Ainda
não terminei a leitura do livro O Hobbit, escrito pelo grande
Tolkien; mas há algumas coisas na história que me chamam a atenção
e faz meu coração arder para meditá-las desde já.
Os
anões, auxiliados pelo mago Gandalf, escolhem Bilbo Bolseiro para
ajudá-los na missão de vencer o grande dragão. Bilbo, que era um
Hobbit, não era um homem com grandes qualidades para as aventuras
que estariam por vir. Era um ser acomodado, chego a dizer até
vivendo na mediocridade, sem muitas emoções. Seria aqueles casos,
como dizem por aí, racionalmente seria o último a escolher para ir
lutar contra fortes inimigos. Uma pessoa aparentemente incapaz.
Talvez
você se pergunte o porque estou fazendo uma introdução do enredo
da história do Hobbit – e de fato tem que se perguntar mesmo!
Tolkien, em sua genialidade, deixa claro que Bilbo não era a melhor
pessoa (olhando do ponto de vista das grandes lutas a travar somado a
falta de preparo de Bilbo); mas num diálogo entre um anão (Thorin)
e Gandalf, fica evidente o do porquê Bilbo foi escolhido e não
alguém mais “preparado”. Após o anão dizer um plano muito
difícil de se passar pela montanha, Gandalf lhe diz:
“Isso
não adiantaria nada - disse o mago -, não sem um Guerreiro valente,
até um Herói. Eu tentei achar um, mas os guerreiros estão ocupados
lutando uns contra os outros em terras distantes, e por estes lados
os heróis são raros ou simplesmente impossíveis de encontrar.”
Meus
queridos leitores, esse trecho arde em meu coração, me traz
confusão, embaraço, vergonha, pois é a triste realidade dos ditos
cristãos. O Papa Bento XVI dizia que a Igreja existe para conter o
avanço do inferno na terra. Ora, é uma grande missão a da Igreja,
não? Precisa-se, portanto, de heróis, valentes guerreiros. Mas,
tristemente, como diz Tolkien na história do Hobbit, os heróis
estão ocupados lutando uns contra os outros.
Os
heróis viram a Europa ser secularizada, mas nada fizeram porque se
auto-gladiavam; vimos (vemos) a mesma Europa – quase todo ocidente,
para falar a verdade – ser islamizado, mas nada fazemos. Por quê?
Porque depositamos todas as nossas energias em lutar uns contra os
outros. A nossa Comandante, a Soberana Rainha do Céu e da Terra, a
Imaculada Virgem Maria, vem nos dar ordens expressas para lutarmos,
não uns contra os outros, mas contra o inimigo, usando suas armas:
Terço ou Rosário, Comunhão, Oração, jejum, penitência,
Confissão... Mas, até isso servia apenas para lutarmos uns contra
os outros. O amado Jesus, o Rei Soberano do Universo, da qual devemos
adorar, e da qual nos dá a vitória em todas as batalhas se formos
lutar sob o poder do Seu Santo Espírito, nos deu a espada da
vitória: a Palavra de Deus. Disse-nos que pregássemos o Evangelho a
toda criatura, batizasse-as e seriam salvas. Ou seja, guerrear contra
o pecado, contra o demônio, contra o mundo, contra a ignorância.
Fazer Cristo conhecido, amado e adorado em todo o mundo. Este é um
trabalho de heróis, de guerreiros. Porém, os guerreiros lutavam –
lutam ainda, bando de antas! - uns contra os outros. E até as armas
para vencer o demônio e salvar almas, fazendo a Igreja avançar, é
usada para se auto-gladiarem.
Todos
nós, batizados, somos ungidos por Deus para sermos heróis! Sim,
seus guerreiros nesse mundo. Salvar almas. Evangelizar. Rezar! Rezai!
Mas sabe-se lá o porquê, o inimigo infernal faz com que o fim das
nossas ações não sejam mais levar as pessoas para Deus, mas
atacarmos uns aos outros. Assim, a Igreja que tem a missão de conter
o avanço do inferno na terra, vê o inferno ameaçar até os seus. A
Igreja não, aliás, sejamos honestos, os que se dizem ser seus
filhos.
Não
é essa a realidade de uma geração tomada pelo orgulho? Conhece a
salvação e guarda-a para si. Ou mesmo uma geração que vive em
plenitude a parábola dos talentos, onde por medo (aqui escrúpulo)
do seu Senhor, enterra-o não fazendo frutificar, e ao devolver ao
seu Senhor é repreendido. Recebemos os dons, mas vivemos na
superficialidade de não querer avançar a montanha, vencer o dragão,
mas, mesmo com o dom, queremos apenas murmurar por aí.
