Quem sou eu? Quem é o Crucificado?
Em
meio a todo este cenário fico confuso, a angústia toma conta de mim. Quem sou
eu neste lugar, o que faço por aqui? Queria poder compreender, não sei ao certo
quem sou eu, e nem aquele que está a ser interrogado no tribunal. Quem é este
ao qual parece estar abandonado? Por que está aí? O que fez para estar sendo
julgado? Mas mais ainda: quem sou eu diante de tudo o que se segue e vejo?
Existe uma grande chance de eu ser o
motivo d’Ele estar sendo julgado. Não terá sido eu que O entreguei? Tantos
momentos sem fé, entregue na minha vontade, naquilo que eu acreditava e não na
fé que Ele me passava. Eu o entreguei, mesmo convivendo com Ele. Mesmo tendo eu
comido no prato junto à Ele. Mesmo sabendo que era amado, e que Ele me fazia um
gesto de amor tão grande quando ceávamos. Sim, creio que eu tenho sido esse
mentiroso, este ladrão, que fingia amores, que o beijava, mas na verdade estava
o entregando para estar aí: amarrado, humilhado, sendo julgado por algo que é
inocente. Eu é que deveria ser julgado por trocar um amor tão grande por
algumas moedas. Ah, falam de Judas, mas eu sou pior que Judas, pois este não
contemplou a Ressurreição.
Neste momento vejo que o juiz
pergunta se queremos que O solte. Viva! Pode ser a oportunidade de desfazer o
mal entendido e deixar este inocente ir em paz. Mas o que está acontecendo? Não
acredito! Eu estou a gritar para soltar o ladrão. Sim, eu prefiro o ladrão do
que o bom Jesus de Nazaré. Quantas vezes não me perguntaram “a tua vontade ou a
de Jesus?”, e eu disse a minha vontade. “Os prazeres da carne ou Jesus?” e eu
escolhi os prazeres passageiros da carne. A droga, álcool desregrado, "cigarros", adultério,
prostituição, soberba, avareza, mentira, impureza, enfim tudo aquilo que é
pecado, perguntaram se eu preferia essa vida ou Jesus. E eu com convicção,
achando que escolhia a minha felicidade, escolhi o pecado, e mandei escorraçar
aquele que tanto me amou e crime algum cometeu para passar o que vai passar.
Logo eu, que tanto tinha dito a Ele
que iria dar a minha vida se preciso fosse. Tantas músicas, não? O que dizer das
famosas frases em músicas “oferto a minha vida”, e, no entanto, fui covarde. Eu
falo de Pedro, mas este o negou apenas três vezes. E eu? Tenho negado três por dia, por
hora, por minuto... Ou minha vida tem sido uma negação? Estão crucificando meu
Jesus, e eu não fui capaz de ser como a escrava do Senhor, que permanece firme
até à cruz. Ela e o discípulo que Ele tanto amou. E eu: covarde! O galo canta,
bate as asas, e anuncia ao mundo inteiro: eis aqui um covarde, que julga Judas
pela traição, Pedro pela negação, a multidão por fazer a escolha errada, e, no
entanto, eu também tenho feito isso todos os dias da minha vida. Eis o covarde,
que foi amado e não tem amado de verdade. Crucifica-O, pois eu não o conheço!
Eis o que brada as minhas escolhas pelo pecado. Eis o que brada as minhas concupiscências.
Eis o que brada a minha vida de infidelidade diante da cruz daquele a quem
tanto nos amou.
Em meio ao imenso cenário, vejo Ele
ser flagelado. O chicote estrala, e fico a ver o resultado de minha escolha
errada desde o princípio. Ele era e é a verdadeira felicidade. Agora, está
levando bofetadas dos soldados. Estão o humilhando, cuspindo em sua face e
pronunciando blasfêmias. Sim, sou eu Senhor. Eu também digo diversas vezes que
Tu não me amas, mesmo tendo conhecimento da Tua Santa Cruz. Ó coração incrédulo! Toda
vez que peco, ainda mais consciente, é uma chibatada em Jesus. Meu pecado é o
dilaceramento do corpo de Jesus. Oh bendito sangue, que lava minha alma. Mas eu não sou
digno, pois sou o culpado de toda a humilhação deste Homem-Deus. Este Deus que
é Rei. Eu, no meu orgulho, quis ser o melhor de todos, o mais sábio dentre os irmãos, o mais
poderoso dentre os poderosos. Mas, no entanto, para Ele que é Rei verdadeiramente, não lhe dei uma coroa de ouro
com pedras preciosas. Eu lhe enfiei uma coroa de espinhos na cabeça, ferindo
mais ainda aquele que é poderoso e três vezes santo, Aquele que é, o grande Eu Sou. Poderia eu ser ferido, mas a única chaga
que Ele abre em mim é a do amor. Sabendo que tudo isso era necessário pra pagar
meus erros.
