Bispo do Brasil «marcado» para morrer por enfrentar o tráfico de pessoas.

by - dezembro 23, 2014

Se um dia morro por Cristo que morreu pelos pecadores, que morreu por mim, será od iamais feliz», expressou obispo de Marajó, Brasil, monsenhor José Azcona, que foi ameaçado de morte por enfrentar o tráfico de pessoas*. O prelado falou sobre «Deus, doador de todos os talentos» no colégio do Salvador, ante centenas de pessoas, em um encontro organizado pela Renovação Carismática Católica.
Por AICA/InfoCatólica | Tradução: Airton Vieira de Souza –Fratres in Unum.com«Penso na morte com frequência. Quando vou a minhas paróquias em uma embarcação pelos rios, com uma lancha rápida podem nos matar em menos de dois minutos com uma metralhadora», confessa, aludindo a suas visitas por sua diocese, um arquipélago de ilhas na desembocadura do Amazonas.
O diálogo, breve, mas íntimo e de tom confidencial, ocorre em um banquinho de um pátio do velho e renovado colégio jesuíta portenho de Salvador, pouco antes de que o bispo fale sobre «Deus, doador de todos os talentos» no salão de eventos ante centenas de pessoas, em um encontro organizado pela Renovação Carismática Católica de Buenos Aires.
Sacerdote agostiniano recoleto, nascido na Espanha há 74 anos, Dom Azcona chegou em 1985 como missionário à ilha de Marajó, onde dois anos depois foi nomeado bispo da prelazia desse nome.
Pedimos que nos conte sobre as ameaças de morte por sua luta contra o tráfico de pessoas, e responde com serenidade. «Tudo começou em 2007, quando um amigo me abriu os olhos para a realidade do tráfico humano desde Marajó, onde está nossa Prelazia.E também da exploração e abuso sexual de menores», disse.
«Me convenci de que tinha que enfrentar essa problemática, que é grave. Não só em Marajó, nossa região, que está no delta do Amazonas. É um problema nacional, já que a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) escolheu esta temática – o enfrentamento do tráfico humano — como campanha anual da fraternidade 2014 (cada ano se elege um tema). Este ano elegeu o enfrentamento do tráfico humano e em parte devido às exigências e pressões que nós – desde Marajó — temos feito a nível nacional».
Esclarece que não é um problema exclusivo de Marajó, ou da Amazônia, é de todo o território brasileiro: São Luís do Maranhão, Fortaleza (bem conhecida pelo famoso turismo sexual de menores), Recife, Natal, Bahia, Salvador, Rio de Janeiro, etc.
«Desde 2007, temos tratado de enfrentar isto em nossa prelazia – continua –. Eu apoiei a investigação e a destruição de uma pequena rede de tráfico entre as múltiplas redes de tráfico humano no Brasil. A partir de nossa região conhecemos rotas até a Holanda, Espanha, outras nações da Europa. Estamos a 600 quilômetros da Guiana francesa, que é uma província da França, e perto do Suriname.
«Isso me levou a uma luta interna para definir o ser e o ministério episcopal em uma região com este problema. Me perguntava se eu podia seguir permanecendo e sendo um bom bispo sem enfrentá-lo. Esta luta interna tinha a ver com o perigo de morte de que me avisaram.
«Foi a graça de Cristo que me convenceu de que se não era capaz de entrar nessas areias movediças deixava de ser um bom pastor.» O bispo teve conhecimento da ação destes grupos internacionais por um amigo que lhe abriu os olhos. Esse amigo se introduziu nestas redes e conseguiu que fosse preso um chefe. Foi dentro de um grupo que levava seis mulheres até a fronteira com o Suriname e a Polícia Federal do Brasil os deteve a todos.
«Como a impunidade e a força de organização destes grupos – nacionais, mas sobretudo internacionais — é muito grande – diz Dom Azcona –, este chefe esteve só um mês e meio na prisão. O soltaram. E ameaçou por telefone este amigo: «Vou te matar». Apareceu esta ameaça na revista Época, em março ou abril. Em agosto ou setembro estava eu em Belém, e recebi um chamado deste amigo. Gritando, me disse: «Monsenhor, tenha muito cuidado, tenha muito cuidado. Estão buscando a gente, tanto o senhor quanto a mim. Não tome ônibus, só táxi; não entre e saia de sua casa à mesma hora». E em 9 de dezembro o mataram a este amigo. Aí confirmei realmente que estava ameaçado».
Em 21 desse mês, em O Globo – periódico importante do Brasil, do Rio de Janeiro — em um título «Marcados para morrer» apareciam 16 pessoas, entre elas três bispos (Dom Azcona e outros dois bispos da mesma região, do Estado do Pará). O prelado esclarece que Marajó é um arquipélago dentro do Estado do Pará, onde estão também localizadas outras dioceses além da sua. «A partir daí, vi que minha vida estava em perigo mas a graça de Deus me permitiu chegar até aqui, para assumi-lo a nível nacional».
Além disso, recebeu ameaças e perigos por parte de alguns políticos, acrescenta, porque se opôs à pretensão mentirosa de utilizar o nome da Igreja Católica, como se apoiasse a um determinado político ou partido, e eles têm grupos de «capangas», gente paga para matar.
* Assista aqui a um documentário sobre o tema.

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