Não
sei bem expressar o nome do sentimento que sinto ao ver os católicos
lutando entre si. Talvez tristeza, raiva, revolta. As vezes um
pensamento do tipo “que merda vocês estão fazendo!?”. Ah, como
é angustiante ver muitas... Muitas... Muitas pessoas que são
chamadas por Deus para serem guerreiras se entregando a mediocridade
de apenas ficarem lutando contra seus irmãos de mesma fé.
É
isso que sinto quando, por exemplo, vejo a insanidade de alguns
grupos imbecilizados, criarem dois tipos de católicos (aliás, é
isso que sabem fazer, apenas, dividir. E Jesus mesmo já disse que
todo reino dividido contra si mesmo...). Quantas vezes chegam para
mim e perguntam-me: você é católico tradicional ou carismático? A
minha resposta é: eu sou Católico Apostólico Romano. Dói o
coração ver que tem pessoas que passam a vida a ficar nas redes
sociais batendo de frente umas com as outras. “Vocês são
modernistas, hereges, protestantes, loucos, sentimentalistas” dizem
um lado; o outro retruca “vocês são contra a Igreja, o Papa, quer
falar o que? São velhos, ultrapassados...” E quem está com a
verdade? A verdade é Jesus. E em 1Timóteo 3,15 vai dizer “A
Igreja é coluna e sustentáculo da verdade”. Aí vamos a Igreja
e... Opa, todos são católicos no tocante a sua espiritualidade,
vocação, enfim. Em vez de gastarmos energia para evangelizar os
jovens que estão se afundando no mundo das drogas, nos rocks
satânicos, bêbados, na sexualidade desregrada, na prostituição;
homens e mulheres no adultério, com lares sendo destruídos; pessoas
perdendo a fé... Enfim, em vez de sair pelo mundo e anunciar a fé
para os não crentes; os heróis (que tem a fé e o dom de
transmití-la), ficam na internet querendo provar que a Missa de
Paulo VI é inválida, que o CVII não presta, e que o Papa é isso
ou aquilo. São, em suma, um bando de antas. Os carismáticos também
são outro bando de antas. Eles tem a missão própria de ir
evangelizar (mais Kerigma). E em vez de ir fazer isso ficam entrando
nesses debates que não levam a lugar algum senão a inimizades. E
até, por ignorância, chegam a condenar coisas da tradição, da
liturgia, enfim, sem nem saber o que faz; enquanto deveria condenar a
antice dos radtrad. Aí fica um com barreira com o outro. Sou
carismático, vivo a minha fé católica, minha espiritualidade, e
não preciso ficar dando satisfações pra seu zé-ninguém.
Ficar nessas bobagens é cosia de quem não tem o que fazer. Os
heróis devem anunciar o Evangelho para quem não crê. Mas o que os
heróis têm feito? Tem discutido o que é melhor: Missa de Paulo VI
ou de Pio V? Não seria interessante os heróis deixarem de birra e
irem anunciar o Evangelho para aqueles que nunca foram a uma Missa?
Ou mesmo que foram mas nem sabem do que se trata. Gente! Uma pessoa
que mora perto daqui, cliente da minha mãe, foi a uma Missa na
segunda feira. Até aí, normal. A pessoa que foi com ela veio
comentar depois que ela estava perguntando o que era uma missa. Essa
mulher, 20 anos de idade, não sabe o que é uma Missa. Mas, como
saberá se os heróis não vão ensinar?
Ah
se nós assumíssemos o nosso papel de heróis. O mundo seria
católico! Com toda certeza! Seria! Citei o exemplo de carismáticos
e pseudotradicionais (porque como disse um amigo: “Católico
Tradicional” é pleonasmo. Não se pode ser católico e negar a
Tradição, Magistério e a Sagrada Escritura) porque é algo
corriqueiro na internet. Mas essa briga entre si vale para grupo
contra grupo, movimento contra movimento, etc. Ah se os heróis
fossem unidos, sob o manto de seu Senhor, como venceriam o mundo.
