico.
Mas qual a importância de debater isso? Talvez você ache que Ratzinger estava fazendo uma tempestade num copo d'água. Então vamos aos exemplos:
1) BOMBA ATÔMICA. É possível manipular elementos da natureza e construí-la? Sim, é possível. DEVEMOS fazer isso?
2) ARMAS QUÍMICAS. É possível? Sim. Devemos?
Os exemplos são muitos. Os cientistas podem anunciar várias coisas, mas devemos nos perguntar se determinada manipulação da natureza deve ser feita ou não, uma vez que trará consequências enormes.
Os mais "inocentes" dizem: "Mas Anderson, você é um professorzinho mequetrefe, e o fulano é um renomado pesquisador de Havard. Se Havard diz que é bom, é bom".
Se tudo que os cientistas anunciarem como bom for de fato bom, você não pode julgar os nazistas por praticarem a eugenia. A eugenia é ruim? ÓBVIO QUE SIM! A EUGENIA FOI UMA DAS COISAS MAIS HORRENDAS DA HISTÓRIA. Mas ela tinha embasamento científico segundo alguns cientistas que defendiam a possibilidade de formar uma raça pura.
Se você endeusar a ciência sem nunca se questionar se aquilo é bom ou não, correr-se-á o risco de você defender as irmãs da eugenia somente porque tem algum embasamento científico. A ciência pode fazer muitas coisas do ponto de vista prático, mas devemos nos questionar sobre se deve ou não, sobre as consequências que tal descoberta trará, etc.
É por isso que Ratzinger diz na sequência da citação feita acima: "É preciso introduzir no lugar dessas falsas alternativas uma nova síntese entre ciência e sabedoria, na qual a pergunta sobre os aspectos parciais não sufoque a visão do todo e a preocupação com o todo não reduza a atenção aos elementos parciais."
Ps: ao fim do texto lembrei-me do problema da baixa natalidade de vários países europeus. A ciência inventou métodos contraceptivos - além do aborto - como uma grande novidade. Mas quem além da Igreja usou razão para falar das consequências? S. Paulo VI foi crucificado moralmente. Mas hoje vemos a objetificação da mulher e cidades europeias oferecendo dinheiro para casais terem filhos.
*Ratzinger. Ser cristão na era neopagã. Vol. 01.

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