Lhe entregam Sua cruz, e Ele cai. Levanta-se,
e cai. Sua mãe segue de perto. E eu? Eu quero distância da cruz. Talvez por
isso tenho o entregado, negado, trocado... Mas me deparo com alguém junto a
Ele, O ajudando a carregar a cruz. Eu vejo essa cena sempre: EU TAMBÉM TE AJUDO
A CARREGAR SUA CRUZ JESUS! Espere! Não! É ELE QUEM CARREGA A MINHA! Como pode
ser assim? Já não bastasse tudo que fez, Ele ainda carrega minha cruz! Como
pode Ele carregar a minha cruz mesmo após eu ter cuspido em Sua face, esbofeteado-o,
flagelado-o, humilhado-o em público, desfigurado-o... Não entendo. Mas será que
entenderei? Acho que até aquele que o ajudava, na verdade era ajudado por Ele.
Agora me vejo diante do local em que
irão crucificá-Lo. Ele diz ser o Filho de Deus, o rei dos judeus, nosso rei. Mas
por que se entregou em nossas mãos assim? Que amor é esse que me constrange? Só
sei que Ele trabalhou na terra com amor, com verdadeira caridade; e agora eu estou trabalhando
com pregos e martelo. E prego-o no madeiro. Está aí - na cruz - o Cristo Jesus, o
nosso Deus! Acabo de crucificá-lo, pois acabo de pecar e me esquecer de Seu
amor. Toda vez que peco volto a crucificá-Lo, uma vez que estou a jogar Seu
sangue redentor fora. Até o Pai o abandonou. Ele já tinha sido abandonado por
mim tantas vezes. Pobre Jesus, ama os piores. E estes relutam em não amá-Lo.
Quantas vezes mesmo sabendo da ressurreição, não o abandonei na Capela no
Santíssimo Sacramento, preferindo estar com amigos e tantas outras coisas e
pessoas, do que lá... junto a Ele que arde de amor. O abandono do Pai foi para reparar o meu abandono... Eu, pobre criatura, tantas vezes abandonei meu Criador.
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Tu diz na cruz que não sabemos o que fazemos.
Mas, hoje, mais de dois mil anos, sabemos! Perdoai-me se muitas vezes faço tudo isso
contigo novamente, mesmo sabendo que ao terceiro dia ressuscitastes! Mas, neste
momento, caindo em si, ao ver depositarem teu corpo no sepulcro, que depositem meu pecado, para que meu corpo possa ressuscitar para a
glória de Deus.
Quem sou eu? Acho que me descobri. Sou o
homem do século XXI, que muitas vezes até sabe da existência e da Paixão de Jesus Cristo; mas que, infelizmente, continua o traindo, negando, trocando, surrando,
flagelando, humilhando, deixando-o nu, crucificando-o novamente, deixando-o morrer (morrendo a fé) as mínguas. Hoje, nós viventes modernos, nem ao menos vinagre damos
para Ele beber na cruz, mas o deixamos morrer de sede - sede de almas... Almas que Ele
comprou na Cruz dando Seu sangue, sua vida. E, muitas vezes, acabamos que pelo uso irresponsável da nossa liberdade, voltamos à condenação inicial do pecado. Voltemos, então, para o lado aberto de nosso
Senhor Jesus Cristo; pois, quando eu ainda o feria, ao ver que já estava morto, sangue e água jorraram de seu coração aberto. E com este sangue e água, Ele quer lavar a nossa
geração. Para quê? Para sermos salvos! Pois para entrar no céu tem que passar
pelo lado aberto de Cristo. Temos nós que sermos transpassados também,
renunciando tudo pra viver Cristo. Se O negamos e O crucificamos com nossos pecados; a partir de hoje, de agora, possamos, então, proclamá-Lo como verdade, caminho, vida, fonte de nossa salvação; e que possamos viver a vida de santidade que Ele nos ensinou. Esse amor de Deus nos constrange, e
por isso devemos nos despojar de nós mesmos, para viver entregue Àquele que nos amou
por inteiro - nos amou ao extremo, nos amou na carne.
Meu Deus eu
creio, adoro, espero, e amo-Vos. E peço-Vos perdão por aqueles que não crêem,
não adoram, não esperam e não Vos amam.
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