Por
isso Bilbo foi escolhido. E é por isso que muitas vezes vemos Deus
escolher para grandes missões homens e mulheres que, humanamente
falando, são incapazes de fazer aquele trabalho. Homens e mulheres
analfabetos ou semianalfabetos, que não sabem falar direito, sem
classe, com um monte de problemas, com defeitos visíveis,
ignorantes, mas com o poder do Espírito Santo. Talvez fosse um herói
culto a desempenhar aquela missão, mas este preferiu brigar com
outros heróis. Então Deus escolhe os fracos para confundir os
fortes. Poderia citar nomes, por mais que meu interior peça, não os
citarei, pois sei que você, leitor, saberá ver quantos Bilbo's você
conhece que são capacitados heróis confundindo toda a lógica
humana.
Uma
vez um rad-trad da vida comentou, reclamando neste blog, que a RCC
enchia os bancos da Igreja com gente sem qualidade. Mas não era pra
isso mesmo que Jesus enviou os Apóstolos a pregar? Para que todos os
sem qualidades, ou seja, os pecadores se convertessem? Depois
adquirem a qualidade (virtude) e seguem. Mas, por outro lado, se
demoram a adquirir essa qualidade desejada, não seria porque
faltam-lhes heróis para transmiti-la? É, se esse herói gastasse
energia tentando salvar essas pessoas em vez de criticar outros
heróis... É, acho que entenderam o recado.
No
mais, meus queridos, vemos um mundo secularizado, paganizado, onde
vemos Cristo e Sua Igreja sendo achincalhada; possamos, portanto
parar de lutarmos uns contra os outros, e assumir a vocação
particular que Deus nos deu, colocando-nos a serviço do Reino de
Deus. Assumamos a graça do Espírito Santo em nossas vidas. Assim
cumpriremos o que Santa Catarina de Sena dizia: Jovens, se forem o
que deveis ser, incendiareis o mundo. Ou ainda: se morro,
morro de amor pela Igreja. Por um mundo com mais Catarinas de
Sena, Teresas de Ávila, Franciscos de Assis, Joões Paulo II...
Chega de novos Luteros dentro da Igreja! Precisamos de santos.
Ficar brigando uns contra os outros não ajudará a Igreja (Roma
falou causa encerrada – dizia Santo Agostinho. Obedeçamos a
Igreja, não aos nossos achismos ou gostos pessoais. A briga aqui não
é porque um “católico” diz ser comunista, sendo que a Igreja
proíbe, aí não, ai deve-se denunciar o lobo; a briga é que um
católico briga com o outro por ele ser católico: católico
significa universal, portanto, aquilo faz parte da Igreja. Aí por
conta da espiritualidade, da liturgia aprovada pela Igreja, pelo
jeito da outra pessoa, ficam-se gladiando... Aff), o que ajudará a
Igreja é a santidade. Fecha a boca e seja santo logo. “Só
sendo santa serei útil a Igreja” (Santa Faustina)
Ps:
nessa onda de heróis lutarem contra heróis, até o Padre Paulo
Ricardo virou herege na mente dos recalcados rad-trad's, pelo fato
dele pregar na Canção Nova. Normalmente os heróis malucos são
assim: X está ruim, aí aparece alguém em X fazendo algo bom, aí o
orgulho não deixa elogiar, X e o alguém não presta. Como diria
Chesterton: "O fanatismo consiste em um homem convencer-se de que outro deve estar errado em tudo, pelo fato de estar errado em alguma coisa." No nosso caso, a CN, a RCC, para os rad-trads, estam erradas em tudo (até quando leva o Padre Paulo), porque está errada em alguma coisa. E a lógica também vale pro contrário. Há quem se afaste dos ares da tradição, porque pseudo tradicionais estão errados em alguma coisa. Enfim, não sejamos heróis fanáticos; sejamos santos. Sejamos católicos! Ah! se nós tivermos a unidade na santidade!!!
Salve
Maria Imaculada, Mãe da Igreja!
3 comentários
Belo texto irmão parabéns!
ResponderExcluirSeria necessário chamar as pessoas de anta?Pe.Léo usava mto esta expressão....é pejorativo...NSra.chama seus filhos de:meus filhinhos....qta diferença....
ResponderExcluirPaz de Cristo irmão, quero te parabenizar por esse belo texto. Confesso que quando encontrei o seu texto tinha acabado de me deparar com um outro blog católico que criticava com unhas e dentes a RCC. Isso me entristeceu, pois sou do movimento e amo minha Igreja. Mas fiquei muito triste não por estarem criticando o movimento e sim por estarem fazendo justamente isso que vc falou, lutando entre si, ao invés de anunciar.
ResponderExcluirSeu texto foi um consolo e de grande valia para mim. Que Maria Santíssima interceda por sua missão, continue firme.
Paz e Bem.