VOLTEI A CURSAR DIREITO! MAS POR QUE HAVIA PARADO?

by - agosto 22, 2021

 

Há exatos dois anos, num 22/08, dia de Nossa Senhora Rainha, eu me matriculava pela segunda vez em um curso de Direito. Sim, em 2010 eu já havia tentado fazer tal curso. Em 2019 surgiu uma oportunidade. Retornei. Mas, novamente num 2º bimestre, agora com uma pandemia, tranquei.

Mas hoje, novamente num 22 de agosto, anuncio que retornei ao curso de Direito. Na verdade, só estou anunciando agora, porque eu retornei no semestre passado (risos). Mas gostaria de contar um pouco o porquê eu tranquei; aí talvez você entenda o meu silêncio – ou tentativa.

Quando eu cursava Direito em 2010/2011 eu era um jovem meio que sem rumo na vida. Fazia mais pela busca de status. Não havia sentido.  Em 2019 eu estava muito bem exercendo minha profissão de pedagogo/professor. Já não era um jovem sem rumo. Cursava o Direito, no entanto, porque aproveitava um oportunidade; todavia, não conseguia ver um sentido transcendente naquilo senão uma possibilidade futura de retorno financeiro.

Durante o 2º semestre do curso, já em meio a pandemia, sem poder exercer meu trabalho por causa da suspensão das aulas e em meio as dúvidas se o contrato de professores temporários seria mantido e renovado, peguei dengue. Fiquei ruim. Tive dificuldades. Mas até que me superei e ia bem no quesito notas. Todavia, o período doente e as incertezas da vida me fizeram fazer um questionamento profundo da minha vida: por que estou gastando tempo e dinheiro com um curso de Direito se o que hoje vejo como realização é trabalhar como professor? Só estou querendo dinheiro? É status? Esse curso é um sonho meu ou das pessoas que estão a minha volta? Sim, havia toda uma pressão também. Eu estava fazendo por mim e por Deus ou para provar algo para terceiros?

Em meio aos questionamentos, eu lia o livro Ser Cristão na Era Neopagã, com textos selecionados do Cardeal Ratzinger (Bento XVI). Em um artigo sobre a consciência, Ratzinger diz “A estrada da mera capacidade técnica, do puro poder, é a imitação de um ídolo, não a realização da semelhança com Deus. O específico do homem não consiste em interrogar-se sobre o seu ‘poder’, mas sobre o seu ‘dever’, na sua abertura à voz da verdade e das suas exigências”. Meditando muito nessas palavras, diante de Deus, na minha consciência, perguntava: eu posso fazer direito... Mas eu devo? O Direito me daria um aparente poder; afinal, mesmo que não fosse garantido  eu me tornar juiz, certamente entre amigos e parentes fica-se o ar de “poder”.

Qual a vontade de Deus em tudo isso? Poucos se preocupam com “vontade de Deus” em questões acadêmicas e profissionais, mas eu costume sempre colocar Deus em primeiro lugar. Pelo menos tento. Pelo menos é o que eu deveria fazer sempre.

Resumindo: vi que pelo menos para aquele momento não fazia sentido pra mim e não poderia continuar no curso só para agradar as pessoas. Eu tive que enfrentar o constrangimento de trancar pela segunda vez. Mas dessa vez eu estava realmente decidido.

Mas como no texto de Ratzinger também havia uma frase marcante do Cardeal Newman que dizia “eu gostava de escolher o meu caminho. Agora, porém, rezo: Senhor, guia-me!”, passei a rezar também isso. Dizia para Deus e para Nossa Senhora que eu só iria voltar um dia para o Direito (coisa que eu achava bem improvável) se eu tivesse um sentido real; afinal, muito bem repetia Viktor Frankl, parafraseando Nietzsche, “quem tem um porquê, suporta qualquer como”. Estava decidido: se eu achasse um porquê no Direito além de questão financeira eu retornaria.

Não achei o sentido nos primeiros meses. Achei em alguns momentos julgamentos de quem não sabia o que vivia na minha alma. Eu vivia uma crise existencial- além de outros problemas particulares que não convém citar. Mas eu era, para alguns, um louco que trancou Direito. Mas mais louco é quem faz um curso de 5 anos sem gostar só para agradar os outros. Ou até mesmo aquele que faz pensando no Direito e, que desgraça, consegue ganhar dinheiro; todavia, tem que gastar o dinheiro com antidepressivos e drogas para esquecer da vida medíocre que é fazer algo só por dinheiro.

Enfim, ficava eu sempre lembrando que devo buscar fazer o meu dever, não ficar buscando poder. E também pedia para Deus me guiar – como sempre fez, diga-se de passagem!

Bom, mas o fato é que no decorrer do ano de 2020 e início de 2021 foram surgindo situações concretas que foram me despertando para um sentido transcendente no âmbito jurídico. Não posso dizer detalhadamente o quê exatamente me fez enxergar um sentido porque daria outro textão; todavia, Deus e Nossa Senhora responderam minhas orações: eu comecei a enxergar um sentido, algo transcendente no Direito que eu poderia fazer por amor a Deus e pelos irmãos.

Bom, para não deixar você que leu até aqui no vácuo, resumirei o motivo: percebi que minha missão não é dar aula para criança, mas posso ir além: trabalhar na defesa das crianças e adolescentes que vivem em situações de vulnerabilidade social. Quantos casos de maltrato de crianças pude ver! Ia ver algo de futebol e aparecia casos do tipo. Outras vezes surgiam situações de pessoas do convívio. E ia vendo também a letargia dos agentes (ou das instituições) públicos em algumas situações.

Logo, fui vendo isso como uma questão de dever para mim que tinha a oportunidade de cursar Direito.

Enfim, anuncio que retornei ao curso não para me aparecer, mas para suplicar vossas orações. Eu ainda temo trancar de novo – e não sei se trancando pela terceira vez se peço música no Fantástico ou no STF (risos).

Enfim, busquemos  sempre fazer a vontade de Deus. Busque o Reino de Deus em primeiro lugar e tudo o mais Ele vos dará  por acréscimo. As vezes Deus pede o sacrifício de Isaac. As vezes Deus permite que sacrifiquemos o Isaac de uma faculdade, relacionamento, emprego etc. para que possamos nos purificar e acolhermos essas realidades (ou melhores) ressuscitadas mais à frente. As coisas do jeito e na vontade de Deus são melhores e dão seus frutos a seu tempo.

 

Que Santo Ivo e a Virgem Maria, Rainha do Céu e da Terra e Advogada nossa, intercedam por mim e por ti junto a Jesus Cristo, nosso Senhor e Deus, e nos alcance fortaleza, sabedoria, graça, paz e santidade e toda sorte de bênçãos!

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